×

1 trem = 400 caminhões e custa 6x menos!: A matemática ignorada que matou os trens do Brasil

Com 9ª maior malha do mundo, mas baixa densidade, Brasil priorizou rodovias. Entenda por que os trens do Brasil foram deixados para trás e os custos disso.

O Brasil tem a 9ª maior malha ferroviária do mundo. Parece bom, mas não é. Nossa densidade férrea é muito baixa para nosso tamanho e exportações (ferro, alimentos). A França, menor, tem muito mais trilhos por km². Por que os trens do Brasil são tão escassos hoje? O que aconteceu com nossas ferrovias e por que não temos mais trens no Brasil?

O auge e o início do declínio dos trens no Brasil

A história das ferrovias brasileiras começou em 1828, ainda no Império. Mas os primeiros trilhos só saíram do papel em 1854, com Barão de Mauá no Rio de Janeiro. A malha cresceu bastante depois disso. Chegou a quase 29 mil km de extensão nos anos 20. E, surpreendentemente, continua quase com o mesmo tamanho até hoje.

O declínio começou no governo de Getúlio Vargas (década de 30). O foco mudou para a construção de rodovias. As ferrovias foram estatizadas. Juscelino Kubitschek (anos 50) tentou investir na ampliação, mas sem sucesso. Afundadas em dívidas e sem novos investimentos, as ferrovias estatais fecharam ramais. A malha brasileira foi desestruturada. A estatização e a má gestão pública foram cruciais para o abandono dos trens do Brasil.

A era das rodovias: Má gestão, lobby e os custos da escolha

1 trem = 400 caminhões e custa 6x menos!: A matemática ignorada que matou os trens do Brasil

A predominância das rodovias não foi uma escolha estratégica e pensada. Foi resultado de anos de má gestão. Construir estradas era mais fácil e barato. As ferrovias foram se deteriorando por falta de manutenção e competitividade. Suspeita-se de forte pressão de petroleiras e fabricantes de caminhões sobre o governo.

Ainda hoje, a má gestão afeta novos projetos ferroviários. Obras atrasam, sem projeção de custos ou prazos. O escândalo de superfaturamento da Ferrovia Norte-Sul (R$ 1 bilhão de rombo) é um exemplo. O Brasil é o único país do mundo com predomínio rodoviário. EUA, Rússia, Canadá, França, Alemanha e Índia têm redes ferroviárias mais desenvolvidas, mostrando que o problema não é tamanho ou riqueza, mas gestão.

Os problemas da dependência rodoviária no Brasil

As rodovias transportam 75% da carga total brasileira. Isso cria uma enorme vulnerabilidade. Uma paralisação, como a greve dos caminhoneiros de 2018 (causada pela alta do diesel), pode parar o país. O sistema depende de muitos fatores: preço do diesel, mão de obra (caminhoneiros), manutenção constante das estradas.

A manutenção via concessões gera riscos de corrupção e superfaturamento. A fiscalização é difícil. Todos esses problemas (pedágios, acidentes, corrupção, flutuação de custos) impactam diretamente o preço final das mercadorias para o consumidor. Todo produto tem custo de transporte embutido.

Ferrovias x rodovias: A vantagem ignorada dos trens no Brasil

Comparativamente, as ferrovias são mais vantajosas em muitos aspectos. Segundo a Abifer e o estudo da Ilos:

  • Custo: Transportar 1.000 toneladas por trem custa R$ 43/km, contra R$ 259/km por rodovia (6x mais caro).
  • Eficiência Energética: Caminhão consome 13x mais energia por tonelada/km.
  • Capacidade: 1 trilho equivale a 14 pistas de rodovia. 1 trem (200 vagões) carrega o mesmo que 400 carretas.
  • Impacto: Adicionar 1 trem de carga equivale a tirar até 280 caminhões das ruas.
  • Poluição: Ferrovias poluem menos, especialmente as elétricas.
  • Autonomia: Trens a diesel rodam mais de 1600 km sem reabastecer.

Apesar disso, a participação dos trens do Brasil no transporte de carga caiu (de >20% em 2006 para 15% atualmente), enquanto a das rodovias aumentou.

O futuro nos trilhos? Desafios e benefícios de mais trens para o Brasil

YouTube Video

Por que não se investe mais em ferrovias, mesmo com tantas vantagens? Segundo o IPEA, os desafios atuais são:

  • Alto custo de construção: Até 4x maior que rodovias.
  • Projetos em áreas urbanas: Geram impacto e risco de acidentes.
  • Concessões curtas: Prazo de 30 anos é pouco atraente para investidores (precisariam de 60 anos).
  • Trens de passageiros: Baixa densidade demográfica torna inviável na maior parte do país (exceções: ABC Paulista, Rio-SP).

Contudo, os benefícios de mais trens no Brasil seriam enormes: menos caminhões nas cidades, redução da poluição e roubos de carga, e economia de até 30% nos custos de transporte. A solução ideal seria um sistema integrado, usando trens, rodovias, hidrovias e ar onde cada um é mais eficiente. O problema central parece ser a falta de vontade política e visão de longo prazo, com projetos caros sendo abandonados entre governos.

FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS

Receba Notícias Em Seu Celular

Quero receber notícias no whatsapp