Lançado em 2005, a terceira geração do sedã era, na verdade, um projeto baseado no Opel Astra europeu, uma simplificação que frustrou fãs e manchou o legado de um dos carros mais desejados do Brasil.
O Chevrolet Vectra foi, por mais de uma década, um verdadeiro símbolo de status e sofisticação no mercado brasileiro. Suas duas primeiras gerações estabeleceram um padrão de design, tecnologia e prazer ao dirigir que o tornaram o carro que muitos aspiravam ter. Era a representação máxima do luxo acessível da gravata dourada.
Essa reputação, no entanto, foi abalada de forma contundente em 2005. Com a chegada da terceira geração, a promessa de evolução se transformou em uma das maiores polêmicas da indústria automotiva nacional. A percepção de que o “novo” Vectra era, na verdade, um projeto inferior disfarçado com um nome de prestígio, desencadeou uma onda de decepção que marcaria o fim de uma era.
Por que o Vectra B (1997-2005) era o sonho de consumo brasileiro?
Para entender a frustração, é preciso lembrar o que o Chevrolet Vectra B representava. Lançado em 1997, ele não era apenas um carro, era um marco. Com design europeu alinhado com a Opel, oferecia motores competentes como o 2.2 16V de 138 cv, que garantia um desempenho respeitável para a época.
Mas seu grande diferencial estava na engenharia refinada. O detalhe que mais impressionava era sua suspensão traseira do tipo multibraço (multi-link). Essa solução, muito mais sofisticada e cara que o eixo de torção comum em seus concorrentes, proporcionava uma estabilidade e conforto de rodagem exemplares. Foi essa combinação de estilo, performance e tecnologia superior que consolidou o Vectra B como o sedã médio de referência no Brasil.
O “novo” Chevrolet Vectra de 2005: a revelação de que era um Astra disfarçado

A expectativa para o sucessor do Vectra B era enorme, mas o que chegou às lojas em 2005 foi um balde de água fria para os mais atentos. A Chevrolet do Brasil promoveu o lançamento como uma grande evolução, mas a imprensa especializada e os entusiastas logo descobriram a verdade: o novo Chevrolet Vectra era um projeto desenvolvido sobre a plataforma do Opel Astra H europeu.
O Astra H era um bom carro, mas de uma categoria inferior. A manobra da GM foi esticar sua plataforma para dar ao carro as dimensões de um sedã médio e vendê-lo com o nome consagrado. Para piorar, a versão hatchback do Astra H foi lançada no Brasil como Vectra GT, reforçando a associação e diluindo qualquer argumento de que o sedã era um produto superior. A estratégia foi vista por muitos como marketing enganoso.
Suspensão rebaixada: a polêmica troca que enterrou a sofisticação do Vectra
O ponto mais sensível da “traição” foi, sem dúvida, a mudança na suspensão traseira. O novo modelo abandonou o aclamado sistema multibraço de seu antecessor e adotou um simples e barato eixo de torção. Tecnicamente, foi um retrocesso inegável.
Essa simplificação, vista em conjunto com a origem do projeto no Astra, confirmou a percepção de um “empobrecimento” geral do carro. O verdadeiro Opel Vectra C europeu, contemporâneo ao modelo brasileiro, mantinha a suspensão independente mais elaborada, o que serviu de comparação e aumentou a frustração dos fãs. A decisão removeu um elemento central do DNA do Chevrolet Vectra, trocando a excelência de engenharia por uma clara redução de custos.
A lógica da Chevrolet: por que a GM trocou a engenharia pela economia?

A decisão da General Motors não foi um acaso, mas uma estratégia de negócios focada na racionalização de custos para mercados emergentes como o Brasil. Produzir o sofisticado Opel Vectra C europeu aqui seria muito mais caro, tornando o carro menos competitivo frente a rivais como Toyota Corolla e Honda Civic.
Optar pela plataforma mais simples do Astra H permitiu à GM oferecer um “novo” Chevrolet Vectra com um preço mais agressivo. A montadora parece ter subestimado a lealdade e a capacidade de discernimento do consumidor brasileiro, que esperava uma evolução, não um retrocesso. A revista Quatro Rodas, anos depois, classificou a manobra como uma das “doze decisões equivocadas das marcas no Brasil”.
As vendas e o fim melancólico do nome Vectra
A reação do mercado foi um reflexo direto da decepção. O “novo” Chevrolet Vectra enfrentou dificuldades para competir com o recém-lançado Honda “New” Civic e o consolidado Toyota Corolla, que frequentemente venciam os comparativos da imprensa. As vendas, que já foram liderança absoluta no segmento, começaram a cair.
Um dado de 2011, no fim de seu ciclo de vida, é revelador: a versão topo de linha do Vectra registrou zero unidades vendidas em um mês, enquanto o Corolla vendia mais de 3 mil. Ironicamente, o antigo Astra sedã continuou em produção no Brasil até 2012, sobrevivendo ao modelo que deveria tê-lo substituído em prestígio. Em 2011, a Chevrolet encerrou a produção do Vectra, que foi sucedido pelo projeto global Cruze, pondo um fim melancólico a um nome que já foi sinônimo de excelência.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS