Teste em estrada de terra revela desempenho inesperado do icônico hatch da Volkswagen, comparado ao modelo de competição usado no Campeonato Brasileiro de Rali.
Uma experiência rara e histórica foi registrada no Brasil em setembro de 1989. O Volkswagen Gol GTI, lançado naquele ano com motor 2.0 e injeção eletrônica, foi colocado à prova em um trecho de terra e comparado ao modelo 1.6 preparado especialmente para ralis. O teste contou com a participação de ninguém menos que Reinaldo Varela, campeão brasileiro de rali, que não escondeu a surpresa com a performance do modelo de rua em condições extremas.
A avaliação técnica revelou mais do que uma simples curiosidade automotiva — ela mostrou o potencial do Gol GTI mesmo fora do asfalto, revelando detalhes mecânicos, ajustes e dados reais que ajudam a entender por que o carro se tornou um símbolo da indústria brasileira.
Piloto testa o GTI na terra e aponta desempenho positivo
Durante um trecho do Rali Intelbrás de 1989, Varela, que na época já liderava o campeonato nacional, pilotou o Gol GTI original em uma estrada de terra na cidade de Pirapora, em São Paulo.
Segundo o piloto, o desempenho do GTI superou as expectativas, mesmo em um ambiente para o qual não foi originalmente projetado. O motor de 2.0 litros com 120 cavalos mostrou força e boa resposta, embora com um torque em baixa rotação considerado limitado para uso em competições de rali.
Apesar disso, Varela deixou claro: “Fiquei positivamente impressionado. Se o regulamento mudar e liberarem motores de 2.0 litros, eu quero um desses.”
Comparativo com o Gol 1.6 de rali revela surpresas
No mesmo mês em que o teste ocorreu, o Gol 1.6 preparado especialmente para o rali disputou a 4ª etapa do campeonato sul-americano em Florianópolis, Santa Catarina.
Equipado com relação de coroa e pinhão reduzida para 9,41:1 e marchas encurtadas, o modelo de competição terminou em segundo lugar na etapa. O vencedor, também a bordo de um Gol, era a dupla Fuchter e Costa.
Apesar da diferença de preparação, o Gol GTI mostrou números de desempenho muito próximos ao modelo oficial de rali. Com aceleração de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos e velocidade máxima de 184 km/h, ele conseguiu acompanhar o ritmo, segundo avaliação do próprio Varela.
Suspensão e motor destacam qualidades do GTI na terra
O carro de competição utilizava suspensão reforçada, com estrutura monobloco mantida, característica elogiada por Varela. A dirigibilidade em curvas de baixa e a tração em subidas íngremes foram pontos fortes do GTI, que, mesmo sem modificações, enfrentou bem o percurso.
Por outro lado, o modelo de rali aproveitava vantagem em trechos travados e usava a suspensão como fator diferencial, além da sua leveza e da preparação voltada para o piso irregular. Ainda assim, o GTI manteve-se competitivo e surpreendente.
Tabela técnica reforça comparativo entre versões
Característica | Gol 1.6 de rali | Gol GTI de rua |
---|---|---|
Motor | 1.6 AP, preparado | 2.0 AP, original |
Potência | Cerca de 100 cv | 120 cv |
0 a 100 km/h | Levemente superior | 9,8 segundos |
Velocidade máxima | 190 km/h (estimado) | 184 km/h |
Câmbio | Relações encurtadas | Original de fábrica |
Suspensão | Reforçada para rali | Original |
Evento de 1989 entra para a história do automobilismo brasileiro
A rara oportunidade de comparar o modelo esportivo da linha de produção com um carro de competição destacou a versatilidade do Gol, que já era sucesso comercial à época. O GTI foi o primeiro carro nacional com injeção eletrônica e inaugurou uma nova fase no mercado nacional.
Lançado oficialmente em 1988 e com vendas iniciadas no início de 1989, o GTI rapidamente se tornou referência em desempenho e inovação, marcando época na indústria automotiva brasileira.
O evento de Pirapora, ocorrido logo após a etapa do rali em Florianópolis, trouxe uma avaliação realista e honesta do potencial do modelo fora de sua zona de conforto, algo raramente documentado com esse nível de detalhe.
Repercussão do teste e impacto para a Volkswagen
O sucesso do GTI nesse teste improvisado serviu como propaganda natural para a Volkswagen, que via no modelo uma vitrine tecnológica. A capacidade de enfrentar a terra com competência aumentou ainda mais o prestígio do hatch junto ao público jovem, especialmente os apaixonados por velocidade.
Embora a fábrica nunca tenha desenvolvido uma versão oficial de rali com o motor 2.0, o episódio de 1989 alimentou especulações e inspirou preparadores independentes em todo o Brasil nos anos seguintes.
O Gol GTI pode voltar às trilhas?
A possibilidade de revisitar o conceito do Gol GTI em terrenos fora do asfalto depende da mudança de regulamentos técnicos. Caso liberem motores 2.0 para categorias de rali de entrada, especialistas apontam que uma releitura moderna poderia reaproveitar a base de sucesso do modelo original.
Enquanto isso, o Gol GTI de 1989 segue sendo cultuado como um marco de tecnologia nacional, lembrado não apenas pelo design e desempenho nas ruas, mas também por seu desempenho improvável em trilhas e competições não planejadas.
Se as competições permitissem hoje um modelo como esse, com os avanços atuais, ele teria chances reais de dominar novamente? O que você acha: vale investir em uma nova geração para trilhas ou manter o GTI como lenda das ruas?
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS