Entenda a controversa teoria do tempo fantasma que alega que 297 anos da Idade Média nunca existiram e por que a ciência e a história provam que ela está errada.
Você já imaginou que estamos vivendo no século XVIII e não no XXI? Essa é a alegação central de uma das mais fascinantes pseudohistórias da internet: a teoria do tempo fantasma. Proposta nos anos 90, ela afirma que quase 300 anos da nossa história foram simplesmente inventados por uma conspiração de líderes poderosos. A consequência seria chocante, apagando da existência figuras como o imperador Carlos Magno.
Apesar de ser uma ideia intrigante que viralizou em fóruns online, a teoria do tempo fantasma é completamente rejeitada por historiadores e cientistas. Evidências vindas da astronomia, da arqueologia e de registros históricos de civilizações fora da Europa desmentem categoricamente a hipótese. Entenda os argumentos dessa teoria e por que eles não se sustentam.
O que é a teoria do tempo fantasma e quem a criou em 1991?
A teoria do tempo fantasma foi proposta em 1991 pelo historiador amador alemão Heribert Illig. A sua tese é direta: o período de 297 anos entre 614 d.C. e 911 d.C. é uma farsa. Segundo ele, esses anos foram artificialmente inseridos no nosso calendário.
Essa ideia explora a noção popular de que a Alta Idade Média foi uma “Idade das Trevas”, um período de estagnação, o que tornaria a ideia de um “vazio” no tempo mais fácil de aceitar. Se a teoria fosse verdade, eventos e figuras históricas monumentais que viveram nesse intervalo seriam, na melhor das hipóteses, mal datados ou, na pior, puras invenções.
Por que o Imperador Otão III teria inventado 297 anos de história?

Para uma farsa dessa magnitude, seria necessária uma conspiração no mais alto nível. Illig aponta os supostos arquitetos: o Sacro Imperador Romano Otão III, o Papa Silvestre II e, possivelmente, o Imperador Bizantino Constantino VII.
O principal motivo, segundo a teoria, era o desejo de Otão III de que seu reinado acontecesse no ano simbolicamente poderoso de 1000 d.C., exatamente um milênio após o nascimento de Cristo. Além disso, a conspiração teria reescrito a história para criar uma linhagem falsa que legitimasse o poder de Otão III. A vítima mais famosa dessa fabricação seria Carlos Magno, o “Pai da Europa”, cujo reinado (768-814 d.C.) e todo o Império Carolíngio seriam eliminados da história.
O erro no calendário e a falta de arqueologia na “Idade das Trevas”
Heribert Illig baseia sua hipótese em alguns argumentos principais para tentar validar sua teoria. Os mais conhecidos são a discrepância do calendário e uma suposta falta de evidências materiais.
O argumento mais técnico foca na reforma do calendário gregoriano, em 1582. O calendário anterior, o juliano, acumulava um erro de um dia a cada 128 anos. Illig calculou que, entre 45 a.C. e 1582 d.C., o erro deveria ser de 13 dias. No entanto, o Papa Gregório XIII removeu apenas 10 dias. Para Illig, os três dias “faltantes” corresponderiam aos três séculos inventados. Além disso, ele alega que há uma escassez de achados arqueológicos do período de 614 a 911 d.C.
A ciência desmente: Como eclipses solares e anéis de árvores provam que o tempo não foi alterado

A teoria do tempo fantasma desmorona quando confrontada com evidências de campos científicos independentes. A astronomia é uma das provas mais fortes.
Eclipses e cometas: astrônomos podem calcular com precisão a data de eclipses e a passagem de cometas no passado. Registros históricos de várias culturas, como a chinesa e a europeia, documentaram eclipses durante o suposto “tempo fantasma”, e essas datas batem perfeitamente com os cálculos modernos. A passagem do Cometa Halley, que tem um ciclo de 75-76 anos, foi registrada em 684, 760 e 837 d.C., criando uma linha do tempo cósmica ininterrupta.
Anéis de árvores (Dendrocronologia): cientistas criaram cronologias contínuas que remontam a milhares de anos analisando os anéis de crescimento das árvores. Para a Europa, essa cronologia é ininterrupta e não mostra nenhuma lacuna de 297 anos.
A história contínua da China e do Império Islâmico que anula a teoria

A falha mais fatal da teoria é seu foco exclusivo na Europa. Enquanto a Europa vivia a Idade Média, outras grandes civilizações floresciam e mantinham registros detalhados de sua história.
A China e a Dinastia Tang: o período do suposto “tempo fantasma” coincide quase perfeitamente com a Dinastia Tang (618-907 d.C.), uma das eras de ouro da China. Existem registros contínuos de seus imperadores, guerras, cultura e inovações.
A Expansão Islâmica: a vida do Profeta Maomé (falecido em 632 d.C.) e a rápida expansão do Islão estão entre os eventos mais bem documentados da história mundial, ocorrendo exatamente dentro do período que Illig alega ser falso.
A Batalha de Talas (751 d.C.): este confronto militar entre a Dinastia Tang e o Califado Abássida foi registrado de forma independente por árabes e chineses. A batalha é um ponto de contato histórico irrefutável que sincroniza as linhas do tempo de duas grandes civilizações, provando que o ano de 751 d.C. de fato existiu.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS