“Se ela não viesse ao mundo, ai de nós o que seria”. A frase, escrita em meio a rosas vermelhas e papel envelhecido, já anuncia: o que acontecerá no próximo domingo, 6 de julho, em Conselheiro Lafaiete, não é apenas uma celebração. É um renascimento. Um retorno. Uma memória viva que brota da terra, da pele, do tambor e da devoção.
Pela primeira vez, Lafaiete será palco da Festa de Todos os Santos Negros do Rosário, um evento inédito que marca a força e a beleza da fé afro-brasileira em sua expressão mais genuína. A concentração será na Rua Elza Oliveira de Figueiredo, 157, no bairro Parque Montreal, com chegada das Guardas prevista para as 8 horas da manhã.
As Guardas de Congo e Moçambique, vestidas com cores vivas e símbolos centenários, darão o tom da festa, ecoando os sons dos tambores e das caixas que atravessaram gerações. Crianças, jovens, mulheres e anciãos estarão juntos na caminhada, em uma mistura de dança, fé, resistência e celebração da identidade negra.
Mais do que uma manifestação folclórica, essa festa carrega um profundo significado espiritual. Os Santos Negros, como São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, são reverenciados desde o período colonial por comunidades afrodescendentes como símbolos de proteção, cura e liberdade. A devoção se manifesta por meio de músicas, cantos, rezas, cores e rituais que resistiram ao tempo, mesmo quando proibidos, silenciados ou marginalizados.
Em Lafaiete, o evento ganha contornos históricos. É a primeira vez que a Banda Dançante do Rosário de Santa Efigênia se apresenta na cidade, fortalecendo o elo entre fé e cultura, e trazendo esperança de que a tradição volte a florescer. A escolha das rosas na arte da divulgação não foi por acaso: além de beleza, elas representam a doçura e a dor da caminhada ancestral, o amor à Mãe do Rosário e a firmeza dos que nunca deixaram a tradição morrer.
A Festa de Todos os Santos Negros do Rosário não é apenas um evento religioso. É também um gesto político, educativo e afetivo. É um convite para que Lafaiete conheça, valorize e abrace a história dos que construíram, com suor e fé, os alicerces da cultura brasileira.
Neste domingo, entre flores e fé, a cidade ouvirá um chamado antigo — e, talvez, sinta-se transformada por ele.
