Projeções indicam que a floresta pode enfrentar secas quentes e prolongadas, com impacto direto na sobrevivência das árvores e na manutenção do bioma.
O Brasil reúne grande diversidade climática, com seis tipos principais reconhecidos por especialistas. Mesmo assim, esse cenário pode mudar nas próximas décadas.
Há previsão de um período de secas quentes e prolongadas capaz de comprometer a sobrevivência de árvores na Amazônia. A preocupação aumenta porque essa condição pode alterar o funcionamento básico da floresta, afetando a água disponível e a capacidade de manter a vegetação viva.
Pesquisas recentes apontam a possibilidade de a atmosfera da floresta amazônica evoluir para um regime hipertropical até o fim do século. Isso significa um ambiente mais quente que 99% dos climas tropicais, associado a secas intensas.
O que aconteceu e por que isso chamou atenção
O alerta gira em torno do surgimento de uma condição atmosférica com características ainda não observadas no Brasil. A combinação de calor elevado e longos períodos sem chuva tende a pressionar a floresta em vários níveis.
Climas semelhantes só foram registrados nos trópicos entre 10 e 40 milhões de anos atrás. Esse intervalo reforça a ideia de que o cenário projetado representa uma mudança forte no padrão climático conhecido na região.
Até 2100, há estimativa de ocorrência de períodos extensos de seca na Amazônia. Nesse formato, o clima pode se espalhar por até 150 dias por ano, ampliando o estresse sobre a vegetação.

O que muda na prática para a floresta amazônica
Quando a seca se repete e se prolonga, a floresta perde parte da capacidade de se manter estável. Isso envolve desde a disponibilidade de água no solo até o equilíbrio de temperatura dentro da copa.
A intensificação do calor torna mais difícil sustentar processos vitais das árvores. A consequência prática é um risco maior de perda de biomassa e de enfraquecimento de áreas que hoje ainda resistem.
As projeções também associam secas frequentes e intensas a um aumento de 55% na mortalidade das árvores. Esse indicador amplia o sinal de alerta porque aponta para perdas em escala relevante.
O que foi verificado na pesquisa com árvores monitoradas
O monitoramento de biomassa na floresta é feito há mais de 30 anos por equipes do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o INPA, em Manaus.
Durante as análises do movimento das águas, de minuto em minuto, dentro de 87 árvores, os resultados foram integrados a características do solo e à temperatura dentro da copa.
Com temperaturas elevadas, ficou comprovado que, durante secas intensas, a fotossíntese é prejudicada. Isso reduz a capacidade de crescimento e manutenção das árvores, justamente quando a demanda por água é mais crítica.

Como o calor afeta a fotossíntese e a troca de gases
Em ambientes quentes demais, os estômatos se fecham para evitar a perda de vapor de água. Esses poros são responsáveis por absorver carbono da atmosfera, o que influencia diretamente a fotossíntese.
Quando os estômatos permanecem fechados por mais tempo, a árvore reduz a entrada de carbono e perde eficiência na produção de energia. Na prática, a planta entra em um modo de sobrevivência que limita seu funcionamento normal.
Esse mecanismo protege contra a desidratação imediata, mas aumenta a vulnerabilidade quando a seca se estende. O resultado tende a ser um período mais longo de estresse fisiológico.
O que pode acontecer quando a umidade do solo cai demais
Existe um ponto em que o solo fica seco a um nível crítico. Quando a umidade do solo cai para menos de um terço, as árvores podem morrer por outro caminho.
Nesse cenário, há risco de desenvolvimento de embolismos, que são bolhas de ar na seiva. Esse problema interrompe o transporte de água dentro da planta, dificultando a recuperação mesmo quando a chuva volta.
A combinação de calor persistente, baixa umidade do solo e embolismos cria um ambiente mais hostil para a sobrevivência de árvores, com potencial de ampliar perdas em períodos de seca intensa.

Pontos de atenção e dúvidas comuns
O termo regime hipertropical indica um padrão climático extremamente quente dentro do universo de climas tropicais. A ideia central é que a floresta pode passar a conviver com calor e secas intensas em frequência maior.
Outra preocupação é o tempo de exposição a esse estresse. A projeção de até 150 dias por ano nesse padrão aumenta o risco de danos acumulados, já que a vegetação teria menos tempo para se recuperar.
Também chama atenção o intervalo histórico de referência, entre 10 e 40 milhões de anos, que mostra como esse tipo de condição é raro no registro climático dos trópicos.
A Amazônia pode enfrentar, até 2100, um cenário mais quente e com secas prolongadas, associado ao regime hipertropical. Esse quadro tende a elevar o risco de mortalidade de árvores e a comprometer a estabilidade do bioma.
O monitoramento de 87 árvores e a observação de efeitos na fotossíntese, nos estômatos e no risco de embolismos mostram como o calor e a falta de água atingem processos vitais. Com secas mais frequentes, o impacto pode se espalhar e ganhar força ao longo do século.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS




