Modelos criticados pelo visual seguem valorizados no mercado de usados por motivos práticos como confiabilidade, custo de manutenção e facilidade de revenda, mostrando que estética nem sempre define o sucesso de um carro ao longo do tempo.
Nem sempre o desenho que divide opiniões impede um carro de virar “queridinho” no mercado de usados.
Em um segmento em que confiança mecânica, manutenção previsível e facilidade de revenda costumam pesar mais do que estética, alguns modelos com visual frequentemente chamado de controverso ganham espaço e, em certos casos, chegam a ser disputados quando aparecem em bom estado.
Essa lógica contrasta com uma frase atribuída ao executivo Sérgio Habib em uma entrevista antiga, quando ele atuava no setor automotivo.
Segundo o relato, ele afirmou que brasileiros “gostam de carros bonitos” e que “carro feio, no Brasil, não vende”.
A observação ajuda a abrir o debate, mas a própria paisagem das ruas e o comportamento do comprador de seminovos mostram que o critério “beleza” raramente manda sozinho.
A seguir, cinco exemplos de veículos que costumam ser citados como pouco atraentes por parte do público, mas que mantêm demanda no usado por atributos práticos como robustez, simplicidade e liquidez.
Toyota Etios no mercado de usados
O Toyota Etios entrou no mercado carregando o estigma do visual e virou alvo de comparações com concorrentes da época.
Ainda assim, o modelo acumulou argumentos que ganharam peso com o passar dos anos, especialmente entre quem compra carro pensando no custo total de uso.
Na linha 2017, o Etios recebeu mudanças relevantes para a vida real do proprietário, como atualização de conjunto mecânico e a chegada de câmbio automático, além de alterações no painel.
Mais adiante, a gama passou a oferecer controles eletrônicos de estabilidade e tração, itens que mudaram a percepção de segurança e modernização do modelo.

No mercado de usados, o que empurra o Etios para cima é o pacote associado à marca Toyota.
Pesam fatores como expectativa de durabilidade, mecânica simples e reputação de manutenção previsível.
Com isso, a aparência, para muitos compradores, vira detalhe secundário diante da facilidade de revenda.
Chevrolet Cobalt e a força da mecânica conhecida
O Chevrolet Cobalt é outro caso em que o desenho, sobretudo na dianteira das primeiras fases, costuma provocar estranhamento.Play Video
Mesmo assim, o sedã encontrou público por um conjunto que atende bem a quem prioriza funcionalidade.
Por dentro, o Cobalt entrega bom espaço para passageiros e porta-malas generoso, características valorizadas por famílias e motoristas que rodam muito.
Além disso, parte da atratividade vem do uso de motores da linha mais tradicional da Chevrolet no Brasil, associados a manutenção simples e ampla oferta de peças.

Esse ponto pesa em um país com realidades muito diferentes entre capitais e cidades do interior.
Em regiões onde a rede de oficinas independentes é a principal alternativa, carros com mecânica difundida tendem a ficar menos tempo parados por falta de reparo ou peça.
Isso ajuda a sustentar a liquidez no mercado de usados.
Entre as versões mais procuradas, aparecem as configurações com câmbio automático, oferecidas no início da década passada em conjunto com o motor 1.8.
Mesmo assim, as versões manuais continuam encontrando compradores com relativa facilidade.
Fiat Uno Mille e o apelo da simplicidade
A linha Uno é um ícone do mercado brasileiro, mas o Mille em sua fase final recebeu mudanças estéticas que nem sempre agradaram.
O modelo, que já carregava décadas de estrada, ganhou uma reestilização no início dos anos 2000 que alterou a frente e mexeu com a harmonia do desenho original.
Apesar disso, o Mille seguiu relevante por um motivo objetivo.
Era um dos caminhos mais acessíveis para quem precisava de um carro simples, fácil de consertar e barato de manter.

Na prática, o consumidor que buscava um veículo para enfrentar uso pesado e rotina de trabalho nem sempre estava disposto a pagar mais apenas por um design mais atual.
A despedida aconteceu por uma mudança regulatória.
A obrigatoriedade de freios ABS e airbag duplo frontal em veículos novos vendidos no Brasil entrou em vigor a partir de 2014.
Isso pressionou projetos antigos que não tinham como absorver o pacote de segurança mantendo o preço baixo.
Com isso, o Mille saiu de cena como produto novo, mas permaneceu vivo no mercado de usados.
A procura se explica por um pacote conhecido.
Mecânica simples, grande capilaridade de peças e manutenção e histórico de uso intenso seguem atraindo compradores.
Corolla nacional antigo e valorização constante
A presença de um Corolla nesta lista pode surpreender, já que o sedã costuma ter imagem de carro desejado. Aqui, porém, o recorte é específico.
A geração que inaugurou a produção brasileira, feita entre 1998 e 2002, ficou marcada por linhas mais retas e conservadoras do que alguns rivais do período.
A escolha pelo desenho mais discreto fazia parte de uma estratégia para agradar um público amplo.
Isso deixou o carro visualmente menos chamativo frente a sedãs com proposta mais moderna na época.
Com o tempo, a percepção mudou.
O que poderia soar sem graça para alguns virou, para outros, um sinal de sobriedade e envelhecimento menos datado.
No usado, essa geração do Corolla é frequentemente procurada pela combinação de reputação de confiabilidade e durabilidade mecânica.
Unidades bem conservadas tendem a chamar atenção e costumam sair rapidamente.

Hyundai Creta e a estética que divide opiniões
Entre os exemplos mais recentes, o Hyundai Creta mostra como o mercado pode separar opinião sobre design de decisão de compra.
O SUV consolidou presença nas vendas e manteve força comercial mesmo após mudanças estéticas que dividiram o público.
A discussão sobre faróis, grade e lanternas ganhou espaço.
Ainda assim, a procura continuou, alimentada por fatores práticos.

Pesam posição de dirigir elevada, bom espaço interno, oferta de versões automáticas e versatilidade para uso urbano e rodoviário.
No universo dos usados, versões com motor 2.0 aspirado aparecem como opção valorizada por parte dos compradores.
O motivo está na mecânica mais conhecida e na manutenção potencialmente mais direta, desde que o carro tenha histórico de revisões e bom estado geral.
Mesmo assim, preço, quilometragem, conservação e equipamentos costumam pesar mais do que a estética no momento da negociação.
No fim das contas, quando esses modelos trocam de dono com rapidez, o que vale mais para a maioria dos compradores: o desenho que chama atenção ou o conjunto que evita dor de cabeça no dia a dia?




