O golpe que devorou a economia de 40 mil brasileiros: Esquema vendido como criação de avestruzes usou CPRs para captar dinheiro, entrou em colapso e terminou com bloqueio de bens e investidores sem ressarcimento
A Avestruz Master, de Goiânia, virou febre no fim dos anos 90 e no início dos anos 2000 ao vender a ideia de ganhos rápidos com criação de avestruzes. O negócio atraiu milhares de pessoas e prometia retorno de até 11% ao mês.
O colapso veio em novembro de 2005, quando pagamentos começaram a falhar e cheques voltaram sem fundos. A falência foi decretada e o rombo chegou a R$ 1 bilhão, com um rastro de prejuízo para investidores.
O caso se consolidou como um exemplo de pirâmide financeira travestida de agronegócio, com publicidade pesada, promessa de recompra e um modelo que dependia da entrada constante de novos participantes.
Pirâmide financeira: estrutura passou a depender do dinheiro de novos investidores para manter os pagamentos dos antigos
A empresa vendeu a imagem de um negócio moderno, ligado à carne, couro, penas e filhotes de avestruz. A proposta parecia simples: investir na criação, receber rendimentos mensais e ainda contar com a recompra do animal.
O apelo cresceu com propaganda em mídia de grande alcance e eventos de divulgação. A operação ganhou escala e espalhou a sensação de segurança por envolver um bem físico, com fazendas que podiam ser visitadas.
O problema é que a conta não fechava. A estrutura passou a depender do dinheiro de novos investidores para manter os pagamentos dos antigos, característica típica de pirâmide financeira.
Como funcionava o investimento com CPRs e a promessa de recompra
A Avestruz Master vendia Certificados de Produto Rural, CPRs, títulos que em tese garantiam a propriedade de um casal de avestruzes. O investidor comprava o título e a empresa ficava responsável por cuidar das aves.
O ponto central era a promessa de recomprar os animais, pagando rendimentos mensais que chegavam a 11% ao mês. Isso criava a sensação de lucro fácil e previsível.
Na prática, o fluxo era sustentado por novas entradas. O dinheiro de quem chegava depois financiava os pagamentos de quem já estava no sistema, enquanto a venda de títulos continuava em ritmo acelerado.
Por que tanta gente caiu no golpe e o que alimentou a confiança
O retorno prometido estava muito acima do padrão de mercado, o que por si só atraía atenção. Muita gente reinvestia o que recebia, ampliando a exposição e aumentando o tamanho do risco.
A imagem pública dos sócios também ajudou a reforçar credibilidade. A ostentação com carros como Ferrari e Mercedes, além de investimentos pesados em publicidade, criava uma vitrine de sucesso.
Outro fator era a ideia de lastro físico. As visitas às fazendas reforçavam a crença de que havia aves suficientes para sustentar o negócio, mesmo com uma diferença relevante entre o que era vendido e o que existia.
Comissão de Valores Mobiliários, CVM também entrou no radar: Como a fraude foi descoberta e quem entrou na história

As suspeitas cresceram após denúncias e levaram o Procon de Goiás a checar informações nas fazendas. A constatação foi direta: o número real de aves era menor do que o informado.
A Comissão de Valores Mobiliários, CVM também entrou no radar porque a venda de contratos com promessa de rentabilidade caracteriza atividade financeira. A operação deixava de ser apenas um tema rural e passava a envolver regras do mercado de capitais.Play Video
Um laudo da Polícia Federal expôs um contraste marcante em 2004: gasto de R$ 4 milhões com publicidade e apenas R$ 100 mil com ração para as aves, sinalizando prioridades incompatíveis com a narrativa do negócio.
O colapso em 2005, a fuga e a corrida pelas fazendas
Em novembro de 2005, os cheques começaram a voltar sem fundos e os pagamentos pararam. A sede amanheceu fechada e os sócios fundadores fugiram para o Paraguai.
A quebra gerou desespero imediato. Muitos investidores foram até as fazendas tentando resgatar aves e reduzir o prejuízo, na esperança de transformar o suposto bem em algum retorno.
A Justiça decretou a falência do grupo e determinou apreensão de bens. Entre os itens citados estavam carros de luxo e um helicóptero, que depois entraram em processos de bloqueio e leilão.
O que aconteceu com o dinheiro e por que quase ninguém recuperou valores
A dívida total somava R$ 1 bilhão, mas os leilões dos bens apreendidos arrecadaram apenas R$ 18 milhões. Esse valor foi direcionado para dívidas trabalhistas e impostos, que têm prioridade legal.
Para os cerca de 40 mil investidores, o prejuízo ficou praticamente integral. Mesmo com processos envolvendo fraudes, o caminho para ressarcimento não avançou.
Um processo criminal foi extinto em 2022 por prescrição, encerrando a possibilidade de punição naquele caso e reduzindo ainda mais as expectativas de retorno financeiro.
Investimento: O que fica de alerta para quem busca ganhos rápidos
O caso mostra como promessas de rentabilidade fixa e muito acima do mercado podem esconder um modelo insustentável. A presença de um bem físico e a possibilidade de visita a fazendas não garantem que exista lastro real para tudo o que é vendido.
Outro ponto é a estrutura de recompra garantida e pagamentos mensais elevados. Quando o dinheiro depende de novos aportes, qualquer desaceleração derruba o sistema e o prejuízo se espalha rapidamente.
A história também expõe o peso do marketing em golpes financeiros. Publicidade forte, imagem de sucesso e discursos bem construídos podem criar confiança mesmo quando o modelo não se sustenta.
No auge, a Avestruz Master convenceu milhares de pessoas de que a criação de avestruzes renderia ganhos de até 11% ao mês. O fim veio com a falência em 2005 e um rombo estimado em R$ 1 bilhão.
Mesmo com apreensão e leilões, a arrecadação ficou em R$ 18 milhões, usada para prioridades legais, e os 40 mil investidores seguiram sem ressarcimento. O encerramento de um processo em 2022 por prescrição reforçou a marca de um prejuízo que ficou para trás.




