GARIMPANDO
NO ARQUIVO “JAIR NORONHA”
Avelina Maria Noronha de Almeida
MAIS UMA RUA DE ALMA ENCANTADORA – 8
De minha residência, quase em frente à Casa da Cultura, só um pouco para cima, entrando pela janela da copa, vinda do Fórum, aquela voz forte, eu sabia logo que era ele quem estava fazendo uma defesa. E se prestasse bem a atenção, com um pouco de esforço conseguia até distinguir as palavras que ele proferia no ardor da discussão.
Continuando a falar da Rua Coronel João Gomes, focalizando a casa de Caetano Balbino da Silveira e de D. Ritinha, e demorando a atenção para o advogado Dr. Miguel Lobo, quero justificar a minha demora nesta casa que foi abençoada e constitui parte essencial da alma encantada do logradouro pela variedade de forças culturais que emanaram da família que ali se formou: professora, artista da agulha e da cozinha, dentista, advogados, médico e padre, todos excelentes em sua especialidade e que, devido à passagem do tempo, são desconhecidos pelas gerações mais novas. Pelo seu valor, merecem um bom resgate.
No excelente livro de José de Assis Silva, irmão da acadêmica Lucy Silva, intitulado “Lafaiete DE GETÚLIO A JK – TRÊS DÉCADAS DA VIDA DE UMA CIDADE”, que todo lafaietense deveria ler para se deliciar com um período da história de nossa terra escrita de forma viva, ao mesmo tempo culta e acessível, com fatos verídicos e às vezes até pitorescos, há um trecho que também revela a figura do advogado Miguel Lobo:
“Do outro lado da Avenida Benedito Valadares (nome que na época tinha a Avenida Prefeito Mário Rodrigues Pereira) iniciava a Rua Assis Andrade. A primeira casa à esquerda era do advogado Miguel Lobo da Silveira.
O Dr. Miguel era um dos mais conceituados advogados da cidade. Porém impulsivo, nervoso, agitado na defesa dos seus clientes, como anteriormente já mencionado. Nas sessões de júri, por exemplo, tratava impetuosas discussões com o advogado contrário ou promotor. O Dr. José Maria de Lima Torres, Promotor de Justiça, inteligente, culto, de fala mansa, conhecedor do gênio inflamado do Dr. Miguel, gostava de incitá-lo, adotando o que o filósofo Arthur Schopenhauer chamou de estratagema dialético,ou seja, consiste em ‘encolerizar o adversário provocando-lhe fúria para que ele não seja capaz de raciocinar de maneira equilibrada’.”
De minha residência, quase em frente à Casa da Cultura, só um pouco para cima, entrando pela janela da copa, vinda do Fórum, aquela voz forte, eu sabia logo que era ele quem estava fazendo uma defesa. E se prestasse bem a atenção, com um pouco de esforço conseguia até distinguir as palavras que ele proferia no ardor da discussão.
Dr. Cireno era um médico afamado, uma das sumidades da Medicina em nossa cidade. Teve uma clientela fiel, cativa de sua competência e dedicação. Uma das forças do Hospital Queluz enquanto viveu, trabalhando ativamente até sua morte repentina.
Pedro era um competente dentista.
Mas quem vem agora, Padre José da Silveira Lobo, foi uma figura forte, cuja atuação extrapolou os limites de sua terra natal, sendo venerado por muita gente, talvez mais conhecido em outros lugares do que em Conselheiro Lafaiete. Em todo o caso, ao menos seu nome é bem conhecido pela nossa população, pois foi dado a uma rua longa, pois o último número no catálogo é 575. Muito concorrida linha de ônibus passa nela Além disso, há vários estabelecimentos comerciais e de outras atividades.
Para dar hoje uma ligeira visão de seu valor, transcrevo uma notícia publicada há muitos anos em um jornal:
“PADRE SILVEIRA LOBO
“Por iniciativa do Vereador Nei Otaviano, com assento à Câmara Municipal de Belo Horizonte, foi convertido em lei o projeto segundo o qual aquele vereador propunha que se desse o nome de ‘Padre Silveira Lobo’ a uma das ruas da Capital do Estado.”
Por aí se pode ver a importância desse lafaietense que nasceu e passou sua infância na Rua Coronel João Gomes.
(Continua)