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Serra da Moeda

Continuando a serie sobre Serra da Moeda, vamos contar um pouco da história da fortaleza fábrica que usava as cunhagens roubadas das Casas de Fundição para cunhar moedas ouro. Uma quadrilha criminosa organizada que burlava o fisco da Coroa Portuguesa e levava para a Europa milhares de moedas contrabandeadas para o porto de Amsterdam na Holanda. Para manter o silencio e a disciplina dos envolvidos no esquema fraudulento um Código de Honra foi implantado pelo chefe dos falsificadores, Inácio Ferreira, onde a morte era o destino de quem traísse o bando. O negócio ilícito aos pés da Serra era bem organizado e contava com pessoas influentes no Governo de Minas, na Igreja, nas Câmaras e na Coroa. Foi um negócio da china que acabou sendo descoberto pela coroa portuguesa através do delator-sócio Francisco Borges de Carvalho.

Por João Vicente

Parte 3 –  A Fortaleza de moedas de ouro falsificadas

O Vale do Paraopeba é marcado pela passagem da grande bandeira de Fernão Dias Paes Leme, bandeirante pioneiro no desbravamento do interior das Gerais, na segunda metade do século XVII. Região de grande importância econômica, o Paraopeba ficou marcado no período do ciclo do ouro pela cunhagem de moedas de ouro praticadas por uma quadrilha de contrabandistas que tinha como chefe Inácio Ferreira de Souza e seu sócio e delator, Francisco Borges de Carvalho, no final da década de 20 do século XVII. Durante três anos esses falsificadores deram uns prejuízos enorme a Coroa Portuguesa, tendo sido esta quadrilha desarticulada em 1731 com a prisão do seu principal líder.

Foi instalada uma verdadeira fortaleza,  próximo um antigo povoado denominado Boa Vista e sua estrutura complexa envolvia trabalhadores, fundidores,ferreiros,contador e protetores ,destacando o governador de Minas Dom Lourenço de Almeida

Mapa  descrevendo toda estrutura de organização  da fortaleza no Vale do Paraopeba em Moeda.

Ruínas da Fortaleza Fábrica em São Caetano da Moeda Velha  

Estrutura do Bando

A quadrilha ou o bando era formado por várias pessoas onde cada uma exercia uma função dentro da estrutura montada pelo líder Inácio Ferreira e o código de honra valiam para todos.

Lider:
Inácio Ferreira de Souza
Sócios:
Francisco Borges de Carvalho
Frei Vitorino
Jose de Souza Salgado(falsificador em Paraty)
Delator:
Francisco Borges de Carvalho
Sobrinhos do delator:
1-João Jose Borges, quem conduziu o Dr.Diego Cotrim até o sitio com mais de 150 homens para desmontar a fabrica de cunhagem de moeda falsas) 2-Caetano Borges de Carvalho  foi assassinado por escravos de Inácio Ferreira de Souza
 
Outros:
1-Frei  Fernando de Jesus e Maria responsável pelas missas. 2- Os trabalhadores Miguel de Torres,Damião Gomes do Vale e Manuel Mourão Teixeira 3-O contador Manuel da Silva Neves 4-Os ferreiros João Gonçalves e Antonio Pereira 5-Os fundidores Jose Francisco,João Pacheco e João Lourenço 6-Andre Grandeu 7-Antonio de Souza, sobrinho do líder. 8-Antonio Pereira Jardim, o escrivão.  
Protetores:
Governador Dom Lourenço de Almeida e seu secretário Manuel de C. Fonseca.

A Delação

Em 1731, a Fortaleza da moeda falsa foi descoberta depois que o sócio do líder do bando dos falsários, fez a denuncia ao Ouvidor Cotrim que desceu a Boqueirão da Serra com centenas de soldados na calada da noite pegando todo o bando de surpresa. O motivo da traição foi a morte dos sobrinhos pelos escravos do líder Inácio. A empreitada do Ouvidor não tivesse dado certo com certeza o destino do delator sócio Francisco Borges seria a forca ou o fuzilamento por quebra do Código de Honra.

Estudantes da EE Isaura Ferreira da Barreira fazendo uma caminhada ecológica e cultural no Boqueirão da Serra em 2000

Mapa como chegar as ruínas da antiga fortaleza fabrica de cunhagem de moedas de ouro falsas em São Caetano da Moeda Velha nos dias de hoje.

O envolvimento de D. Lourenço de Almeida nos negócios das barras e moedas falsas

Fonte: ( ANAIS DO II ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL)

Eram por estas  Comarcas  mineiras que as moedas de ouro e os diamantes  circulavam em direção ao Rio de Janeiro e de lá para a Europa.

O envolvimento do governador das Minas, D. Lourenço de Almeida, com os negócios de moedas e barras falsas de Inácio de Souza Ferreira, assim como no contrabando de diamantes organizado por esse criminoso, não é novidade para os historiadores. Augusto de Lima Júnior (1954) e Charles Boxer (1964) já haviam apontado essa possibilidade há meio século, embora só o primeiro discuta o tema com algum detalhe. No entanto, as evidências consideradas são fugidias e, no caso de Augusto de Lima Júnior, frequentemente, não se explicitam as fontes para essas conclusões. De forma geral, apesar de conhecido, Inácio de Souza foi tratado de forma superficial pela historiografia até recentemente, e seu envolvimento com D. Lourenço acompanha essa tendência. Adriana Romeiro (1999) foi a primeira historiadora a abordar, de forma mais

Profunda, as relações desses dois homens e as interseções das suas redes de contato e influência. A autora observa como o contato entre os dois é insinuado pelo próprio Inácio de Souza nas cartas que escreveu da prisão, em Portugal, tentando obter o perdão régio.

Vários boatos a esse respeito foram absorvidos nas tradições orais sobre a fábrica e sobrevivem até os dias de hoje. O líder do bando do Paraopeba estaria conectado a círculos internacionais que incluíam judeus, cristãos-novos e religiosos cristãos, que o auxiliavam no contrabando de diamantes, no qual D. Lourenço também seria interessado. Os negócios iam longe e passavam por homens poderosos.

O governador das Minas, de fato, foi peça-chave para o funcionamento dos negócios ilícitos que aconteciam no vale do Paraopeba. Negociou como pôde, dentro da esfera oficial, para defender interesses privados, incluindo encobrir possíveis ações ilícitas. D. Lourenço de Almeida, após sua partida, seria relembrado e satirizado nas Minas por tais práticas.

(…) Que V. Exa. gavandoçe (sic) mtas. vezes de q’ se não fazia couza
nesta va. de noute, que de manham não soubeçe mto. bem, podia saber da
caza de moeda falça de Ignacio de Souza, mas fazia, que o não sabia; porq’
asim lhe convinha e alem de ser nella intereçado e mais o Xavier, dizem
huns, q’ aquella lhe dava dezoito mil cruzados por mes, outros q’ douze =
salvo milhor juditio, por lha consentir, e aqui para nos, pondo de parte a
nossa amizade, asim se deve perzumir porq’ Ignacio de Souza sendo hum
homem tão astuto não havia de andar paçeando nesta va. com similhante
crime se não tivera o consentimto. de V. Exa. e se se retirou desta villa
pouco antes da sua prizão foi so por respeito da segurança, q’ lhe pedio o
Cordeiro e não por outro motivo.
Que tanto se prova o saber V. Exa. da dta. Caza, q’ delatando a Frco.
Borges, socio do dto. Ignacio de Souza ao Dor. ouvidor do Sabarâ Diogo
Cotrim de Souza, este havia de dar parte a V. Exa. para fazer a dta.
delegencia mas como o dto. Borges sabia muito bem dos interessados na
dta. caza inferese q’ este lhe diria não desse parte a V. Exa. por ser nella
interessado; como tambem se infere de huns papeis, q’ hoje parão na mão
de Nicolao Antunes Ferreira, os quais constão de varias contas e partidas
de ouro q’ tinhão entrada na casa, as quais mandava o dto. Ignacio de
Souza a esta villa, onde se fas menção de hum monte grde. q’ entrou com
trinta mil outavas, os quais papeis se perderão; e por este caminho vierão
parar a mão do dito Antunes.
Que V. Exa. por carta sua mandou ao Cabo d’ esquadra, João Roiz’
Bordallo, q’ trazia prezo do Serro do frio para esta va., a João da Sa. Neves,
cacheiro do dto. Ignacio de Souza, lhe desse meios pa. fugir no caminho,
como com efeito fugio, por q’ esse como rapas poderia confeçar o q’ sabia(…)

O envolvimento do governador possibilitou várias vantagens à fábrica ilícita, mas como se vê, a rede de contatos dos falsários se estendia além dele. Vários outros homens importantes das Minas também contribuíram para o negócio ilícito. ( ANAIS DO II ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL)

Mapa de rendimento do ouro nas Reais Casas de Fundição em Minas Gerais, entre julho e setembro de 1767

Curiosidade

Notou o 4.º  Conde da Ericeira no seu diário que, quando D. Lourenço finalmente retornou a Lisboa, em Abril de 1733, não declarou na Alfândega mais do que 80.000 cruzados, quando se soube que um só criado seu trouxe um diamante de 82 quilates. O Conde repete a historieta de que, quando um amigo perguntou a D. Lourenço se tinha voltado de verdade com uma fortuna enorme, replicou com uma afirmativa, mas acrescentou cinicamente que «tinha muito a comprar, pouco a dar, nada a emprestar».(Wikipédia)

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