“Isso era um estudo e não um projeto da administração”. A informação foi do Secretário de Defesa Social, Rolf Ferraz, já no final da audiência pública, promovida na noite de ontem (29) na Câmara Municipal, e já dá mostras que o Prefeito Mário Marcus (União Brasil) pôs uma pá cal” na proposta de concessão pública da rodoviária de Lafaiete. O projeto, apresentado pelo Governo Municipal dividiu opiniões, em especial nas entidades empresariais, como também foi rejeitada por diversos segmentos, como pelos vereadores.
Pouco antes da audiência, foi divulgado o pedido de exoneração do Secretário Municipal de Administração, Felipe Batista, alvo de uma queda de braços entre a Câmara em torno da proposta. Ele havia sido convocado a participar dos debates mas se ausentou diante de saída do governo, fato que gera muitas especulações.
Durante mais de após mais de 3 horas de debates, com o plenário tomado por populares e segmentos organizados, em especial de comerciantes, a audiência pública foi cercada de expectativa. Na maioria dos depoimentos, a proposta de construção de uma nova rodoviária às margens da BR 040 foi rechaçada, porém foi unânime que a reforma do atual equipamento é uma medida urgente e sua requalificação pode agregar mais valor ao comércio lafaietense, mola mestra da economia e que emprega 15 mil empregos, segundo dados do SINDCOMERCIO. Outra proposta defendida foi a retirada do terminal urbano do centro da cidade que gera acidentes e traz transtornos ao trânsito. Um equipamento já ultrapassado, sem conforto aos usuários do transporte coletivo. O terminal seria transferido para o espaço da rodoviária.
Os debates
“A rodoviária tem a cara de Lafaiete”. A expressão foi cunhada pelo Vereador Sandro José (PROS), em sua árdua defesa de que a construção da nova rodoviária pode gerar desemprego e atingir os comerciantes em cheio. “A rodoviária precisa ser um atrativo e não uma vista como uma coisa pejorativa”, pontou. “Estamos a uma distância de menos de 3 km da BR 040. O local é o mais estratégico, mas precisamos é revitalizar nossa rodoviária”, comentou Oswaldo Barbosa (PV). O Vereador João Paulo Pé Quente questionou a escolha do local e defendeu maior participação popular e empresarial no projeto de concessão. “O erro foi não envolver os atores no projeto”.
Já a Vereadora Damires Rinarllly (PV) assinalou que a discussão da nova rodoviária não é prioridade para Lafaiete diante de desafios e falta de infra estrutura de serviços básicos que atingem a população. “Faltam vagas em creches, nossa saúde é precária. A cidade é carente de serviços essenciais e para quê se discutir a construção da nova rodoviária neste momento diante de tantos problemas?”, questionou. “
“Se o prefeito disse que não vai retirar a rodoviária do centro e nem vai construir outra na BR 040, o que estamos fazendo aqui? Parece que estamos fazendo papel de bobo”, ironizou Pedro Américo (PT) arrancando risos da plateia.
Populares
Entre alguns populares houve defesa da nova rodoviária em função de que os passageiros são obrigados a desembarcar na BR 040 ou em outro ponto já que os ônibus interestaduais não entram na cidade. Mas a maioria dos depoimentos foi a favor da manutenção da rodoviária na área central. Já outros defenderam a escolha de uma nova área, mais perto da cidade, para a construção do novo terminal para facilitar a logística.
O empresário Robson Matos citou o exemplo de cidades vizinhas como Barbacena e Congonhas que retiraram a rodoviária do centro e sentiram o baque do comércio. “Estas cidades são exemplos clássicos a não serem seguidas. Isso não pode acontecer com Lafaiete e vai impactar na nossa economia como ocorreu com os municípios vizinhos. Além do mais o projeto não teve estudo de impacto ao entorno da rodoviária”, citou.
O Presidente do SINDCOMÉRIO, Bento Oliveira, mais uma vez criticou o projeto de concessão e a construção da nova rodoviária. “Isso será algo que vai impactar além do comércio. A proposta não foi discutida com a comunidade e os empresários. Não houve estudo de viabilidade. Pra que gastar tanta energia com este projeto?”, questionou.
Para o Presidente do CDL-CL, o projeto foi mal conduzido. “Esta pauta precisa ser trocada. Precisamos revitalizar nossa rodoviária e torná-la mais atrativa. Somos contra esta ideia de construção na BR 040 distante do centro urbano. Isso vai enfraquecer nossa economia”, disse Edvaldo José Thereza.
O Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Conselheiro Lafaiete, Carlos Fernando, criticou a proposta de nova rodoviária. “É preciso abortar esta intenção e construir um novo projeto mais transparente e encontrar o melhor caminho”, analisou.
Segundo ele, são os ônibus de fretamento, de grandes empresas, e de prefeituras, que trazem transtornos ao centro de Lafaiete. “Quem vai pagar o custo da nova rodoviária é o usuário e a população”, informou não descartando um novo equipamento em uma área mais perto da cidade, citando também que suas empresas são responsáveis por 65% das movimentações na rodoviária de Lafaiete.
Lafaiete pode perder mais de 400 empregos
Kenedy Neiva, representante do Associação Comercial (ACIAS), defendeu a manutenção da rodoviária no centro e a construção da segunda opção para ônibus interestaduais em um novo terreno e/ou até mesmo perto do Hospital Regional, às margens da MG 129. Ele reforçou que o projeto precisa ser discutido envolvendo mais setores organizados para a definição de uma área.
Segundo ele, a exemplo das antigas paradas do Borba e do Cupim, Lafaiete perde uma grande oportunidade comercial. “Lafaiete não tem parada de ônibus interestaduais. Essa é uma grande chance de negócios com uma nova rodoviária agregando mais serviços ao seu entorno”, sugeriu.
Segundo ele, o projeto de concessão da atual rodoviária poderia render um aporte de mais de R$ 30 milhões aos cofres públicos através de investidores, além de impostos. Neiva afirmou que atual área da rodoviária tem 6 mil m² com um potencial de área a ser edificada de mais de 12 mil m². “Temos um diamante a ser lapidado nesta área com a construção até mesmo de um shopping popular, com mais de 100 salas de alugueis, estacionamentos diversos e outros serviços. Se somarmos o público que embarca na rodoviária, algo em torno de 40 mil ao mês, e no terminal urbano, em uma média de mais de 400 mil pessoas ao mês, teremos circulando no terminal mais de 440 mil usuários. Temos um grande potencial. Caso o projeto de concessão seja levado a cabo, poderia gerar mais de 400 empregos diretos e requalificação da rodoviária agregando ainda mais ao comércio como um todo de Lafaiete. A rodoviária seria um grande atrativo e um centro comercial”, justificou. “Não podemos perder esta chance deste grande empreendimento”, finalizou.