Desde o ápice de produção mineraria, os moradores do Pires, talvez sejam a comunidade que mais sentiu os impactos negativos do “progresso”. Cortado ao meio por uma rodovia e uma ferrovia, se não bastassem a lama, barro, poeira e poluição, cerca de mais de 2,5 mil moradores vivem o drama do desabastecimento. E pior: a insegurança da qualidade da água consumida. Este problema se arrasta há mais de uma década. Diversas minas foram entupidas pela mineração. E olha a contradição: abundante em nascentes, o Pires vive o drama do desabastecimento.
Na última sexta feira (20), um vazamento da barragem do Josino, da Ferro+, levou lama na BR 040. Mas não foi ela a causadora da água barrenta que chegou as residências assustando os moradores. O desabastecimento por que passa a comunidade chegou ao limite de tolerância, tanto para moradores, mas e principalmente para as autoridades, mineradora e Copasa. “Toda vez que chove acontece este problema. Está na hora de por um fim a este tormento de falta de água no Pires”, salientou o Secretário Municipal de Meio Ambiente, Neylor Aarão. Ele defendeu que Ferro+ construa um poço artesiano por fim ao desabastecimento, contudo esclareceu que a comunidade não deve pagar pelo consumo do bem.
Segundo ambientalistas consultados pelo nossa reportagem, a contaminação da Mina de João Batista e Mãe D’água (Boi na Brasa) estão diretamente ligada a expansão da Ferro+ Com as chuvas, ocorreu o carreamento de sedimentos para a mina que chegou as residências. O excesso de chuvas também provocou danos no balneário Parque das Cachoeiras.
Prefeito Zelinho joga duro com a Ferro+
Em seu programa, nesta segunda feira (23), o Prefeito Zelinho (PSDB) foi provocado pelo apresentador e radialista, Silas Ferreira, da Rádio Congonhas, sobre a situação do vazamento da barragem da Ferro+ e seus desdobramentos ambientais de grande monta.
“A Agência Nacional de Mineração disse que não houve rompimento. Foi apenas água excedente que percorreu a rodovia. O que mais preocupa é a água do Pires, tanto que marcamos uma reunião de emergência para esta quinta feira (26). Chamamos a Ferro+ pois eles estão poluindo a água do Pires que chega nas casas muito barrenta. Vamos sentar com a mineradora e Copasa, porém a Ferro + tem a obrigação de resolver o problema
de água do Pires. Serei muito firme com a Ferro+ pois é ela que está contaminando e poluindo a água. Antes não havia este problema. Pires tinha água com abundância e
ali no Inhô, quando faltou água no Pires, eu ainda era vereador à época, solicitei a ele que o excedente da água dele fosse para o Pires. Foi feito um dique no Boi na Brasa para que a comunidade não tivesse mais problema. Agora a Ferro+ comprou aquela área e estão minerando em cima da nascente. Faremos o tratamento de água para o Pires com poço artesiano. Já sofrem com poluição, mas com água não. Lá antes não tinha problema com contaminação de água. Não vou abrir mão desta solução e vamos dar o prazo para que a Ferro +resolva esta situação. O Pires não pode sofrer mais com esta situação que dura vários anos.
Drama: Natal com água regrada
Os moradores do Bairro Pires passam por uma situação delicada às vésperas das festas de fim de ano. Devido a uma forte chuva que atingiu a cidade na última sexta-feira, a nascente que é utilizada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) para abastecer a cidade foi contaminada por minério da barragem de Josino, da mineradora Ferro + Mineração. Com isso, a captação de água foi suspensa por tempo indeterminado no bairro, que abriga cerca de dois mil moradores.
Até a situação ser normalizada, o abastecimento se dá via caminhões pipa e entrega de galões de água potável. Entretanto, a desinformação sobre horário de entrega, cronograma ou ordem de distribuição é visível. A equipe do Estado de Minas esteve no local nessa segunda-feira e presenciou um tom desesperador nos moradores, que não sabiam se a barragem havia se rompido ou não ou o porquê de a água ter sido cortada. Apesar disso, já se notava que a água barrenta havia chegado a algumas residências.
Empresa está regular, mas já havia cometido infrações
A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) também está acompanhando a situação da estrutura junto à empresa Ferro Mineração, a fim de avaliar a necessidade de desassoreamento e, consequentemente, prepará-la para o amortecimento de chuvas e retenção dos sedimentos advindos da atividade minerária.
A Fundação ressaltou que as atividades do dique do Josino não envolvem disposição de rejeitos em barragem. O rejeito gerado no processo produtivo é disposto a seco em
pilhas, denominadas Pilhas de Disposição de Rejeitos (PDR). A licença de operação foi concedida em 1º de abril de 2019, com validade até 29 de março de 2029.
O órgão fiscalizador confirmou que o empreendimento também possui as licenças ambientais prévia, de instalação e operação para o exercício de sua atividade produtiva. Mesmo assim, o transbordamento do dique pode estar sujeito às penalidades administrativas, após apuração, a depender do dano ambiental que possa ter sido gerado.
A Feam acrescentou que já haviam sido emitidas cinco infrações administratvas à empresa Ferro Mineração, três por “descumprimento de condicionantes”, uma por irregularidades quanto ao uso de recursos hídricos e uma por irregularidades quanto ao descumprimento de termo de compromisso.
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