29 de março de 2024 07:33

“É muito amor de sobra e Lucas será sempre nosso filho. Não queremos substituição”, diz mãe que teve o bebê trocado no Hospital Queluz

Uma história na qual o amor, o sofrimento e angústia são os principais ingredientes. Tudo começou há mais de 23 anos quando o filho da professora Rosana Aparecida, de 50 anos, e do produtor rural, Oswaldo do Carmo, moradores da comunidade de São Vicente, em Lafaiete, foi trocado no berçário do Hospital Queluz.

Criado com amor incondicional, os pais conviveram com constantes questionamentos sobre a paternidade, já que Lucas Francisco, hoje com 23 anos, tinha uma identidade física não compatível com a genética familiar. Ele é o caçula de uma família de 3 filhos.

Surgiram as dúvidas, desconfiança e boatos, mas a família sofreu durante longos anos com o constrangimento que a situação gerava. Dona Rosana conta que as desconfianças intrigavam, já que a cor e o cabelo chamavam a atenção, mas por outro lado o bisavô de Lucas era negro.

Depois de 20 anos do nascimento de Lucas, no final de novembro de 2015, os pais decidiram por um fim a dúvida como também a família. Resolveram fazer o teste de DNA e em janeiro de 2016 veio a surpresa do resultado que provou que o jovem não era filho biológico de Rosana e Oswaldo.

Surgiram então outras as angústias para contar a Lucas sobre sua verdadeira paternidade. Dona Rosana relatou a nossa reportagem o sofrimento para revelar o caso ao filho. Ela não dormia tomada pela ansiedade, insegurança e o medo. “Ele sempre foi muito questionador e crítico. Não poderia inventar história mas contar a verdade. E foi o que aconteceu”, disse.

Um mês após o resultado do DNA, o jovem Lucas já sabia da história a que o destino lhe aprontara. O amor com que o filho sempre foi tratado superou a possibilidade de um trauma. Ao contrário, uniu ainda mais a família. “Ele sempre será nosso filho. É muito amor de sobra”, diz a mãe emocionada.

O sentimento recíproco é comungado e testemunhado por Lucas. “Nunca faltou amor. Fui criado em um ambiente saudável e tratado como filho. Nunca fui rejeitado ou tratado com diferença. Ao contrário sobram carinho e amor”, assinalou, reconhecendo que quando se tornou adulto as dúvidas levantadas sobre a paternidade também o afligia.

O filho Lucas e mãe Rosana exibem DNA; amor superou os traumas/CORREIO DE MINAS

Justiça

Iniciou-se então outro lado da história quando os pais de Lucas decidiram acionar a justiça contra o Hospital Queluz acusando a instituição de negligente. Há quase dois anos eles cobram reparação do dano e pedem indenização, mas alegam lentidão no processo. “Buscamos a exposição na mídia para nos ajudar a resolver esta situação que já dura mais de dois anos sem uma solução”, diz Rosana. Nesta segunda feira, dia 2, o caso ganhou uma reportagem nacional no jornal da Record.

A família alega que o hospital se recusa a ceder os registros de bebês para que ela possa reconhecer o verdadeiro filho. “Não queremos substituir o nosso, mas fazer um encontro de famílias e resgatar estes elos que nos une.”, diz Rosana.

O Hospital alega desconhecimento do caso, mas em março do ano passado ocorreu uma audiência entre as partes. O advogado do Queluz alega prescrição no caso já que aconteceu há mais de 23 anos. “Para o reconhecimento de paternidade não há prescrição”, protesta o filho Lucas.

Família acusa hospital Queluz de negligente no caso e pede transparências nos registros de nascimentos/Reprodução

Ele conta que fez uma pesquisa na internet quando deparou com inúmeros casos semelhantes, porém o hospital ajudou no reencontro das famílias liberando os registros. “São inúmeros casos espalhados pelo Brasil. Mas em Lafaiete ainda não encontramos boa vontade para resgatarmos nossa verdadeira identidade”, diz Lucas Francisco.

Rosana ainda se lembra dos momentos do nascimento do filho e pede que o hospital confira em seus registros os bebês que nasceram um dia antes e um dia depois ao seu, já que permaneceu internada por dois dias. “Entrei no hospital num sábado e ganhei o Francisco no domingo pela manhã, mas tive alta somente na segunda feira. Neste período, vi meu filho no nascimento e quando sai do hospital e não o amamentei neste período”, conta Rosana. “Sabemos por que tudo o que passamos que não será Justiça que vai reparar nosso sofrimento”, assinala a mãe.

Reencontro de famílias

Diversos testemunhos nas redes sociais reforçam o carinho e amor com que Lucas foi criado pelos pais. A amiga dele, Letícia Ferreira fez um desabafo emocionante. “Eu sou amiga da família e me sinto na obrigação de tentar ajudá-los porque acho que todos têm direitos de se conhecer e deixar os julgamentos do hospital para a justiça. A família do Lucas tem pessoas maravilhosas. O Lucas foi criado para ser uma grande pessoa, o amor que eles têm um sobre os outros é lindo de ver, e ele é sim uma pessoa de boa índole, caráter e um amigo excepcional, mesmo não sendo filho de sangue, ele tem a essência dessa família, o carinho doce de todos eles, e afinal família não é aquela que põem no mundo, é aquela que enche de amor até a pessoa crescer e virar adulto! Seria importante eles se conhecerem porque é uma chance de fazer um vínculo entre todos, por mais impactante que seja,diferente e atípico,as famílias merecem abraçar seus filhos,e os dois bebês trocados merecem ter uma oportunidade de saber que essa é uma nova chance de ganhar um novo irmão! O Lucas nasceu no Hospital Queluz,no dia 19/11/1994, se vocês conhecem alguém que por acaso nasceu lá e foi nesse dia,entre em contato conosco,a ajuda de vocês será importante”.

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