Calor matou mais que deslizamentos de terra no Brasil, aponta estudo

Nos anos de 2010, o Brasil enfrentou de 3 a 11 ondas de calor por ano, quase quatro vezes mais do que na década de 1970, quando de zero a no máximo três desses eventos climáticos extremos foram registrados.

As consequências são fatais: de 2000 a 2018, em torno de 48 mil brasileiros morreram por efeito de bruscos aumentos de temperatura – número superior ao de mortes por deslizamentos de terra.

Os dados inéditos foram compilados em estudo publicado na quarta-feira (24/1) por 12 pesquisadores de sete universidades e instituições brasileiras e portuguesas, como a Universidade de Lisboa e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no periódico científico Plos One.

“Os eventos de ondas de calor aumentaram em frequência e intensidade”, diz à BBC News Brasil o físico Djacinto Monteiro dos Santos, que liderou o estudo, como parte de sua pesquisa no Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para definir o que são ondas de calor, usou-se um padrão conhecido como Fator de Excesso de Calor (EHF, na sigla em inglês), que leva em consideração a intensidade, duração e frequência de aumentos na temperatura para prever níveis considerados nocivos à saúde humana.

A pesquisa analisou dados das 14 áreas metropolitanas mais populosas do Brasil, onde vive 35% da população nacional, um total de 74 milhões de brasileiros.

Foram assim consideradas as seguintes cidades: Manaus e Belém, no Norte; Fortaleza, Salvador e Recife, no Nordeste; São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, no Sudeste; Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, no Sul; e as regiões metropolitanas de Goiânia, Cuiabá e do Distrito Federal, no Centro-Oeste.

Além de aumentarem em volume, as ondas de calor também estão cada vez mais prolongadas.

Nas décadas de 1970 e 1980, esses eventos adversos duravam de três a cinco dias. Entre os anos de 2000 e 2010, entre quatro e seis dias.

As vítimas do calor

Para calcular as vítimas das ondas de calor, os pesquisadores analisaram mais de 9 milhões de registros de óbitos de períodos em que ocorreram esses fenômenos no Brasil.

“Seguimos uma série de padrões de tratamentos de dados para evitar alterações nos resultados”, afirma Renata Libonati, professora do Instituto de Geociências da UFRJ e coautora da pesquisa.

Os cálculos levaram à conclusão de que em torno de 48 mil brasileiros morreram por consequência de ondas de calor entre 2000 e 2018.

As mortes se deram por razões como problemas circulatórios, doenças respiratórias e por condições crônicas agravadas pela alta temperatura.

ANADOLU/GETTY IMAGES
Legenda da foto,’Os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursos de adaptação’, diz pesquisador da UFRJ.

Outra descoberta da pesquisa é a de que há grupos mais vulneráveis a esses eventos extremos do clima. Em primeiro lugar, os idosos e, entre eles, as mulheres.

“Pela questão fisiológica, sabemos que os mais velhos são os mais vulneráveis, por terem corpos com menor capacidade de regulação térmica e por apresentarem mais comorbidades”, esclarece Libonati.

A maior vulnerabilidade das mulheres também se justifica por razões fisiológicas, segundo o estudo.

Pessoas pardas, pretas e menos escolarizadas também estão entre os grupos considerados mais vulneráveis, conforme a pesquisa.

“Os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursos de adaptação”, comenta o físico Monteiro dos Santos, da UFRJ.

“Situações socioeconômica precárias, que atingem as faixas mais pobres, levam a acesso também precário a condições de moradia, sistema de saúde e meios de prevenção.”

Santos afirma que as condições urbanas também costumam fazer com que regiões mais pobres das cidades sejam mais vulneráveis.

“Quando a sensação térmica é de 45ºC na Zona Sul do Rio de Janeiro [onde estão bairros de famílias mais ricas], aí é de 58ºC em Bangu, na Zona Oeste [área mais pobre]”, exemplifica o pesquisador.

O climatologista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, ressalta que estes impactos do calor extremo tem sido evidenciados por pesquisas científicas.

“Já há dados globais que mostram que as ondas de calor são os eventos climáticos extremos que mais vitimam no planeta, à frente, por exemplo, de enchentes, e que há grupos mais vulneráveis a essas tragédias”, diz Nobre.

Membro da Academia Brasileira de Ciências, Nobre é hoje um dos mais renomados nomes no campo de estudos das mudanças climáticas. Ele não tem ligação com o estudo da UFRJ e o leu a pedido da BBC News Brasil.

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Legenda da foto,’Já há dados globais que mostram que as ondas de calor são os eventos climáticos extremos que mais vitimam no planeta’, diz o climatologista Carlos Nobre

“A pesquisa é interessante por trazer dados inéditos e por mostrar como as ondas de calor tem efeitos no Brasil que já foram vistos em outras regiões do planeta”, opina o climatologista.

“Outro aspecto que quero destacar é como a análise foi feita em torno de centros urbanos, nos quais os efeitos do aquecimento global são ainda mais sentidos, por efeitos como o da ilha de calor [fenômeno caracterizado pela maior temperatura em cidades, em relação às áreas rurais].”

Nobre ressalta que, na cidade de São Paulo, a temperatura média é 4ºC acima do que em áreas menos urbanizadas do Estado.

Quando há aumentos bruscos, com as ondas de calor, os efeitos são ainda mais drásticos em regiões urbanas.

“Já se tem ciência de que populações com menos acesso a recursos, como os mais pobres, sofrem mais. Afinal, ter um ar condicionado, por exemplo, já soluciona o problema”, complementa o pesquisador da USP.

“Essa nova pesquisa, contudo, faz associações socioeconômicas e traz dados inéditos que podem ajudar a guiar políticas públicas.”

Os autores da pesquisa avaliam que, apesar de ter matado mais de 48 mil brasileiros em duas décadas, as ondas de calor tem menos visibilidade e recebem menos atenção em comparação com outros eventos climáticos catastróficos.

“Mesmo com a alta mortalidade, as ondas de calor são desastres negligenciados no Brasil”, diz Renata Libonati, da UFRJ e coautora do estudo.

“Em comparação a deslizamentos e enchentes, que apresentam grande impacto visual, o aumento de temperatura pode ser tido como invisível.”

O levantamento calculou que ocorreram mais mortes por efeito de ondas de calor no Brasil do que por deslizamentos de terra, que costumam ocorrer por efeito de tempestades.

A referência para a comparação é uma pesquisa do ano passado do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que chegou à conclusão de que, de 1988 a 2022, houve cerca de 4,1 mil mortes de brasileiros por deslizamentos em 269 municípios de 16 Estados.

O climatologista Carlos Nobre acrescenta outro motivo para desastres como alagamentos terem recebido maior atenção midiática do que as ondas de calor.

“Outros desastres climáticos causam mortes imediatamente, como em enchentes. Já o aumento da temperatura por vezes leva dias, semanas ou até meses para matar.”

Medidas urgentes

Segundo os autores do novo estudo brasileiro, o interesse global pelas consequências das ondas de calor aumentou após 2003. Carlos Nobre concorda com a conclusão, que é um consenso entre pesquisadores do campo.

Naquele ano, uma onda de calor atingiu a Europa, em particular a França, vitimando cerca de 70 mil pessoas durante o verão.

Desde então, segundo os cientistas escrevem no artigo publicado na Plos One, “a mega onda de calor do verão europeu de 2003 foi estudada profundamente”.

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Legenda da foto,Túmulos de vítimas da onda de calor de 2003 na França: corpos não reclamados por familiares foram enterrados sem identificação

Segundo um relatório conjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), divulgado no ano passado, o calor mata 15 milhões de pessoas ao ano em todo o mundo.

“Após o trauma de 2003, os países europeus passaram a adotar protocolos transversais de prevenção e combate, unindo defesa civil, meteorologia, sistemas de saúde e esforços de comunicação, o que tem mostrado resultados positivos”, diz Libonati, da UFRJ.

Carlos Nobre, que também é ex-diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), indica que seria preciso começar pela implementação de sistemas de alertas de ondas de calor.

“Mortes por deslizamentos e alagamentos ocorrem, mas diminuem ano a ano, pelo sucesso de forças de prevenir e combater que o Brasil tem implementado, com mais de 4 mil pluviômetros espalhados por 1,2 mil cidades, monitorando pontos de maior risco.”

Uma das medidas apresentadas pelo estudo lançado na Plos One é a instalação de sistemas similares para alertar a população sobre a chegada de ondas de calor.

“Se nada for feito nesse sentido, mortes por efeito das altas temperaturas, que poderiam ser prevenidas, vão aumentar ano a ano”, conclui Nobre.

FONTE BBC NEWS BRASIL

Nível de rios baixa mas situação segue dramática em diversas cidades

Apesar da queda no nível dos rios, as cidades ainda são castigadas com as enchentes e a previsão é de mais chuvas.
Em Congonhas (MG) os rios ainda causam inundações em diversos pontos, diversas ruas interditadas e mais de 200 pessoas. Houve interrupção do abastecimento de águas que estão aos poucos sendo restabelecido.

Jeceaba

A cidade está ilhada, com ruas tomadas pelas inundações, prefeitura fechada e alagamentos em diversos bairros. São mais de 300 moradores desalojados. A prefeitura presta total apoio as vítimas.

Belo Vale

A situação segue dramática em Belo Vale. Ontem o Rio Paraopeba baixou o nível em menos de 1 metro mas inundações em diversos bairros e interdição de ruas. A ponte e viaduto foram bloqueados os acessos. Hoje interrupção no abastecimento de água pela Copasa.

Piranga

O rio Piranga, na cidade de Piranga, começa a dar sinais de que vai abaixar num nível mais rápido de hoje pra amanhã. No momento, a situação mais preocupante é as com as encostas, que se encontram saturadas há dias, correndo risco dos taludes desmoronarem. Como a chuva deve perdurar até quinta provavelmente, toda atenção é necessária. Se você observar qualquer sinal de trinca ou movimentação do terreno, não hesite em sair do lugar e acione a Defesa Civil municipal.
Detalhe: deslizamento de talude no centro de Piranga.

Detalhe: deslizamento de talude no centro de Piranga. / PATRÍCIO GUARÁ DRONE

COM INFORMAÇÕES DE PATRÍCIO GUARÁ DRONE

Alerta: BR 040 tem 10 pontos de deslizamentos de encostas e interdições

Condições de tráfego – BR-040

Prevalece a recomendação da Polícia Rodoviária Federal para evitar transitar nesses dias de chuva intensa e ininterrupta, pois há várias rodovias e rotas alternativas com bloqueios e riscos. Mas se mesmo assim precisar viajar, o motorista deve antes consultar o Waze e as redes sociais da PRF, Polícia Militar Rodoviária e site do DEER-MG.

? Km 562, Nova Lima, tráfego liberado nos dois sentidos. Motorista deve reduzir a velocidade no local, pois ainda há movimentação de trabalhadores e máquinas.

? Km 572, Itabirito, deslizamento de encosta, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 579, Itabirito, buraco, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 580, Itabirito, deslizamento de encosta, interdição da faixa direita sentido BH, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 582, Itabirito, deslizamento de encosta, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 589, Itabirito, deslizamento de encosta, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 592, entre Itabirito e Congonhas, deslizamento de encosta, interdição da faixa direita sentido BH, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 614, Congonhas, buraco, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 721, entre Barbacena e Santos Dumont, buraco, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 730, entre Barbacena e Santos Dumont, buraco, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

? Km 762, Juiz de Fora, deslizamento de encosta, interdição da faixa direita sentido RJ, fluxo livre pela faixa esquerda.

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