GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA – GARIMPANDO NOTÍCIAS 45

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

GARIMPANDO NOTÍCIAS 45

COISAS DA QUARESMA EM QUELUZ

Avelina Maria Noronha de Almeida

Eram várias, as superstições relacionadas com a Quaresma em Queluz: quem dançasse, fizesse festa corria o risco de ver ou virar mula-sem-cabeça ou lobisomem. Casar na Quaresma, nem pensar!

Neste período do século XIX que estamos focalizando, vamos falar hoje coisas que aconteciam naquela época, narradas por quem aqui residia, sendo testemunha ocular do comportamento de nosso povo.

Imagem da Internet

Francisco de Paula Ferreira de Rezende, por decreto de 30.10.1856, foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos em Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), Minas Gerais, onde permaneceu até 1861, acumulando nesta cidade também o cargo de delegado de polícia.

Ele conta, em seu livro “Minhas Recordações”, que, em nossa terra, encontrou alguns costumes interessantes relacionados com a Quaresma. Um deles era a Serração da Velha, que ele assim descreve, embora ressaltando que nem sempre a memória ajudasse. Ele diz o seguinte sobre essa folia:

.            “.De três coisas, entretanto, me recordo: a velha é a quaresma que eles tratam de serrar; pois que esse brinquedo  tem lugar justamente no meio exato da quaresma; segundo que a velha faz um testamento exatamente como o de Judas em que se trata de satirizar os costumes ou antes algumas pessoas; e terceiro finalmente que este brinquedo terminava  por uma paródia mais ou menos perfeita de um enterro ou antes de um ofício solene de defunto, pois que, reunidos todos defronte da minha casa, no largo da Matriz,  com estandartes, luzes, e muitos deles vestidos de padres,  aí se conservavam um tempo imenso a cantarem lições e a praticarem algumas outras solenidades que são próprias daqueles ofícios.”

.            FRANCISCO DE  PAULA residia onde foi o antigo Forum, na Praça Barão de Queluz.

O relato que ele faz é muito sucinto, mas naturalmente o ritual devia ser  como o que geralmente se usava na região. A Serração da Velha consistia em ritos festivos oriundos das folias portuguesas e que aconteciam na quarta-feira da terceira semana da Quaresma no Brasil, no séculos XVIII, e desapareceram  mais ou menos nos anos 70 do século XIX. Era uma crítica ferina à figura das avós pela forma violenta que comumente usavam naquela época nos métodos de disciplinar as netas. No Rio de Janeiro, de acordo com as crônicas coloniais, as mulheres idosas ficavam quietinhas, escondidas em suas alcovas, não saindo às ruas enquanto não passavam os préstitos. Creio que aqui não se chegava e esses extremos.

Algumas fontes citam os seguintes rituais:

Em cima de um estrado há uma pipote onde dizem estar encerrada uma velha condenada ao suplício do serrote. Um homem com um serrote finge estar serrando o pipote. Enquanto isso, o povo canta:

.            Serra a velha, / Força no serrote. / Serra a velha /  Dentro do pipote.

..          Esta velha tem malícia, / Esta velha vai morrer. / Venha ver serrar a velha, / Minha gente, venha ver.

Serra, serra, serra a velha, / Puxa a serra, serrador, / Que esta velha deu na neta / Por lhe ouvir falar de amor.

Aí o serrador cantava com voz de falsete:

.Que castigo ela merece? / Dizei-me senhores meus.

.E a turba alvorotada repetia o canto inicial:

.Serra a velha,/ Força no serrote./ Serra velha / Dentro do pipote.

.Alguns autores acreditam que essa folia ainda é celebrada de forma cristianizada na “queima do Judas” e no “testamento do Judas”.

.Padre José Duarte de Souza, num livro inédito em que apresenta subsídios de pesquisas feitas em diversas fontes com vista a uma futura história de nossa cidade (sonho que ele, infelizmente, não teve tempo de realizar), focalizando as diversões populares em Queluz, no caso a “serração da velha”, diz que algumas mulheres “revoltadas e indignadas, xingavam e, às vezes, recorriam ao Juiz de Direito para proibir tal diversão. Durante o percurso pelas ruas ao clarão de tochas e lanternas, o povo cantava estes versos:

.Olha a velha de lá, / Abra a boca de cá, / Põe a mão na espada, / Vamos guerrear.

Quando ver (sic) a velha / Com cara de que chorou / A cachaça na venda / Já se acabou.

Quando ver ( sic)  a velha / Na porta sorrindo, A cachaça na venda, / Já está se medindo.

.Ao chegar ao Largo da Matriz, hoje praça Barão de Queluz, lia-se o testamento da velha, cujo alvo era satirizar os costumes e pessoas do lugar. Terminava por uma paródia mais ou menos perfeita de um enterro com estandarte, música e alguns vestidos de padre para a celebração solene das exéquias”.               Outro brinquedo utilizado na Quaresma chamava-se “Luiz ou Liz Teixeira”. Ia  um homem  carregado em uma padiola ou em um espécie de andor, acompanhado pelo povo em algazarra, o qual ia serrando uma grande cabaça, fazendo trejeitos e momices, despertando gritos de alegria dos acompanhantes que ia cantando pelas ruas e praças versos sobre a cachaça.

A cachaça boa / É de garrafão, / Bebe o afilhado, / Bebe o patrão.

A cachaça boa / É da garrafinha, Bebe a afilhada, / Bebe a madrinha.

A cachaça é boa, / Eu daqui não saio. / Aqui mesmo eu bebo, / Aqui mesmo eu caio.

O homem, que eles chamavam de Luiz Teixeira, em cada parada fazia um discurso sobre a cachaça.

Hoje as superstições esmaeceram na distância do tempo (embora aqui e ali ainda haja resquícios), porém, em seu lugar, encontramos outras atitudes que, graças a Deus, não estão em todas as pessoas: a descrença, a indiferença, o desrespeito.

Não podemos negar que havia uma  graça especial nos tempos de outrora!

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA – NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 42

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 42

 

O motivo dessa presença ornamental era uma lembrança

da realeza, da Real Villa de Queluz, cujo nome, dado pela rainha

Maria I, era do suntuoso palácio em que ela vivia.

 

CONTINUANDO A FALAR SOBRE O CHAFARIZ: lá no alto, no capitel, isto é, a extremidade superior da coluna, uma fruteira com muitos tipos de flores e frutas, tão belos ornatos encimados por um abacaxi.

No meu tempo de menina, ouvia pessoas ironizarem, principalmente quando havia crise de água ou de luz, ou outra deficiência de serviços: “Esta cidade é mesmo um abacaxi!”, referindo-se depreciativamente à fruta da família das bromeliáceas, talvez porque, tão linda, saborosa e nutritiva, fosse difícil de descascar. Seu visual é espinhoso e ressequido, por isso a gíria.

Mas o abacaxi, também chamado ananás, tinha seu simbolismo importante. Podemos vê-lo como ornamento nas belas sacadas da Casa de Cultura Gabriela Mendonça, das igualmente belas sacadas do Solar do Barão de Suassuhy.

Imagem da Internet

 

Na foto do Solar do Barão de Suassuhy podem ser vistos os efeites de ananás em todas as sacadas, de um lado e de outro.

Certamente, isso acontecia também nos sobrados antigos que embelezavam a cidade em tempos antigos e que – e ó pena! – foram derrubados.

O motivo dessa presença ornamental era uma lembrança da realeza, da Real Villa de Queluz, cujo nome, dado pela rainha D. Maria I, era do suntuoso palácio em que ela vivia.

E por que o abacaxi recordava o palácio? Porque em seu Jardim Botânico, pertencente à antiga residência da família real, há 22 canteiros dessa fruta, lá  chamada  “ananás” que era considerada a mais exótica das frutas do século XVIII. Ali foram cultivados os primeiros ananases de Portugal, que eram motivo de grande orgulho da Casa Real Portuguesa, sendo elementos decorativos da cantaria e do revestimento de azulejos do interior do palácio, por isso o seu uso em nossa Queluz na decoração do monumento do antigo Jardim de Areia e dos casarões. Lembranças daquele dia que nos trouxe a independência e o prestígio de vila.

Pouco tempo atrás realizou-se a reabilitação do jardim português, um dos mais interessantes jardins europeus e importante patrimônio paisagístico. Os canteiros, cheios de coroas de ananás, estão dentro de estufas brancas. Por ter uma coroa, logo depois do descobrimento do Brasil apelidaram-no de “rei dos frutos”, símbolo de regiões tropicais e subtropicais, e que agrada ao mesmo tempo aos olhos, ao paladar e ao olfato.

Imagem da Internet:                                                 Palácio de Queluz

Imagem da Internet                             Ananazes no Jardim Botânico do Palácio de Queluz

Outra relação interessante é ser o abacaxi o símbolo da hospitalidade. Os antigos o plantavam do lado de fora da casa para significar que os visitantes eram bem-vindos.

E não é que o povo de nossa terra, em todos os tempos, foi hospitaleiro? Prova disso a maravilhosa miscigenação de nossa gente desde o Arraial do Campo Alegre dos Carijós…

O conhecimento de significados belos ou importantes torna mais poderosa a nossa auto-estima em relação ao lugar onde nascemos ou vivemos. Quando passarem pela praça em frente à Matriz de Nossa Senhora da Conceição, dediquem um olhar de admiração aos abacaxis do simbólico chafariz, cheguem perto, se possível, observem seus belos detalhes.

 

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 35

                        GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

 

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS EM NOSSA HISTÓRIA

EM FINS DO SÉCULO XVIII E NO SÉCULO XIX

 

Foram várias aas famílias de nossa terra que, na época final do Arraial de  Carijós e início da Real Villa de Queluz tomaram o caminho do sertão e ajudaram a povoar um vasto território de Minas, atingindo também São Paulo e Goiás.

 

 

A imagem acima é, de Luis Caetano de Miranda, uma Carta Geográfica da Capitania de Minas Gerais em 1804. Reprodução de Carlos Cunha Corrêa.

 

Neste mapa a passagem do Piraquara está próxima à Fazenda Santa Fé, do Capitão Amaro da Costa Guimarães (assinalado no mapa), o primeiro fazendeiro da região de Dores do Indaiá.

 

 

Fazenda Santa Fé/Imagem da Internet

 

 

E ONDE NASCEU O CAPITÃO AMARO DA COSTA GUIMARÃES, PRIMEIRO FAZENDEIRO DE DORES DE INDAIÁ?

 

EM SANTO AMARO, ATUAL QUELUZITO,  em 19 de jan de 1745, filho de Jerônimo da Costa Guimarães e Damiana Roza da Costa Guimarães,  neto de Manoel de Azevedo Pereira Brãndão, do nosso povoado de São Gonçalo do Brandão. Devido à decadência do ouro, os irmãos COSTA GUIMARÃES, que eram mineradores em Itaverava, tomaram o rumo do sertão.

        Vejam que extenso caminho foi percorrido naquele tempo histórico, levando o nosso valor humano para se unir ao valor de uma nova terra:

DE ITAVERA

E DE SÃO GONÇALO DO BRANDÃO

A PITANGUI

Imagens da Internet

Amaro deixou seus pais no arraial de Carijós e foi para Pitangui, chamando, em seguida, seus irmãos que, mais tarde, requereram sesmarias no termo de Pitangui, numa área que corresponde às terras dos municípios de Dores do Indaiá, Estrela do Indaiá e Serra da Saudade, dedicando-se à criação de gado. Foram pioneiros e grandes desbravadores da região. Amaro, de acordo com um documento, “tinha avultada criação de gado vacum e cavalar, sendo o primeiro povoador daquele sertão.”

O tempo foi passando e novos problemas surgiram que provocaram a saída de pessoas do arraial de Carijós, de modo especial a decadência do Ciclo do Ouro. Foi aí que aconteceu a Derrama.

 

Imagem da Internet

 

A  grande exploração do ouro fez com que o precioso metal começasse  a diminuir nas minas, porém a Coroa não diminuía as cobranças. Nesta época, Portugal criou a Derrama que consistia no seguinte: cada região de exploração de ouro tinha de pagar 100 arrobas de ouro (1500 quilos) por ano para a metrópole.

Se não conseguissem pagar,  soldados da coroa retiravam das casas os pertences até completar o valor que seus moradores deviam.

Imagem da Internet

 

Uma das soluções era procurar outras terras. Mas veio o Movimento da Inconfidência Mineira. E uma outra causa da migração foi o fracasso do  movimento, que teve presença muito forte em Queluz, ficando uma situação perigosa para os parentes dos conjurados, com hostilidades, discriminações, perseguições  e sequestro de bens.

De acordo com Carrato, depois da Inconfidência Mineira  houve uma verdadeira diáspora em Minas, espalhando-se um grande número de pessoas das regiões auríferas, em migrações internas, para os extremos da Capitania (CARRATO, J.F., 1968; 218).

Isso aconteceu de maneira muito forte em Conselheiro Lafaiete, após a prisão dos inconfidentes, porque Tiradentes tinha familiares residentes no local, o mesmo acontecendo com Pe. Manoel Rodrigues da Costa, que se declarou nascido em Carijós nos Autos da Devassa. Assim levas de parentes dos envolvidos com o movimento foram embora para outros locais.

(Continua)

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 33

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE 33

 

 “Levados à presença do Barão de Caxias, o capitão Marciano

Pereira Brandão e o capitão Bento Leite, dele ouviram: ‘Homens

como os senhores não devem, não vão e não os prenderei. São vencedores

 e a Pátria reclama por homens valorosos. Como a lei tem de ser obedecida, ordeno que os senhores embrenhem pelo mato, mas presos nunca. ’”

Do livro: Caminhos do Cerrado, a Trajetória da Família Brandão

 

Continuamos a focalizar o MOVIMENTO LIBERAL DE 1842.

O principal vulto a ser focalizado neste evento é o estrategista MARCIANO PEREIRA BRANDÃO, assim, eis um pouco de sua história familiar, a partir do varão Manoel Pereira de Brandão ou Azevedo (meu septavô), um fazendeiro de São Gonçalo, da localidade de Queluz, casado com Jerônima do Pinho.

Igreja de São Gonçalo do Brandão, do século XVIII,construída por      Manoel de Azevedo Pereira Brandão, restaurada pela Gerdau

 

Marciano teve o nome inscrito na história de Minas Gerais pela sua brilhante atuação no Movimento Liberal de 1842, cujo cenário foram as províncias de São Paulo e Minas Gerais.

Conta o livro do CÕNEGO MARINHO, que participara do conflito, que o capitão MARCIANO BRANDÃO “aderiu cordialmente ao Movimento e que, com lealdade e zelo, serviu até o último instante”.

Em 1842, participou do MOVIMENTO LIBERAL, sobre o qual,  refugiado na fazenda do padre Gonçalo no município de Queluz. Escreveu.

Imagens da Internet

 

Estando Queluz sob o domínio dos Legalistas, e parecendo a situação impossível de reverter para um resultado positivo que premiasse os liberais, o CAPITÃO MARCIANO deu o seu parecer sobre a situação, dizendo que poderia tomar a vila de Queluz. Assim relata o Cônego Marinho:

“Propôs ele, então, que se lhe confiassem duzentos homens (talvez tenham tido dúvida sobre a eficiência do plano porque lhe confiaram apenas 150), com os quais iria, naquela mesma noite, sem que o pressentissem os Legalistas, ocupar as estradas de Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí; que no dia seguinte (25 [de julho]) fosse uma das colunas acampar defronte a Vila, na Estrada do Rio de Janeiro, e outra na de Itaverava, as quais deviam ir sucessivamente apertando o cerco até que os Legalistas se concentrassem todos na povoação, caso em que lhes seriam tomadas as fontes e eles, obrigados pela sede, entregar-se-iam à discrição).”

 Assim foi feito. Marciano Pereira Brandão, excelente estrategista, com sua proposta, levou os liberais à vitória. Aliás, QUELUZ foi o único lugar em que as tropas Legalistas foram vencidas, para se ver a importância do fato. Ao amanhecer do dia 26 de julho (data que deve ser sempre comemorada em nossa cidade), a tropa legalista, com lenços brancos na ponta das baionetas, entregou-se.

Foi assim que Marciano Pereira Brandão inscreveu seu nome nas páginas da HISTÓRIA DE MINAS GERAIS.

Assim terminou o MOVIMENTO:

“[…] os revoltosos perderam a batalha e a guerra, e foram presos em Santa Luzia o vigário Joaquim Camillo de Brito, capitão Pedro Teixeira de Carvalho, padre Manoel Dias do Couto Guimarães, Francisco Ferreira Paes, coronel João Teixeira de Carvalho, Theófilo Benedito Otoni, Dr. Joaquim Antônio Fernandes de Leão, Mariano José Bernardes e centenas de outros insurretos.

 Levados à presença do Barão de Caxias, o capitão Marciano Pereira Brandão e o capitão Bento Leite, dele ouviram: ‘Homens como os senhores não devem, não vão e não os prenderei. São vencedores e a Pátria reclama por homens valorosos. Como a lei tem de ser obedecida, ordeno que os senhores embrenhem pelo mato, mas presos nunca.’”

 

(Continua)

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 30

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 30

Seria essa alegria da Real Villa de Queluz uma herança vinda dos tempos do Arraial do Campo Alegre dos Carijós?

Sobre os primeiros tempos da Real Villa de Queluz, em fins do século XVIII e primeira metade do século XIX, e princípio da segunda metade, tem sido nosso informante FRANCISCO DE PAULA FERREIRA REZENDE, em seu excelente livro MINHAS RECORDAÇÕES, sendo que o autor foi juiz municipal de órfãos do termo de Queluz, para onde veio em 1857, sendo, portanto, uma testemunha ocular daqueles tempos em nossa terra.

Imagem da Internet

 

Imagem da Internet

Vou trazer mais um pouco das memórias do ilustre escritor e, assim, conhecer melhor a nossa história.

De acordo com Ferreira Rezende, quando ele chegou aqui, encontrou um lugar com considerável criação de animais, principalmente muares, boa cultura de cana e de posição excelente quanto a mantimentos, constituindo-se num dos melhores celeiros de Ouro Preto. Quanto à cidade, porém, achou-a pobre, devido, naturalmente à decadência do ouro na região.

Interessante é a sua declaração de que a vila parecia constituir uma só família, eram quase todos os habitantes aparentados. Mas passemos a palavra para o senhor juiz:

“Apesar da riqueza que lhe faltava, era Queluz uma povoação que nada tinha de desagradável ou de enfadonha; mas era, pelo contrário, uma povoação alegre, onde as festas eram freqüentes, variadas, bonitas e todas elas muito baratas; porque todos concorriam para elas com as suas pessoas ou com aquilo que podiam dar e muito pouco era o dinheiro que realmente se gastava.”

Seria essa alegria da Real Villa de Queluz uma herança vinda dos tempos do Arraial do Campo Alegre dos Carijós?

Vejamos uma importante atividade artística, naquele tempo, que havia nas terras de São Gonçalo do Brandão, povoado da Real Villa de Queluz.

AS COLCHAS DE SÃO GONÇALO… NA EUROPA!

Entre vários relatos interessantes, que encontramos, em sua obra, o seguintetrecho sobre nossa terra:

“Composto de campo e mato, a indústria do município em 1857 consistia: primeiro na criação de animais, sobretudo muares, cujo preço era de 50$000 mais ou menos na idade de um a dois anos; segundo, na cultura da cana em ponto maior ou menor; e terceiro, finalmente, na de mantimentos, para a qual a mata era boa e oscapões ainda melhores.

(…) Além dos tecidos de algodão para uso doméstico e que se encontravam por toda parte, havia na freguezia da vila uma fazenda ou um lugar chamado São  Gonçalo onde se faziam umas colchas ou antes cobertores de lã, alguns dos quais tinham no centro as armas imperiais, obra tão bonita e tão perfeita que apesar de ser o seu custo de 50$000, não era fácil de obtê-los; visto que, além de serem muito procurados, sobretudo para presentes, na Corte e na província, até para a Europa, segundo depois vim a saber, alguns foram, por intermédio de minha sogra, para as nossas princesas que ali residiam ou para encomendas destas.”

Há dessas colchas, com o bordado das armas imperiais, expostas na parede, no Museu Inconfidência de Ouro Preto. Achei linda a que estava exposta, quando fui lá.

A foto abaixo faz parte de uma colcha,  que  um historiador viu estendida em uma cama, em uma fazenda antiga, e a fotografou, passando-me uma cópia. Vejam os desenhos que lindos, semelhantes aos das famosas colchas da freguesia de Castelo Branco, em Portugal.

A referida colcha tem duas letras bordadas, B.P., as iniciais de seu dono, o Barão de Piratininga.

 

 

Viram como São Gonçalo do Brandão é importante na História do Século XIX

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 24

           GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 24

 

 … vejamos o caminho da posse da fazenda das Bananeiras,

por  conseguinte da estalagem: João Dias da Mota

era tio do Barão. 

Como vimos no artigo anterior, a Avenida Santa Matilde tem um passado muito importante porque foi um dos berços da Inconfidência Mineira DEVIDO À ESTALAGEM DAS BANANEIRAS. Vimos isso em artigo anterior, comprovamos que a estalagem que existia na Fazenda das Bananeiras era de João Dias da Motta.

Em documento do Arquivo Mineiro, consta que a fazenda das Bananeiras pertencia ao Barão de Suassuhí (forma do sobrenome assim grafada no documento). Esse documento é sobre as fazendas de Queluz, realizado a partir de 1856, por ordem do Presidente da Província.

Qual teria sido o caminho que levou a fazenda das mãos do Inconfidente até o Barão?

Antes quero dar informações exatas sobre a localização da estalagem. Ela ficava localizada na Avenida Santa Matilde, em frente à Escola Estadual Luiz de Mello Vianna Sobrinho, onde hoje há construções modernas.

Localização da Avenida Santa Matilde no bairro do mesmo nome/ Imagem da Internet

 

O historiador Luiz Fernando  passou para mim depoimentos que ele conseguiu de pessoas que conheceram o local enquanto a fazenda ainda existia e ajudaram na sua localização exata. De acordo com uma dessas informações, havia umas gameleiras na frente.

A fazenda chegou até o Barão por herança. Vou fazer um pequeno esboço genealógico o qual pode, até, levar algum leitor que se interesse por genealogia a verificar-se é parente do Inconfidente.

Barão e Baronesa de Suassuhy / Imagem da Internet 

Agora começa a ligação do Barão com o Inconfidente. Embora eu possua muitos dados, apenas farei um esboço para não ocupar demasiado espaço. O que vou apresentar foi feito fundamentado em estudos minuciosos do grande historiador e genealogista Joaquim Rodrigues de Almeida, Quincas de Almeida, como o chamavam.

João Dias da Mota, casado com Maria Angélica Rodrigues de Oliveira, não teve filhos. Seus pais eram Tomás Dias da Mota e Antônia Mariana do Sacramento.

Vou transcrever um documento para, depois, fazer os comentários e mostrar como acontece a ligação entre o João Dias da Mota, Inconfidente, com o Barão de Suassuhí.

“Em 1792, o vigário de Queluz, Padre Fortunato Gomes Carneiro, deu certidão dizendo que: No livro 3º de casamentos da Matriz encontra-se o registro do casamento, em 1777, na fazenda do Engenho, na capela particular da fazenda, o reverendo doutor Francisco Pereira de Santa Apolônia casou a Martinho Pacheco Lima, filho legítimo da Manuel Pacheco de Faria e de Francisca de Castro, natural da Ilha Terceira, da freguesia de S. Antônio, do bispado de Angra; com Joaquina Rosa de Jesus, filha legítima de Tomás Dias da Mota, defunto e de Antônia Maria do Sacramento 1848. Faleceu deixando os filhos: José Tomaz de Lima; Antônia Francisca de Paula, casada com Joaquim José Vieira; Maria Inácia Rodrigues; Ana Quirubina dos Anjos; Martinho Pacheco de Lima; Leocádia Felisberta de S. José, Fazenda da Rocinha.

Esse Martinho Pacheco de Lima (1) filho me Manuel Pacheco de Faria e de Francisca de Crasto (em alguns lugares Castro), neto pelo lado paterno de Antônio Pacheco Machado e de Anna Ferreira, neto pelo lado paterno de Manoel Correia Gomes e de Ursula de Crasto.”

Agora vejamos o caminho da posse da fazenda das Bananeiras, por  conseguinte da estalagem: João Dias da Mota era tio do Barão.

A ligação de parentesco do Inconfidente João Dias da Mota com o Barão de Suassuí, explica do motivo de o Barão ser citado com dono da Fazenda das Bananeiras no registro de fazendas de Queluz em meados do século XIX, de acordo o Índice das Terras de Queluz, que está no Arquivo Mineiro, e que também pode ser encontrado no Museu Antônio Perdigão.

Tomás Dias da Mota casou-se com Antônia Maria do Sacramento, filha de Martinho Pacheco de Lima (nascido no Porto Judeu, Ilha Terceira, Açores e Joaquina Rosa de Jesus). Moravam na Fazenda do Engenho do Caminho Novo do Campo, na Freguesia de Carijós (nossa Conselheiro Lafaiete). Eram os pais do Inconfidente João Dias da Mota. O historiador Joaquim Rodrigues de Almeida descobriu, em suas pesquisas, que a Fazenda do Engenho Novo era a mesma Fazenda das Bananeiras, assim também o Barão de Suassuí deve ter nascido onde tinha sido a Estalagem das Bananeiras. Agora vejamos o caminho da posse da fazenda das Bananeiras, por conseguinte da estalagem, porque João Dias da Mota era tio-avô do Barão.

Uma das irmãs de João, Maria Joaquina de Lima, moradora na Fazenda da Rocinha, em São Caetano da Paraopeba, era viúva, sem filhos, quando se casou com o Comendador e Capitão Mor José Ignácio Gomes Barbosa (pai do Barão de Suassuí), nascido no Rio de Janeiro, filho de Ignácio Gomes Barbosa e Maria do Rosário de Jesus. O Comendador e Maria Joaquina de Lima tiveram um filho, o Barão de Suassuí.

Aqui fica explicado o caminho da posse da fazenda das Bananeiras, por conseguinte da estalagem, porque João Dias da Mota era tio do Barão. O Inconfidente não teve filhos (se os teve por acaso, a família de alguma maneira ocultou o fato, senão as terras dele seriam confiscadas pela Coroa).

Assim, na divisão de heranças, do espólio onde estava inserida  a Fazenda das Bananeiras, teria ficado para seus pais e depois para o Barão. Está explicada a ligação acontecida através dos tempos.

Em 1823, o CAPITÃO JOSÉ IGNÁCIO GOMES BARBOSA, como vimos filho do capitão-mor José IgnÁcio Gomes Barbosa, casou-se com ANTÔNIA JESUINA DE MELLO, filha do alferes José Tavares de Melo e de d. Joana Marcelina de Magalhães. José Ignacio e Antônia Jesuína não tiveram filhos e, assim, a Fazenda das Bananeiras e outros bens passaram para o Capitão Antônio Furtado de Mendonça, casado com Maria José, irmã de Antônia Jesuína.

No próximo artigo vamos, então, ver o ramo da Família Furtado de Mendonça que faz parte da história da Avenida Santa Matilde, segundo informações no blog do grande genealogista Marcos José Machado Coelho, que tem várias raízes enterradas aqui em tempos de Carijós e Queluz. (blogger:maccoe.blogspot.com/2012/07/familia-furtado-de-mendonca.html.

(Continua)

 

 

 

 

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 23

   GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 23

 

É muito importante saber ,do modo mais amplo possível, o que

aconteceu no passado no passado em relação à Estalagem das Bananeiras, existente

onde atualmente é a Avenida Santa Matilde.

 

Ficou bem comprovado no artigo anterior que a Avenida Santa Matilde é um dos espaços importantes da história da Inconfidência Mineira por causa da Estalagem das Bananeiras, como se vê no artigo n° 3, em “Apostilas de História do Brasil/15 40   –   Fragmentos georreferenciados” …wikiurbs.info/mediawiki”:

 

Imagem da Internet

 

 “Pelo caminho, nos sítios por onde ia passando, em Varginha, perto de Queluz, na estalagem de João da Costa Rodrigues; em Bananeiras, no sítio de João Dias da Motta, vinha o alferes revoltoso fazendo a propaganda às escancaras, sem o menor disfarce ou cuidado.”

No mesmo artigo anterior há outras evidências do local e de seu dono. É muito importante que os habitantes desta avenida que está sendo focalizada saibam, de modo mais amplo possível, o que aconteceu nela no passado e que pessoas foram envolvidas nos eventos. Tiradentes, que pregava na Estalagem das Bananeiras, já é conhecido de todos. O que não parece acontecer mais detalhadamente como sobre o inconfidente estudado neste artigo, que era fazendeiro e amigo de Tiradentes.

Vou usar dados colhidos no site Genealogia Brasileira, do grande genealogista brasileiro Lênio Luiz Richa (lenioricha@yahoo.com.br).

Ouro Preto

 

Cacheu – África /Imagens da Internet

JOÃO DIAS DA MOTA, dono da ESTALAGEM DAS BANANEIRAS, que era localizada onde é hoje a Avenida Santa Matilde,  nasceu em Ouro Preto em 1743 e faleceu em Cabo Verde/África em 1793. Filho de Tomás Dias da Mota e de Antônia Mariana do Sacramento, Capitão do regimento de Cavalaria Auxiliar de SJ de El-Rei, no lugar denominado Glória. Em 1789, com 46 anos, era casado com Maria Angélica Rodrigues de Oliveira e residia em sua Fazenda do Engenho do Caminho Novo do Campo, na freguesia de Carijós.

“Foi denunciado por Basílio de Brito Malheiro do Lago, por estar entre os ouvintes das palestras na Estalagem da Varginha, no final de 1788.” (A.5.519 e “A Inconfidência Mineira”, de Márcio Jardim, fls. 195).

João Dias da Mota, no dia 24 de junho de 1792 foi embarcado para Lisboa, na fragata Golfinho, por condenação devido ao envolvimento com a Inconfidência Mineira.

Morreu em 1793 de uma epidemia que atingiu a vila de Cacheu, nove meses depois de ali ter chegado.

Imagem do Panteão / Imagem da Internet

Em 21 de abril de 2011, seus restos mortais foram repatriados da África para o Brasil em 1932, juntamente com os de José de Resende Costa e Domingos Vidal Barbosa, mas só em 21 de abril de 2011 foram colocados no Panteão do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, ao lado dos outros 13 inconfidentes que já repousavam lá desde quando o Panteão foi criado pelo Presidente Getúlio Dorneles Vargas.

Não terem sido colocados seus despojos lá na mesma época que os restos dos outros Inconfidentes deveu-se ao fato de haver dúvida nas identificações. Só há alguns anos, os estudos da Unicamp comprovaram que as ossadas eram mesmo dos três inconfidentes degredados e assim procedeu-se à sua incorporação ao Panteão. Rui Mourão, diretor do Museu da Inconfidência, falando sobre a colocação dos despojos desses três Inconfidentes no Panteão da Inconfidência, declarou:

“Tudo o que pudermos acrescentar à história da Inconfidência Mineira é importante, até porque esses personagens (José de Resende Costa, Domingos Vidal Barbosa e João Dias da Mota) deram contribuição efetiva ao movimento”.

Assim a Avenida Santa Matilde tem um passado muito importante porque foi um dos berços da Inconfidência Mineira por causa da Estalagem das Bananeiras.

 

No Arquivo Mineiro, consta que a fazenda das Bananeiras pertencia ao Barão de Suassuhí (forma do sobrenome assim grafada no documento). Esse documento é sobre as fazendas de Queluz, realizado a partir de 1856, por ordem do Presidente da Província.

Qual teria sido o caminho que levou a fazenda das mãos do Inconfidente até o Barão?

                                                                                  (Continua)

 

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 22

                        GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 22

 

Importantes notícias da região da Santa Matilde no passado vêm da história da Inconfidência Mineira.

Destaca-se bastante, e com merecida ênfase, quando o assunto é INCONFIDÊNCIA, na ESTALAGEM DA VARGINHA e na PASSAGEM DOS DESPOJOS DO INCONFIDENTE COM A RENOVAÇÃO DA SALMOURA DE SUA CABEÇA NUM RANCHO NA RUA DIREITA.

Tiradentes/ magem da Interne

 

Mas é necessário, também, estudar a importância da ESTALAGEM DAS BANANEIRAS, que se localizava no bairro SANTA MATILDE. Fala-se muito pouco sobre o local e sobre seu dono, o INCONFIDENTE JOÃO DIAS DA MOTTA.

Importantes notícias da região da Santa Matilde no passado vêm da história da Inconfidência Mineira:

[…] em Bananeiras, no sítio de João Dias da Motta, vinha o alferes revoltoso fazendo a propaganda às escâncaras, sem o menor disfarce ou cuidado.”

Vou transcrever alguma coisa que aparece no Google.  Exagero com as transcrições, mas tenho, com isto, o objetivo de documentar o mais amplamente possível a participação da região da Santa Matilde na Inconfidência Mineira com as conversas na Estalagem das Bananeiras, onde Tiradentes sempre pregava, entusiasmado e corajosamente, as suas idéias.

No livro História da Conjuração Mineira, página 51 – MultiAjuda V (não sei porque na fonte consultada não consta o autor), selecionei:

“No sítio das Bananeiras descansou o Tiradentes à sombra das árvores deitado negligentemente em uma esteira. Aí o foi encontrar o capitão João Dias da Mota, levado pela sua má estrela; e como se o malfazejo gênio tomara a figura do alferes, as suas palavras eram de perdição para aqueles que as ouviam! Declarou-lhe o alferes positivamente que vinha para o Rio de Janeiro tratar do levante por causa da derrama. Perguntou-lhe o capitão enquanto montaria a capitação. Respondeu o alferes que em cem arrobas para a Fazenda Real, cabendo oito oitavas a cada pessoa por ano. Voltou-lhe o capitão que não havia remédio senão pagar-se, e o Tiradentes erguendo-se furioso, calçou as botas, e declarou que não se pagaria por que tinham os mineiros por si pessoas muito grandes para se levantar e proclamar a república. Vendo-o o capitão tão inflamado, com os olhos injetados de sangue, e as faces afogueadas, procurou acalmá-lo, ponderando que o estabelecimento da república não seria mau, mas que nem se meteria nisso, nem queria falar ou saber de semelhante projeto.”

 Vejam  que relato bonito trazendo tão viva a memória do herói. Eu, que gosto de imaginar, vejo direitinho a cena, como se estivesse lá. Já li muita coisa sobre Tiradentes, mas como esse pequeno trecho… Senti estar presente naquele lugar, vendo Tiradentes em corpo, alma e temperamento…

 Nas   “Apostilas de História do Brasil/15 40   –   Fragmentos georreferenciados” …wikiurbs.info/mediawiki” também encontramos:

“Pelo caminho, nos sítios por onde ia passando, em Varginha, perto de Queluz, na estalagem de João da Costa Rodrigues; em Bananeiras, no sítio de João Dias da Motta, vinha o alferes revoltoso fazendo a propaganda às escâncaras, sem o menor disfarce ou cuidado.”

Autos da Devassa /Imagem da Internet

 

 Nos “Autos de Devassa da Inconfidência Mineira” no Capítulo XI, está o seguinte:

Testemunha 13°

João Dias da Mota, Capitão do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de São José, no Rio das Mortes, natural desta Vila Rica do Ouro Preto, Bispado de Mariana, morador no Engenho do Campo, que vive de roça, de idade de quarenta e seis anos, testemunha a quem ele dito Ministro deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que pôs sua mão direita, subcargo do qual lhe encarregou dissesse a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado, o que assim prometeu fazer como lhe era encarregado. E perguntado ele, testemunha, pelo conteúdo no Auto desta Devassa que todo lhe foi lido, disse que vindo em certa ocasião da sua fazenda para São Bartolomeu, em dias de março do corrente ano, encontrara nas Bananeiras, caminho do Rio de Janeiro, ao Alferes do Regimento Pago desta Capital, Joaquim José da Silva, por alcunha o Tiradentes; e sucedendo descansar, por causa do muito calor, no mesmo rancho em que o dito Alferes, este lhe disse: ‘Pois Vossa Mercê não sabe ainda o que vai de novidade?’ E respondendo-lhe ele, testemunha, que não, continuou aquele: ‘que já se tinha deitado a derrama e que cabia a pagar oito oitavas de ouro por cabeça’. Ao que lhe respondeu ele, testemunha: ‘E que remédio senão pagar? Quem tiver dinheiro, muito bem. E quem não o tiver, pagará com os bens ou fazendas que possuir’. A esta resposta, replicou o dito Alferes: — ‘Qual pagar! Vossa Mercê não sabe o que vai? Pois está para haver um levante tanto nesta Capitania, como nas do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Pará, Mato Grosso etc. E já temos a nosso favor França e Inglaterra, que há de mandar naus”. O que ouvindo ele, testemunha, absorto do que escutava, lhe perguntou: ‘Pois quem tem Vossa Mercê para esse levante?’ Ao que lhe respondeu o mesmo Alferes: ‘Temos pessoa muito grande!’ E instando ele, testemunha, por que lhe declarasse quem era, não foi possível tirar-lhe mais do que: — ‘que era uma pessoa muito grande, e que a seu tempo o saberia’. E refletindo-lhe no perigo que corria em tratar de semelhante matéria, e que não falasse em tal, lhe respondeu mais o dito Alferes: — ‘Pois que tem? Que tem? Prenderem-me? Pois se me prenderem, alguém me soltará’. Que tinha achado muito pusilânimes os filhos de Minas; e que estavam a atuar quatro Ministros, sem os quais se podia passar. E com estas razões se despediram, e ele, testemunha, seguiu seu caminho.”

Caminho Novo /Imagem da Internet

A ESTALAGEM DAS BANANEIRAS ficava no Caminho Novo, que era uma estrada construída por ordem do Rei. e por conta de seu tesouro era chamada de Estrada Real. Havia, no século XVII, muitos caminhos que levavam às Minas. O contrabando de ouro era muito e, por isso, a Coroa Portuguesa mandou construir trilhas por ela autorizadas para escoamento do precioso metal. Uma delas era o caminho que ligava Minas ao porto de Paraty.

O Caminho Novo só foi concluído em 1707.

O Arraial do Campo Alegre dos Carijós vibrou com sua chegada, porque isso iria facilitar muito as trocas de mercadorias: os produtos das roças indo para o Rio de Janeiro, de lá, vindo de Portugal, as preciosas garrafas de vinho do Porto, as postas de bacalhau, as especiarias vindas das Índias, tudo de bom que os navios traziam.

E onde o Caminho Novo, vindo por Amaro Ribeiro, chegou? Na região da Avenida Santa Matilde, onde ficava a Estalagem das Bananeiras, subindo por ela o morro e chegando ao alto do planalto, onde o arraial se expandia.

(Continua)

 

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 21

                        GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 21

 

O sal que a salgou

também salgou auroras e crepúsculos

salgou a Liberdade

Avelina

A Rua Direita, atualmente denominada Rua Comendador Baeta Neves, traz muitas cicatrizes relacionadas à Inconfidência Mineira em sua memória. Nela passaram os despojos de Tiradentes que pernoitaram em um arranchamento ali existênte , onde foi salgada a sua cabeça antes de seguirem a viagem para Vila Rica.

Foto de Carla Moreira dos Santos

 

Foto da Rua Direita (atual Comendador Baeta Neves) com a placa em um poste localizado na frente do local em que, em 1792, havia um arranchamento onde a cabeça foi salgada e pernoitou. Salmoura é uma solução de água saturada de sal. ABAIXO A FOTO SEPARADA DA PLACA DIZENDO QUE AQUI SE RENOVOU A SALMORA DA CABEÇA DE TIRADENTES

Foto de Valéria Higino da Silva

Em nossa cidade foram colocadas em postes duas pernas de Tiradentes, uma delas na Varginha do Lourenço, perto da divisa com Ouro Branco, à margem da Estrada Real. Nessa estalagem Tiradentes pernoitava e fazia reuniões secretas, contando com a simpatia do dono da hospedaria.

Estalagem da Varginha Imagem de acervo pessoal

Na estalagem se fecha com chave de ouro o percurso do Caminho Novo em  terras de Conselheiro Lafaiete.

Estalagem da Varginha – Pintura a óleo de Cidinha Dutra

Do Diário de D. Pedro, quando de sua visita a Minas Gerais em 1881:

“Varginha − Casa onde se reuniram os inconfidentes. Pertencia, então, a um hospedeiro de nome João da Costa. Vi a mesa e bancos corridos, de encosto, onde se assentavam. São de maçaranduba e estão colocados na varanda. Reparando que não houvessem conversado no interior da casa, disse-me o dono dela, que havia vedetas* (*vigias) para avisá-los.”

 

— Assinando José Códea, Angelo Agostini como enviado da “Revista Illustrada”, desenhou os móveis citados e escreveu: “Na casa de Manoel Alves Dutra, na Varginha, existem dois bancos e uma mesa, feitos de maçaranduba, que serviram nas conferências dos Inconfidentes, sob a direção do grande cidadão Tiradentes. Hoje, serve para comer-se boas feijoadas com cabeça de porco (tempora mutantur!)”

Li, certa vez, que meninos ficavam no caminho próximo à estalagem e, quando vinham soldados, soltavam papagaios.

Esse lugar histórico ocupa um  lugar especial nas minhas memórias de professora pois, em fins do século XX, com uma turma de alunos do 2º Grau do Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”, ali realizei uma atividade pedagógica. Sentados à sombra da Gameleira da Varginha, ainda em todo o seu esplendor, à semelhança de Tiradentes e os inconfidentes, fizemos uma reunião para falar também sobre Liberdade.

Depois, como o fizera Tiradentes, um aluno levantou-se, estendeu o braço em determinada direção, dizendo que ali construiriam uma grande indústria. Prodigiosamente, naquele lugar indicado por Tiradentes, ergue-se hoje, imponente e poderosa, a Açominas.

Pouco tempo depois, a gameleira caiu, mas o testemunho das fotos tiradas por Alexandre, que nos acompanhou com a orientadora Maria do Carmo, deixaram as cenas gravadas como lembrança de uma atividade cívica.

As ruínas da estalagem, o que resta da gameleira e o belo monumento são marcas que o lafaietense muito preza.

 

Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 20

                     GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 20

Imagem da Internet

            AS NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE CHEGAM AGORA AO FINAL DO SÉCULO XVIII, quando aconteceu o martírio de Joaquim José da Silva Xavier.

.

  EU,  TIRADENTES

Avelina Maria Noronha de Almeida

 

Mais uma vez percorro estes caminhos

já  agora sem a sofreguidão da carne

Nas trevas o matagal faísca

Na longa caminhada

foram ficando

pedaços mutilados

enrijecidos

Chego ao destino final

a Praça da Ignomínia

Do Palácio me contemplam

cheios de ódio?

de escárnio?

de glória?

E nas frestas das janelas

olhos espiam

curiosos

temerosos

– compadecidos? –

o que resta do meu corpo

A vida foi expulsa

pelo fervilhar do ódio

na força da prepotência

Soprai forte, todos os ventos

sobre minha cabeça

– não a corrompida pela morte –

mas a que paira no ar

incorruptível

soberana

O sal que a salgou

também salgou auroras e crepúsculos

salgou a Liberdade

Arrancai dela, todos os ventos

sonhos e ideais

Levai-os a cada estrada

ou caminho

a cada monte

ou colina

a cada rio

ou riacho

para ficarem à espera

da alma forte e predestinada

que atiçará a fagulha

Na morte ainda serei chama!

           CHEGAMOS, À NOSSA RECORDAÇÕES DOS TRISTES MOMENTOS DA PASSAGEM DOS RESTOS MORTAIS DE TIRADENTES.

 

Maio de 1792 – Os despojos de Tiradentes passaram pela vila, sendo renovada a salmoura de sua cabeça no patamar de um rancho na Rua Direita, atual Rua Comendador Baeta Neves, onde pernoitou. Este rancho se localizava logo acima da Farmácia Droganova, em frente à extremidade inferior do Colégio Nossa Senhora de Nazaré.

Minha mãe dizia  que uma perna teria ficado em um poste que ficava em frente à entrada da Rua Francisco Lobo. Também o historiador queluziano Vicente Racioppi um dia, da sacada da casa de D. Gabriella Mendonça, hoje Casa da Cultura, disse também que a perna esquerda de Tiradentes, ficava numa lata com querozene, em um poste que ficava em frente à atual Rua Francisco Lobo.

SOBRE A PASSAGEM DOS RESTOS MORTAIS DE TIRADENTES temos um trecho do belíssimo poema da queluziana RITA DE CÁSSIA DE ANDRADE NETTO, nascida em Itaverava, A HISTÓRIA LÍRICA DE CONSELHEIRO LAFAIETE.

 

RUA DIREITA, atual Comendador Baêta Neves

Imagem da Internet

 Este é o trecho do poema de RITA DE CÁSSIA:

“Ó Rua Direita, estremece,

Pasma de estupor.

Cerrem as casas tristemente

A pálpebra das janelas

E as enferrujadas aldravas

Silenciosas e quedas permaneçam.

O anjo da Liberdade passará

Nessa grande noite,

E todas as portas hão de ser marcadas

Com sangue do Primogênito.

 

Ó estigmatizada Rua Direita,

Deixa escorrer um rio de sal

Por entre as pedras testemunhas.

Esconde a vergonha no véu de tuas janelas:

A cabeça do Alferes repousa no sonho impossível.

Os olhos vidrados do Alferes

Voltam-se para os lados da Varginha,

Que a boca intumescida do Alferes

Parou nas sílabas proibidas

Da palavra – Liberdade.”

                                                                                         (Continua)

about

Be informed with the hottest news from all over the world! We monitor what is happenning every day and every minute. Read and enjoy our articles and news and explore this world with Powedris!

Instagram
© 2019 – Powedris. Made by Crocoblock.