Custo da injustiça: Denúncias de dano moral por prisão mais do que dobram em MG

Levantamento feito pelo TJMG a pedido de O TEMPO apontou que pedidos de indenização por esse motivo passaram de 316 para 705 no Estado, entre 2020 e 2022

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) mapeou, para a série de reportagens O custo da injustiça, de O TEMPO, o número de processos com pedido de indenização por dano moral por prisão de 2020 a 2022 em primeira e segunda instâncias, além do Juizado Especial. De 2020 para 2022, a quantidade de pessoas que buscaram a reparação mais do que dobrou, com alta de 123%, ao passar de 316 para 705 no Estado. O órgão não soube informar quantas dessas solicitações foram julgadas procedentes, mas o número já indica o nível de questionamento das decisões da Justiça.  

Segundo a advogada e diretora do Innocence Project Brasil, Dora Cavalcanti, falta no Brasil uma ferramenta que permita captar o real problema. “Nos Estados Unidos, existe uma ferramenta estatística criada por duas universidades, que é um banco nacional de exonerados. Ela lança os casos de pessoas presas condenadas que tiveram os recursos analisados e mantidos para, anos depois, terem a inocência comprovada. A base de dados é uma luz para quem está preso esquecido no cárcere sem ter cometido crime algum. Existem casos de pessoas encarceradas por crimes que nem sequer aconteceram”, diz.  

O processo de busca de reparação não é simples também. Com a comprovação de que não foi o responsável pelo assassinato da ex-namorada e do próprio filho de 5 meses e a conquista da liberdade após dois anos e cinco meses de prisão, Thiago Paulino Simões, 36, tenta na Justiça uma indenização. Ele pediu pouco mais de R$ 2 milhões por danos morais pelos anos indevidos no cárcere. No entanto, teve o pedido negado tanto pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) quanto pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). 

De acordo com o advogado criminalista que acompanhou o caso desde o início, Luiz Claiton Borges de Oliveira, a Justiça entendeu que não houve erro porque, na época, existiam provas suficientes para manter Thiago preso como principal suspeito do duplo homicídio. “Por isso, entendeu-se que não existia a possibilidade de indenização”, explica. 

Thiago Colnago, juiz auxiliar da presidência do TJMG, defendeu que, se a conclusão de um juiz é equivocada, não necessariamente pode-se atribuir o erro ao juiz. “As provas que entraram no processo foram produzidas pela defesa e pela acusação, não pelo magistrado”, defendeu.  

No entanto, como alerta a advogada e diretora do Innocence Project Brasil, Dora Cavalcanti, nem sempre os investigadores envolvidos no caso têm tempo ou estrutura suficiente para juntar a quantidade necessária de provas para subsidiar a tomada de decisões. Em crimes de grande repercussão, em que há uma pressão da sociedade, a urgência de soluções pode levar a injustiças. 

“Quando há uma pressão social, há o risco de se ter a visão de túnel, ou seja, focada em uma única direção. Nessa situação, é apresentado só um culpado, e não necessariamente o correto. Nos casos de feminicídio, por exemplo, o cônjuge está sempre na linha de frente e é a resposta mais rápida e fácil. Mas, em uma investigação, é preciso manter a cabeça aberta”, afirma.  

Efeito do preconceito

No entendimento da diretora nacional do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Fernanda Valle, as prisões injustas são um problema de todo o sistema de Justiça brasileiro e são, em partes, explicadas por preconceitos enraizados na sociedade.  

“As pessoas que moram nos bairros de classe média, ou os brancos, não são tão perseguidas quanto os pobres e os negros. Algumas abordagens são feitas para poder prender, eles não querem saber se são culpados ou inocentes. Há promotores que são mais preocupados em punir do que em exercer o papel de ver se é caso de punição. Por fim, os juízes têm muitos processos e, é claro, nem todos conseguem ler tudo. Então passa muita coisa batida. Portanto, todos os atores judiciais, na verdade, têm a sua parcela de responsabilidade”, diz Fernanda. 

Para o presidente da Comissão de Promoção de Igualdade Racial da Associação Nacional da Advocacia Criminalista, Gilberto Silva, o racismo impacta de alguma forma desde as abordagens policiais nas ruas até o julgamento e permite a reprodução de injustiças. “Estamos em uma sociedade que criminaliza a pele negra, e as forças policiais e o Judiciário não estão em uma bolha”, afirma.  

O coronel de reserva da Polícia Militar Gedir Christian Rocha explica que a corporação é reflexo da sociedade em que está inserida. “A PM é a única instituição que pode prender só com flagrante e testemunha e não tem tempo de confirmar. Se o autor é o indicado pela vítima ou não, cabe à Justiça e à Polícia Civil apurar”, diz. 

FONTE O TEMPO

Custo da injustiça: Denúncias de dano moral por prisão mais do que dobram em MG

Levantamento feito pelo TJMG a pedido de O TEMPO apontou que pedidos de indenização por esse motivo passaram de 316 para 705 no Estado, entre 2020 e 2022

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) mapeou, para a série de reportagens O custo da injustiça, de O TEMPO, o número de processos com pedido de indenização por dano moral por prisão de 2020 a 2022 em primeira e segunda instâncias, além do Juizado Especial. De 2020 para 2022, a quantidade de pessoas que buscaram a reparação mais do que dobrou, com alta de 123%, ao passar de 316 para 705 no Estado. O órgão não soube informar quantas dessas solicitações foram julgadas procedentes, mas o número já indica o nível de questionamento das decisões da Justiça.  

Segundo a advogada e diretora do Innocence Project Brasil, Dora Cavalcanti, falta no Brasil uma ferramenta que permita captar o real problema. “Nos Estados Unidos, existe uma ferramenta estatística criada por duas universidades, que é um banco nacional de exonerados. Ela lança os casos de pessoas presas condenadas que tiveram os recursos analisados e mantidos para, anos depois, terem a inocência comprovada. A base de dados é uma luz para quem está preso esquecido no cárcere sem ter cometido crime algum. Existem casos de pessoas encarceradas por crimes que nem sequer aconteceram”, diz.  

O processo de busca de reparação não é simples também. Com a comprovação de que não foi o responsável pelo assassinato da ex-namorada e do próprio filho de 5 meses e a conquista da liberdade após dois anos e cinco meses de prisão, Thiago Paulino Simões, 36, tenta na Justiça uma indenização. Ele pediu pouco mais de R$ 2 milhões por danos morais pelos anos indevidos no cárcere. No entanto, teve o pedido negado tanto pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) quanto pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). 

De acordo com o advogado criminalista que acompanhou o caso desde o início, Luiz Claiton Borges de Oliveira, a Justiça entendeu que não houve erro porque, na época, existiam provas suficientes para manter Thiago preso como principal suspeito do duplo homicídio. “Por isso, entendeu-se que não existia a possibilidade de indenização”, explica. 

Thiago Colnago, juiz auxiliar da presidência do TJMG, defendeu que, se a conclusão de um juiz é equivocada, não necessariamente pode-se atribuir o erro ao juiz. “As provas que entraram no processo foram produzidas pela defesa e pela acusação, não pelo magistrado”, defendeu.  

No entanto, como alerta a advogada e diretora do Innocence Project Brasil, Dora Cavalcanti, nem sempre os investigadores envolvidos no caso têm tempo ou estrutura suficiente para juntar a quantidade necessária de provas para subsidiar a tomada de decisões. Em crimes de grande repercussão, em que há uma pressão da sociedade, a urgência de soluções pode levar a injustiças. 

“Quando há uma pressão social, há o risco de se ter a visão de túnel, ou seja, focada em uma única direção. Nessa situação, é apresentado só um culpado, e não necessariamente o correto. Nos casos de feminicídio, por exemplo, o cônjuge está sempre na linha de frente e é a resposta mais rápida e fácil. Mas, em uma investigação, é preciso manter a cabeça aberta”, afirma.  

Efeito do preconceito

No entendimento da diretora nacional do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Fernanda Valle, as prisões injustas são um problema de todo o sistema de Justiça brasileiro e são, em partes, explicadas por preconceitos enraizados na sociedade.  

“As pessoas que moram nos bairros de classe média, ou os brancos, não são tão perseguidas quanto os pobres e os negros. Algumas abordagens são feitas para poder prender, eles não querem saber se são culpados ou inocentes. Há promotores que são mais preocupados em punir do que em exercer o papel de ver se é caso de punição. Por fim, os juízes têm muitos processos e, é claro, nem todos conseguem ler tudo. Então passa muita coisa batida. Portanto, todos os atores judiciais, na verdade, têm a sua parcela de responsabilidade”, diz Fernanda. 

Para o presidente da Comissão de Promoção de Igualdade Racial da Associação Nacional da Advocacia Criminalista, Gilberto Silva, o racismo impacta de alguma forma desde as abordagens policiais nas ruas até o julgamento e permite a reprodução de injustiças. “Estamos em uma sociedade que criminaliza a pele negra, e as forças policiais e o Judiciário não estão em uma bolha”, afirma.  

O coronel de reserva da Polícia Militar Gedir Christian Rocha explica que a corporação é reflexo da sociedade em que está inserida. “A PM é a única instituição que pode prender só com flagrante e testemunha e não tem tempo de confirmar. Se o autor é o indicado pela vítima ou não, cabe à Justiça e à Polícia Civil apurar”, diz. 

FONTE O TEMPO

Mineração: Vale do Alto Paraopeba, pânico e injustiças

Audiência Pública em Moeda não aprovou empreendimento da Gerdau 

Populações que habitam o ‘Vale do Alto Paraopeba’, e vivem próximas às barragens de mineradoras, vivenciam insegurança, pânico e medo. A insustentável tragédia humana, social, política e econômica, ocorrida em Brumadinho, provocou expectativa de novos rompimentos. As mineradoras, em especial, a VALE S.A. ficaram expostas, pelo trato desrespeitoso para com o ambiente. A falta de transparência e seriedade na conduta dos negócios da empresa mudou o comportamento e opinião dessas populações. Brumadinho e Mariana mostraram o quanto se desrespeitam montanhas, nascentes, patrimônios naturais e culturais, sobretudo, as águas; mais um rio foi morto por substâncias que tornaram impróprias suas águas: Paraopeba!

Audiência Pública em Moeda não aprovou empreendimento da Gerdau/Foto: Tarcísio Martins

Belo Vale, Jeceaba, Moeda, Congonhas, Brumadinho são cidades da Zona Central do estado, que se formaram às margens do Rio Paraopeba. Nas encostas da Serra da Moeda – Reserva da Bioesfera pela UNESCO, em 2005 – estão os aquíferos que abastecem o Paraopeba. E, onde se situam comunidades tradicionais e quilombolas; patrimônio natural com fortes referências de vida. À exceção de Moeda, que detém um decreto municipal, que não se permite a exploração mineral em seu território, os demais municípios tiveram influências da mineração predatória, desde o Ciclo do Ouro.

A Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (APHAA-BV), criada em 1985, tem bom conhecimento dos impactos e conflitos sociais das mineradoras, em Minas Gerais. Enfrentou desmatamentos, incêndios, destruição de nascentes, a degradação da serra. Relacionou-se com moradores das comunidades da encosta da Serra da Moeda. A maioria defendia as mineradoras por gerar trabalho para suas famílias. Embora, morando em áreas caracterizadas por baixa infra-estrutura social, marcadas pela poluição, barulho de explosões, e constantes falta de água.

A tragédia de Brumadinho veio forte. Provocou impacto na relação dessas populações com as mineradoras. Trouxe insegurança e sensação de fragilidade para suas vidas. As mortes de trabalhadores bateram fortes nos corações das famílias atingidas e sociedade em geral. Em Congonhas, Jeceaba e Belo Vale paira o medo de serem arrastadas pela lama.

As mineradoras perderam credibilidade pelo desrespeito à vida, à paisagem cênica e qualidade das águas. Elas estão com suas condutas abaladas pela opinião pública e precisam se reinventar; ser verdadeiras para que se possam implantar novos empreendimentos. Recentemente, o prefeito de Belo Vale declarou que não dará anuência – Carta de Conformidade – para expansão de empreendimento, que a VALE S.A pretende instalar na Serra dos Mascates, em área de preservação, próximo à nascente de Água Fria, onde se capta a água para a cidade. Em Jeceaba, moradores temem pela barragem da Ferrous, situada em Caetano Lopes e não querem a construção de mais duas previstas. Vice prefeito diz que a administração não irá aceitar que uma nova barragem seja erguida.

Em Moeda, Audiência Pública realizada na Câmara Municipal, em 13 de abril, avaliou um pedido de licenciamento da Gerdau S.A, para dar continuidade às operações da mina de Várzea do Lopes. O evento atraiu centenas de cidadãos e representantes de organizações não governamentais das cidades vizinhas. A empresa quer instalar seu projeto, em um ‘Corredor Ecológico’, situado entre áreas protegidas e o ‘Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda’ (Mona), no Vetor Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

“Moeda tem que aprender a viver sem o uso de explorações inadequadas. As leis de tombamento municipal e estadual serão cumpridas, e não irei permitir mineração em Moeda até o fim de meu mandato”, afirmou Leonardo de Moura Braga, prefeito de Moeda/Foto: Tarcísio Martins

O projeto da Gerdau foi rejeitado por unanimidade. Citações sobre o ocorrido em Brumadinho e Mariana e frases como: “Não queremos migalhas de impostos”; “Respeito às nascentes e que as minas de água sejam mais importantes que as de minérios”, ecoaram pelo Plenário.

O prefeito de Moeda tem planos de transformar o município em um “Parque Verde”, e reconhece seu potencial para o turismo natural. “Moeda tem que aprender a viver sem o uso de explorações inadequadas. As leis de tombamento municipal e estadual serão cumpridas, e não irei permitir mineração em Moeda até o fim de meu mandato”, afirmou Leonardo de Moura Braga. Caso prevaleça a decisão da Audiência Pública, o município consolida-se como o único do “Quadrilátero Ferrífero”, que através de Decreto Municipal de 2002, não permite mineração em seu território.

Que a Serra da Moeda, “Monumento Natural da Humanidade”, ganhe um forte abraço no dia 21 de abril!

Tarcísio Martins, jornalista e professor e coordenador de projetos da APHAA-BV.

Leia também: Gerdau está próxima de licenciamento na Serra da Moeda e suas nascentes no caminho da mineração

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