O rompimento, que atingiria a escola, é uma projeção feita pela Vale num cenário em condições extremas.
A Prefeitura afirmou, nesta sexta (15/3), em nota, que não procede a informação de que haveria risco de rompimento da barragem de Cata Branca com potencial de afetar a Escola Municipal Laura Queiroz.
A Prefeitura, no entanto, sabe que os riscos não são de 0%, mas, de fato, são remotos. Caso fosse impossível tal tragédia, não estaria inclusa nas projeções da Vale – tendo como perspectiva um estouro dessa barragem (em condições extremas).
Com a nota, o Município tenta tranquilizar a população e os profissionais da Educação da escola (onde estudam centenas de crianças). Profissionais esses que há tempos pedem o remanejamento dos alunos da Laura Queiroz por causa da quantidade enorme de poeira que vem da Siderúrgica Itabirito. Com as informações sobre barragem, os ânimos na instituição de ensino ficaram ainda mais acirrados.
A remota probabilidade de rompimento faz parte de uma projeção extremada divulgada em 1ª mão pelo Radar Geral apresentada aos profissionais da escola pela Defesa Civil Municipal e pela Vale (dona da barragem em questão). Estudos desse tipo têm como base um cenário de possibilidade longínqua, com a barragem na capacidade máxima (hoje está com um terço daquilo que comporta) e com muita chuva.
Leia a nota da Prefeitura:
A Prefeitura de Itabirito esclarece que não procede a informação de que há risco de rompimento de barragem com potencial de afetar as instalações da escola.
Na verdade, a partir de abril, a mineradora Vale realizará Intervenções para descaracterização de um dique localizado na Mina de Cata Branca. A estrutura, que não é utilizada no processo produtivo, tem documentação regular e não apresenta nível de emergência.
A descaracterização, que será realizada a fim de atender à legislação atual, eliminará qualquer possibilidade de transtornos futuros em caso de chuvas recordes.
Por fim, a Prefeitura esclarece que, por meio da Defesa Civil Municipal, monitora em tempo real a situação do local a fim de garantir transparência e conforto à população.
Na nota, no entanto, a Prefeitura não fala a respeito do treinamento de evacuação ao qual a população (na escola, na siderúrgica, além dos moradores locais) será submetida como treinamento em caso de a barragem se romper em meio a um cenário hipotético e catastrófico.
O outono começa oficialmente no dia de 20 de março, às 00h06, e se estende até às 17h51 do dia 20 de junho, pelo horário de Brasília. Já teremos mudanças nas condições de tempo no primeiro dia da nova estação, devido ao avanço de uma nova frente fria.
A passagem do sistema na noite da quarta-feira (20), vai aumentar a condição de temporal sobre o oeste e sul do Rio Grande do Sul; teremos muita entrada de umidade já provocando mais nuvens de chuva na metade norte do estado gaúcho e o risco de temporal aumenta na Serra e na capital Porto Alegre. Santa Catarina, Paraná e São Paulo, ainda terão um primeiro dia de outono quente e abafado, com condição de pancadas moderadas a forte a partir da tarde.
Risco de temporais aumenta
A madrugada de quinta-feira (21), vai ser instável sobre algumas cidades do centro-sul do Rio Grande do Sul e até mesmo Porto Alegre pode receber volumes mais significativos durante a madrugada e as primeiras horas do dia, mas com a chuva perdendo força à tarde e à noite. Com o avanço do sistema em direção ao Sudeste, as pancadas ganham mais intensidade em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, litoral sul do Rio De Janeiro e na divisa dos dois estados com Minas Gerais. Neste dia, o risco de temporais aumenta – inclusive nas capitais. Atenção para agitação marítima no litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
A atmosfera terá mais umidade, o que volta a favorecer o crescimento de nuvens carregadas sobre o leste e sul do Mato Grosso do Sul e no Triângulo Mineiro.
A passagem desta frente fria encerra o período de bloqueio atmosférico e marca o fim da onda de calor no país. Teremos a entrada de um pouco de ar frio que vai aliviar o calor intenso em muitos estados brasileiros; a semana vai terminar com temperaturas mais baixas no Sul e no Sudeste e diminuição das temperaturas altas no Centro-Oeste do país.
Na sexta-feira (22), teremos condição de tempo fechado na região do Vale do Itajaí, no litoral e leste do PR, no sul de SP, incluindo o litoral e na RMSP, além de tempo severo e chuvoso no centro-sul do Rio de Janeiro, podendo acarretar transtornos na baixada fluminense. Cidades do sul de Minas, região da Zona da Mata e parte do sul do Espírito Santo ficam em alerta para o risco de temporais. O mar fica agitado no Sul, em SP e no RJ neste dia.
O povoado, localizado em Frutal, no Triângulo Mineiro, que já teve centenas de moradores, atualmente conta com cerca de 20 pessoas
O povoado de Água Santa, localizado no município de Frutal, no Triângulo Mineiro, corre o risco de desaparecer. O local, que já contou com centenas de moradores e também com escola municipal e unidade básica de saúde, atualmente conta com cerca de 20 pessoas e várias casas abandonadas.
“Após a vinda das usinas de cana-de-açúcar para Frutal, há mais ou menos 20 anos, a população do povoado foi diminuindo aos poucos. Muitas pessoas de lá trabalhavam para pecuaristas, tirando leite e morando no povoado. Mas, nos últimos anos, muitas famílias se mudaram para a cidade e trabalham nas usinas”, contou Lourdes Silva, de 63 anos, que mora em um sítio próximo ao povoado. Ela é filha de Dona Maria das Dores Silva, que deu nome ao povoado e é famosa entre romeiros de todo o país, que acreditam que ela viu Nossa Senhora Aparecida, em uma mina d’água do povoado, quando era criança. Dona Maria da Água Santa morreu em 12 janeiro de 2021, aos 86 anos.
A filha da Dona Maria lamentou que, hoje em dia, o entorno do Povoado de Água Santa está, praticamente, tomado pelas plantações de cana-de-açúcar. “Muitos fazendeiros arrendaram as suas terras para essa cultura e, além disso, muitos antigos moradores morreram. A tendência então é não existir mais moradores no povoado, já que muitos deles são idosos”, acredita.
História do Povoado de Água Santa
Na época que Maria das Dores Silva era criança, ela disse aos familiares que teve uma visão de Nossa Senhora Aparecida, que lhe disse que a água de uma fonte do povoado era santa e a aconselhava a passá-la pelo corpo e bebê-la.
Ainda conforme relatos da família de dona Maria, ela sofria de diversos males no organismo, sendo que após obedecer a Santa, teria recebido um milagre e se curado dos problemas de saúde.
Mais tarde, já adulta, Maria das Dores pediu para que fosse construída uma capela, logo acima da mina d’água, que foi inaugurada em 13 de maio de 1963.
Dona Maria é conhecida por milhares de fiéis e romeiros de todo o Brasil, que acreditam que ela realmente viu a imagem de Nossa Senhora Aparecida em uma mina de água. Todos os anos, no dia 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, vários romeiros de várias partes do Brasil visitam o povoado.
Em 12 de janeiro de 2021, dia da morte de Dona Maria, a Prefeitura Municipal de Frutal (PMU) decretou luto de três dias.
Segundo certidão de óbito da Santa Casa da Misericórdia, de São José do Rio Preto (SP), a causa da morte de dona Maria foi insuficiência respiratória aguda.
Ambientalistas estão indignados com anuência do prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo para nova mineração em Antônio Pereira. A decisão da prefeitura foi tomada sem avaliação do Codema – Conselho Municipal de Defesa e Conservação do Meio Ambiente. A mineração traria inúmeros impactos para os cinco mil moradores de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, além de colocar em risco o Santuário de Nossa Senhora da Lapa, esculpido dentro de uma gruta. Ouça.
Dois buracos, que anualmente surgem no mesmo local, perturbam a vida dos motoristas na MG 383, em Entre Rios de Minas, perto da entrada da Fazenda Rima, local onde próximo ocorreu um acidente que vitimou 3 jovens há menos de 15 dias. Ainda ontem (18), a noite nossa reportagem recebeu imagens que 5 carros tiveram seus pneus furados ao passar por uma das crateras.
Além do medo, muitos arriscam desviar dos buracos e invadir a pista contrária, aumentando o risco de acidentes e tragédias anunciadas. Alô Zema, olhem pelas estradas de nossa região!
Pessoas em ramos de trabalho fisicamente exigentes tinham cerca de 15,5% mais probabilidade de comprometimento cognitivo
De acordo com um estudo detalhado na revista científica The Lancet, pessoas que trabalham em empregos mais exigentes fisicamente podem ter maior probabilidade de desenvolver demência.
Isso porque trabalhar consistentemente em uma ocupação que exige mais do físico estava associado a um risco aumentado de comprometimento cognitivo.
O estudo foi elaborado por uma equipe internacional em colaboração com o Centro Nacional Norueguês de Envelhecimento e Saúde e o Centro de Envelhecimento Butler Columbia.
Quais as profissões que mais podem causar demência?
Para entender a possível relação, os pesquisadores chegaram a esta conclusão examinando dados de 7 mil idosos da Noruega com 70 anos ou mais e que trabalharam entre os 33 e 65 anos.
Trabalhos exigentes foram definidos como aqueles que “exigem um uso considerável dos braços e pernas e movimentação de todo o corpo, como escalar, levantar, equilibrar, andar, inclinar-se e manusear materiais”. Essas profissões incluem vendedores – varejo e outros – auxiliares de enfermagem, agricultores e produtores de gado.
Do total, 902 foram diagnosticados com demência mais tarde na vida, enquanto 2.407 sofriam de comprometimento cognitivo leve (que os autores observaram não necessariamente leva à demência).
Os investigadores revelaram que as pessoas em ramos de trabalho fisicamente exigentes tinham cerca de 15,5% mais probabilidade de desenvolver demência, em comparação com apenas 9% de profissões menos exigentes.
Os pesquisadores deduziram que havia vários motivos para suas descobertas, nomeadamente a destruição que esses shows causam no corpo e na mente.
Situação foi descrita em pesquisa publicada na revista científica Science of the Total Enviroment
Quatro barragens da Vale em Brumadinho estão em áreas de alto risco. Isso é o que aponta uma pesquisa publicada na edição de fevereiro da revista científica Science of the Total Enviroment e realizada pela Unesp, instituições mineiras e de Portugal.
Segundo a pesquisa, pelo menos quatro das seis barragens instaladas na mesma bacia daquela que se rompeu em 2019 teriam alto risco de rompimento por causa das características do solo.
Conforme os responsáveis pela pesquisa, foram analisados aspectos geomorfológicos como declividade do terreno e a quantidade de cursos d’água que a bacia hidrográfica pode ter. Bacias com maiores declives ou com mais cursos d’água apresentam risco geomorfológico maior.
O estudo analisou 36 unidades de resposta hidrológica para identificar os parâmetros e classificaram os indicadores de vulnerabilidade de 1 a 5 de acordo com a sua gravidade. Áreas que tiveram, na soma dos seus indicadores, resultados entre 15 e 20 foram classificadas como de risco alto e aquelas que tiveram valores superiores a 20, como de risco muito alto.
A unidade onde estava a barragem B1 – que se rompeu em 2019 – teve saldo 17 e foi classificada como de risco alto. Ainda foram classificadas como unidades de alto risco em Brumadinho as barragens: BVII, BVI, Menezes 1 e Menezes 2. A BVII, inclusive, está em uma região com risco superior ao que apresentava a B1.
O que dizem os órgãos
A Agência Nacional de Mineração é a responsável pela classificação dos riscos das barragens e afirma que no país há 64 barragens listadas como de risco alto. A ANM destaca que mede a geomorfologia das regiões e entrega estas análises às mineradoras para que possam fazer seu Processo de Gestão de Riscos para Barragens de Mineração.
Sobre a situação de suas barragens, a Vale afirmou que BVII, BVI, Menezes 1 e Menezes 2 não estão em nível de emergência, estão estáveis e possuem declaração de condição de estabilidade emitida por empresa externa. A empresa destacou ainda que estas barragens não foram construídas pelo método a montante, como era o caso da barragem que se rompeu.
Todos os anos, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) atende mais de mil ocorrências envolvendo casos de afogamento em todo o estado e uma média de 200 casos de óbitos por ano. Boa parte desses eventos acontecem em regiões de cachoeiras, rios e lagos.
No dia 07 de janeiro de 2024, bombeiros foram acionados para resgatar um grupo de 16 pessoas que ficaram ilhadas na cachoeira de Braúnas, na região da Serra do Cipó. Os banhistas ficaram presos em um ponto próximo a cachoeira e foram retirados do local com o apoio dos militares e da aeronave Arcanjo do CBMMG. Em 2021, uma cabeça d’água arrastou dezenas de pessoas em Capitólio, ferindo várias vítimas e deixando pelo menos três sem vida.
Minas tem cachoeiras que atraem turistas de todas as partes do país, mas as belas quedas d’água podem esconder riscos como o famoso fenômeno típico de verão, mais conhecido como cabeças d’água, que nada mais é do que é o aumento rápido do nível de um curso de água, devido à chuva de grande intensidade que, normalmente, ocorre nas cabeceiras dos rios ou em trechos mais altos de seu percurso, onde ocorre o escoamento superficial da água.
O grande volume de água pode surpreender os banhistas, mas dá sinais claros de que está prestes a ocorrer, por isso, o ideal é observar os seguintes indícios:
Se a correnteza começa a ficar mais rápida e a trazer muitas folhas e galhos, indica que está descendo um grande volume de água. Vale também observar a movimentação dos animais. As aves fogem da chuva da cabeceira e voam no sentido contrário.
A cor da água também pode ser um indicativo de que o fenômeno está acontecendo. Se a água começar a ficar mais turva, é hora de deixar o rio em direção a um local seguro. Vale destacar que os lugares mais recorrentes são os trechos do rio com encostas íngremes e afastadas das nascentes, onde o nível da água tende a aumentar com maior vazão. Se o local já possui sinalização de alertas para possíveis cabeças d’água, redobre a atenção e a qualquer indicativo de chuva jamais se arrisque.
Uma forma de evitar o problema é ficar mais próximo à nascente do rio, onde a possibilidade de acontecer a cabeça-d’água é menos provável e optar por frequentar locais que contem com salva-vidas. Se ainda assim for surpreendido, procure proteção para só depois continuar o percurso. Não tente atravessar a correnteza. O ideal é buscar um lugar mais alto, longe do rio, e esperar a enxurrada passar.
Outra forma de planejar o passeio e evitar aborrecimentos é se certificar das condições do tempo, sempre avisar outras pessoas e não ir sozinho. Checar a previsão não apenas para os arredores do curso d’água, mas também para toda a região, evitará surpresas desagradáveis e garantirá mais proveito na diversão
Estudo identificou os lugares mais suscetíveis a tragédias ligadas a deslizamentos, enxurradas e inundações.
Estudo do governo federal identificou 1.942 municípios como mais suscetíveis a desastres relacionados ao clima como deslizamentos, enxurradas e inundações.
A lista representa 34,9% dos 5.570 municípios brasileiros. O número mais do que dobrou em relação a 2012, quando 821 municípios estavam sob maior risco de desastres naturais.
Para elaborar a lista, o governo considerou, entre outros pontos, os municípios com registros de mortos e desalojados por desastres relacionados ao clima, bem como a população vivendo em áreas de risco e com alta vulnerabilidade a inundações.
Os municípios da lista têm 148,8 milhões de habitantes, dos quais 8,9 milhões vivem em áreas de risco geo-hidrológico. O Brasil tem 203 milhões de moradores no total, segundo o Censo 2022.
O estudo foi coordenado pela Casa Civil para atualizar a lista de locais que devem ser priorizados em obras do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Participaram do trabalho representantes dos ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, das Cidades, da Ciência e Tecnologia, de Minas e Energia e do Meio Ambiente.
O levantamento foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela reportagem. O documento foi assinado em 29 de setembro de 2023.
O estudo considerou dados levantados até 2022. Sem contar o DF, a unidade da federação com maior proporção de municípios na lista é o Amazonas -59 dos 62 municípios estão na lista de risco, ou cerca de 95% do total.
Já Minas Gerais é o estado com mais municípios listados, 283 -o equivalente a um terço do total.
Em outra lista, o governo usou dados preliminares de 2023 para identificar 30 municípios afetados por desastres no último ano. Eles também foram considerados suscetíveis a deslizamentos, enxurradas e inundações.
“Diante dos desastres ocorridos que causaram tantas perdas humanas, desabrigados e desalojados, além de incontáveis danos materiais e de degradação do meio ambiente, é fundamental promover ações governamentais coordenadas voltadas à gestão de riscos e prevenção de desastres”, diz a nota técnica do governo.
O mesmo documento recomenda que o governo utilize os dados para formar a lista de municípios que podem receber recursos do novo PAC para obras de prevenção de risco como “contenção de encostas, macrodrenagem, barragens de regularização de vazões e controle de cheias e intervenções em cursos d’água”.
O Brasil registrou extremos climáticos diversos em 2023, desde deslizamentos no litoral de São Paulo e alagamentos no Rio Grande do Sul até a seca histórica na Amazônia e queimadas no pantanal.
Nesta semana, o forte temporal que atingiu Porto Alegre e outras regiões do Rio Grande do Sul deixou milhares de moradores sem energia elétrica, água e internet.
Pesquisa Datafolha divulgada em 17 de dezembro mostrou que, para 78% dos brasileiros entrevistados, as atividades humanas contribuem para o aquecimento do planeta, e mais da metade (54%) disse acreditar que elas afetam muito o clima. (RENATO MACHADO E MATEUS VARGAS/FOLHAPRESS)
Chuvas elevam a tensão em Ouro Preto, cidade com mais áreas de risco geológico no país. Pontos críticos ainda esperam obras para evitar repetição de deslizamentos
Moradores de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, se assustam a cada nuvem escura no céu. Todos os anos, durante o período chuvoso, o drama de deslizamentos de encostas se repete na cidade, classificada pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) como o município com maior número de áreas de risco geológico do país.
São 313, sendo que pelo menos 97% delas estão no patamar de risco geológico alto e 2,8%, muito alto. Um ano depois de noticiar a chegada do município ao topo do ranking do SGB, a reportagem do Estado de Minas voltou à cidade histórica para ver o que mudou de lá para cá.
Considerado um trecho crítico durante os períodos chuvosos em Ouro Preto, o Morro da Forca, local conhecido pelo deslizamento de terra que há dois anos soterrou a primeira construção neocolonial da cidade – o Casarão Baeta Neves–, no Centro Histórico, segue sem solução à vista. A administração municipal afirma ter feito uma obra “mínima” para reduzir os riscos e aguarda a liberação de R$ 36 milhões para drenagem e contenção do relevo pelo “PAC das Encostas”, programa do governo federal. O recurso, concedido ao Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), começou a ser negociado em 2012, mas está parado desde então.
Até lá, moradores e funcionários de estabelecimentos nas proximidades da encosta vivem sob o medo e tensão constante pela possibilidade de novos deslizamentos. Mostrando a casa atingida, Bárbara Maria de Souza, de 68 anos, se emociona. “Foi um susto. Minha cozinha foi destruída. Medo? Temos muito, mas o que a gente pode fazer?”, declara. Quatro gerações da família já moraram no terreno, a menos de 200 metros da Estação Ferroviária de Ouro Preto. Hoje, ela, a irmã, os filhos, netos e bisnetos vivem em duas casas no local.
Com um filho autista e epilético, a irmã de Bárbara, Eliane, de 64, acumula, com a chegada do período chuvoso, mais uma preocupação diária, que, inclusive, tira seu sono à noite. Desesperançosa, ela diz que a cidade é ‘feita’ para turistas. “Eu não sou geóloga, mas eu observo. Eu vejo cada dia descendo mais um pouco, é só observar as árvores”, disse apontando para o Morro da Forca. O desabamento da encosta traz um risco adicional para as famílias que moram ali: a inundação do Rio Funil, que corre à vista da janela de Bárbara.
Mesmo assim, as irmãs voltaram para a casa sem o parecer da Defesa Civil, que não retornou à residência depois do deslizamento em 2022. “Ficamos na casa de um amigo em Saramenha. Mas não tinha como ficar muito tempo na casa dos outros. Tenho meu filho, ele é especial. Todas as nossas coisas, nossa vida, está aqui”, diz Eliane.
Depois de anos assistindo de camarote à novela de deslizamentos no Morro da Forca, que, segundo Eliane, tem picos mais intensos a cada 10 anos, a família se sente desamparada. “Caiu em cima de um supermercado uma vez, 10 anos depois cai de novo, passados 10 anos, de novo. E por aí vai até hoje. É sempre um medo, uma incerteza. Estamos abandonados. Aqui é só para turista ver”, critica.
Apesar do risco, a família não pretende se mudar e a menção dessa possibilidade chega a arrancar lágrimas de Bárbara. “Meu pai trabalhou tantos anos para dar esta casa para nós. Toda nossa história está aqui”, diz, emocionada.
Quem vive em áreas de risco já conhece os perigos, aprende a “vigiar” o tempo e reúne todas as forças para lutar. Caminhando pelo Bairro Taquaral, área devastada pelas chuvas de 2022/2023, a reportagem viu ares de cidade-fantasma. Após deslizamento de uma encosta, alguns moradores tiveram que abandonar suas casas, deixando para trás até mesmo pertences pessoais, como um quadro da Nossa Senhora das Graças, flagrado pela reportagem ainda pendurado na parede de um dos imóveis.
A característica do solo na região é um agravante. A área tem o que especialistas chamam de movimento de rastejo ou de massa, que, potencializado pela ação da chuva, contribui para a instabilidade da encosta. Antônio Carlos, de 36, está entre os moradores que saíram às pressas de sua casa na época. Depois de quase dois anos morando na residência da sogra e sem perspectiva de uma solução definitiva para o problema, ele pensa em voltar para o imóvel, que hoje está cheio de rachaduras.
“Se até maio não tiver nada, a nossa intenção é reformar e voltar. Com medo, sim, mas não tem como ficar morando de favor”, afirma. Nascido e criado na casa, o apego emocional também é mais forte. “Ter que sair é difícil demais. Se ao menos tivesse uma resposta se vamos ter indenização ou aluguel social, mas não houve nenhum retorno”, disse à reportagem do Estado de Minas.
A funcionária pública, Mônica Dias, de 42, ficou um tempo na casa de parentes em Mariana, porém acabou retornando. “Não consegui manter isso por muito tempo, porque trabalho aqui, meus filhos estudam aqui e tínhamos que fazer esse trajeto todos os dias. Era muito gasto. Até então, o suporte que tenho é o que eu mesma me dou. Não tem ninguém que olhe por nós”, disse.
A ela foi oferecido o aluguel social, pago pela prefeitura, o que, no entanto, não resolveu o problema. “Olha a estrutura da minha casa. Como eu vou arrumar uma casa de R$ 700 em Ouro Preto? O mínimo que eu estava olhando era R$ 1.600. Rodei a cidade inteira e não existe imóvel nesse valor. Tenho a minha mãe que mora comigo também, é uma idosa”, aponta.
Herança perigosa em Ouro Preto
Quem se aventura por Ouro Preto já conhece o sobe e desce de ladeiras. Essa característica montanhosa coloca o município em um cenário geológico complexo, que culminou na classificação da cidade como a de maior número de áreas de risco do país, conforme levantamento do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Localizada em uma região marcada por relevo montanhoso e solos sensíveis ao deslizamento de terra, o município soma essa peculiaridade geológica a construções frágeis em um relevo de morros, fatores que contribuem para que tragédias se tornem recorrentes.
A peculiaridade geológica da região traz desafios intrínsecos para garantir a segurança dos moradores e a proteção do patrimônio da cidade, que já foi capital de Minas Gerais, quando ainda era chamada de Vila Rica. “Ouro Preto foi construída em uma região de encostas muito acidentadas. Hoje, um projetista não construiria uma cidade em um local como esse. Aqui só foi construído em função das minas de ouro descobertas na serra”, explica o engenheiro de minas e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Hernani Mota de Lima.
Na cidade histórica, a população ocupa os espaços entre as montanhas e o Parque do Itacolomi desde o Ciclo do Ouro. Muitas construções são irregulares, erguidas nas encostas. Somadas à falta de políticas públicas de moradia e urbanização, essas áreas colocam em risco também o patrimônio histórico e cultural do município.
“O crescimento urbano foi empurrado para áreas de instabilidade. Em locais que eles escolheram como mais seguros ou menos inseguros. Infelizmente, é a população de baixa renda que está mais suscetível, mas isso é um caso de todo o Brasil”, destaca o professor.
A herança histórica da mineração também potencializa o risco e torna o município mais suscetível a escorregamentos de terra. “Ao longo de mais de 100 anos, a serra foi toda revirada, foram construídas inúmeras minas subterrâneas. Depois que acabou o Ciclo do Ouro, a região começou a ser ocupada por moradias em uma encosta que já tinha tendência ao escorregamento por causa da sua formação geológica”, explica o engenheiro civil Eduardo Evangelista Ferreira, morador do Bairro São Cristóvão, que se especializou em geologia para entender as demandas de sua cidade.
Não é raro as fortes chuvas provocarem desmoronamento de casas, e os moradores acabarem descobrindo que o imóvel estava em cima de mina de ouro. Até hoje, no entanto, o município não mapeou esses pontos de minas subterrâneas, herança do período colonial. “São aberturas pequenas, mas, por outro lado, são muito próximas à superfície. Na maioria dos casos, menos de 10 metros. Com isso, o terreno acaba colapsando, o que chega a afetar as estruturas da superfície”, explica Hernani Mota.
Agora, uma iniciativa da Ufop pretende fazer esse trabalho. Só na área do Bairro São Cristóvão, segundo Eduardo, já foram identificadas 43 escavações. A Defesa Civil do município reconhece o risco e diz estar trabalhando junto à universidade para o mapeamento dessas áreas.
O secretário municipal de Defesa Social de Ouro Preto, Juscelino Gonçalves, avalia o risco deste período chuvoso como baixo. “Em relação aos anos anteriores, estamos ‘confortáveis’ no que diz respeito aos estragos que as chuvas provocam”, disse em conversa com a reportagem do Estado de Minas. Isso se deve ao baixo volume de chuvas. “Não estamos nem no alerta laranja”, afirma.
Plano para contenção de riscos
Depois do estudo publicado pelo SGB, que identificou 313 áreas de risco geológico na cidade, Gonçalves diz que a administração municipal aperfeiçoou ponto a ponto as áreas classificadas como de risco, e criou um plano municipal de redução de risco.
A Prefeitura de Ouro Preto especificou 182 pontos de atenção. No Bairro Taquaral, por exemplo, que era considerado uma área “perdida”, a delimitação exigiu a desocupação apenas de 34 casas. “Tivemos uma grande remoção no ano passado, acreditando que o risco alcançava todo o bairro, mas as análises mostraram que só essas estavam sob esse efeito”, diz o secretário. As famílias em áreas de alto risco foram desabrigadas e encaminhadas para o aluguel social ou indenização.
Moradores e especialistas, no entanto, cobram maior efetividade nas ações de prevenção, antes do início do período chuvoso. “Não há investimento em prevenção, só em tapar buraco. Quando chega o período chuvoso fica todo mundo sobrecarregado lá, os colegas da Defesa Civil, mas não há um plano de obras para poder reestruturar a cidade”, afirma Eduardo Evangelista.
OUTRO LADO
Após a publicação desta reportagem, a Prefeitura de Ouro Preto, por meio de nota, detalhou ações de prevenção aos danos causados pela chuva. Leia na íntegra:
De 22 de dezembro a 22 de março, ocorre oficialmente o verão, quando mudanças repentinas do tempo são esperadas. Apesar da combinação do calor com a umidade favorecer a ocorrência de tempestades, neste ano, em Ouro Preto, Minas Gerais, o índice de chuvas vem proporcionando uma tranquilidade histórica aos moradores, que já estão empolgados e empenhados nos preparativos de um grande carnaval.
Em termos comparativos, em janeiro de 2023, a cidade chegou a ser castigada com 190 mm de chuvas em apenas 72 horas. Já neste verão, em todo o mês de dezembro, choveu apenas 126 mm e, até agora, em janeiro, ainda não foi ultrapassada a marca de 200 mm.
Mas, mesmo com as condições climáticas sendo favoráveis, a Prefeitura de Ouro Preto optou por realizar um criterioso acompanhamento das áreas de risco mapeadas em todo o município. Por segurança, preparou, com bastante antecedência, várias ações de cuidados. Em 2023, o prefeito Angelo Oswaldo convocou equipes de diversas secretarias para elaboração e execução de um plano de contingência, um instrumento metodológico de prevenção e ação em situações de emergências.
Felizmente, de acordo com o secretário municipal da Segurança e Trânsito de Ouro Preto, Juscelino Gonçalves, diferente dos anos anteriores, até agora, não houve nenhuma ocorrência grave na cidade, nem registro de nenhuma vítima das chuvas: “Mesmo assim, seguimos atentos no monitoramento e acompanhamento”, garante o secretário.
Ações de prevenção e reparação
Nas vias urbanas, as ações preventivas estão fazendo a diferença em Ouro Preto. É o caso da Avenida Lima Júnior, popularmente chamada de “Curva do Vento”, que ficou comprometida e interditada no verão passado mas, em 2023, recebeu uma grande obra de contenção e drenagem. A última etapa da obra foi marcada pela construção de um muro de contenção, uma cortina atirantada em concreto armado com 70 metros de extensão e fixada na rocha com 130 tirantes, elementos de alta resistência à tração, integrados à pista como âncoras de sustentação, o que torna o terreno estável e seguro.
Em novembro de 2023, foram finalizadas as obras de drenagem e contenção da Rua Padre Rolim, principal via de acesso ao centro da cidade. A Rua das Violetas e a Rua das Orquídeas, no bairro Santa Cruz, a Rua Santa Marta, no Morro São João, e vários outros logradouros duramente castigados por chuvas passadas, também receberam projetos arrojados de contenção e drenagem e foram totalmente revitalizados.
Para o Morro da Forca, local conhecido pelo deslizamento de terra ocorrido em janeiro de 2022, depois de adotar medidas emergenciais na ocasião, a Prefeitura se empenhou para desenvolver um projeto de drenagem que no ano passado, foi aprovado na Secretaria de Infraestrutura do Estado, um processo que passou pelo DER, pela Caixa Econômica Federal e também pelo Ministério das Cidades.
Já as vias que dão acesso aos distritos, neste ano, todas permanecem operantes graças às intervenções realizadas nas estradas e pontes.
Por fim, com um clima favorável e com todas essas obras e intervenções, foi possível estabelecer um cenário de otimismo que os ouro-pretanos celebraram, em grande estilo, as festas de fim de ano. E, bastante animada, a cidade de Ouro Preto, reconhecida como um dos principais destinos turísticos brasileiros, já se prepara para receber, em fevereiro, visitantes do mundo inteiro, no Carnaval 2024.
FONTE ESTADO DE MINAS
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