Imagem de sacra de Santana Mestra, integrante do acervo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Gagé, é de autoria Mestre Piranga e por falta de segurança está guardada em Mariana
Lafaiete recupera e resgata parte de sua história ainda desconhecida entre os séculos XVIII e XIX. A memória da cidade está ligada ao barroco, estilo e movimento artístico que consagraram inúmeros escultores, entre os quais dois expoentes brasileiros, Aleijadinho e Mestre Piranga.
O primeiro é conhecido pela sua obra máxima do conjunto arquitetônico do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas. Já o Mestre Piranga foi responsável, em 1781, pela confecção do retábulo do altar-mor do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Santo Antônio de Pirapetinga, vulgo Bacalhau, distrito de Piranga.
Eis que quase 250 anos depois, o Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em laudo de atribuição de autoria elaborado em 19 de dezembro de 2017, apurou que a imagem sacra de Santana Mestra, integrante do acervo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Gagé, situada na zona rural de Conselheiro Lafaiete, é de autoria do renomado escultor contemporâneo a Aleijadinho conhecido como Mestre Piranga.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Gagé, datada do séc. XVIII, foi restaurada pela Gerdau Açominas em razão de termo de ajustamento de conduta firmado com a 5ª Promotoria de Justiça de Conselheiro Lafaiete nos autos do Inquérito Civil n.º 0183.04.000070-9. A restauração englobou, também, as peças sacras que guarneciam o templo, as quais, devido ao grande valor cultural e à falta de segurança na localidade onde a igreja se situa, foram encaminhadas ao Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana.
Não obstante o valor cultural da imagem, não se sabia qual artesão a esculpiu, motivo pelo qual foi solicitado ao IPHAN um parecer de atribuição de autoria, o qual finalmente concluiu que o autor da peça é Mestre Piranga. O laudo é assinado por Olinto Rodrigues dos Santos Filhos.
Outras peças
Pelo menos outras 7 peças das Igreja de Passagem de Gagé ainda estão em estudo para “parecer de atribuição” que visa a identificar qual artista confeccionou as imagens barrocas, todas guardadas no Museu de Artes Sacras de Arquidiocese de Mariana.
Há 15 anos o Ministério Público assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Gerdau Açominas que entre as obrigações estavam a reforma da Igreja de Passagem de Gagé, como também a restauração das imagens barrocas. Por total falta de segurança na Igreja de Gagé as peças estão em Mariana.
Um estudo dos elementos artísticos das 8 imagens, elaborado pela FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto), já levantava dúvidas sobre a autoria identificado características similares às obras de Aleijadinho e Mestre Piranga. O estudo solicitado pelo Ministério Público está em fase de orçamento pela secretaria municipal de cultura.
A história
Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho emparelha-se com outro igualmente expressivo de Mestre Piranga, misterioso escultor de Minas Gerais. Os dois são os maiores nomes do barroco brasileiro. E quem foi Mestre Piranga? Ninguém sabe. Enigmático – O escultor barroco Mestre de Piranga, que viveu no século 18 em Minas Gerais, na região próxima a Ouro Preto, é talvez o mais desconhecido e enigmático dos artistas do período. Ninguém conhece sua identidade. Sabe-se apenas que ele trabalhava com o mesmo sistema do Aleijadinho, com um ateliê e aprendizes, que o ajudavam em sua extensa obra. Tanto Aleijadinho quanto Mestre Piranga “delegavam” aos seus seguidores trabalhos e encampavam muitas obras na Minas daquela época. O nome Piranga foi adotado para o mestre-escultor porque sua base de operações foi em Piranga.
Os historiadores supõem que manteve intenso diálogo com os artistas de sua época, como Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor Mestre Athayde – todos tinham ateliês e equipes de trabalho numa mesma região. Isso é demonstrado, por exemplo, na feitura do edifício e da decoração da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, na zona rural de Piranga, uns 10 quilômetros de distância da cidade.