Avelina Maria Noronha de Almeida
MEU COLÉGIO ABENÇOADO – 22
QUEM SABE PODERIA TER AJUDADO UM POUCO?
Conforme estava contando, na época da Constituinte elaborei um documento para entregar ao Dr. Elias Murad. Acontece, porém, me que veio uma idéia. Seria muito mais forte, ao invés de uma professora apresentar as sugestões, que isso fosse feito com a participação de alunas. Levei o texto para a sala de aula, as alunas se entusiasmaram, refizemos o texto adaptando-o à nova situação e ele foi enviado com a assinatura de minhas queridas e talentosas alunas.
Eis a carta que foi enviada ao deputado:
“Conselheiro Lafaiete, 10 de abril de 1987
PREZADO PROFESSOR DR. JOSÉ ELIAS MURAD:
Somos alunas do Curso de Magistério do Colégio “Nossa Senhora de Nazaré” de Conselheiro Lafaiete.
O nosso contato com a disciplina ‘FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO’, principalmente com a problemática abordada nas aulas de Psicologia e História da Educação, levou-nos a sérias reflexões que, após alguns dias de estudo, transformaram-se numa indagação:
Por que, ao invés de apenas estudar História da Educação, não poderíamos também FAZER HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO?
Pela primeira vez surgem condições, em nosso País, de participarmos da elaboração de uma Constituinte. Assim, servimo-nos deste ensejo para apresentar o resultado de nossas reflexões. Se não o fizéssemos, estaríamos perdendo uma oportunidade talvez única para nós.
Resolvemos recorrer ao nobre Constituinte para expor-lhe nosso trabalho e, ao mesmo tempo, fazer-lhe uma consulta sobre a possibilidade a acrescentar nossas idéias à proposta que V. Exa. Apresentará nas discussões sobre a Carta Magna.
Estudando a educação dos povos primitivos, ficamos impressionadas com o cuidado que dedicavam à educação para a sobrevivência.
Vimos, outrossim, que, embora há séculos grandes educadores venham mostrando o caminho para a formação integral do homem – preparar o aluno PARA A VIDA e PELA VIDA – esse ideal não se tem concretizado de maneira ampla e eficiente, pois nem sempre o jovem chega à idade adulta preparado para sobreviver com dignidade. Falta-nos uma disciplina formativa com a qual, através de atividades práticas, o aluno aprenda a enfrentar, com tranquilidade e segurança, os problemas do dia a dia nos vários setores da vida: doméstico, econômico, social, político, científico etc. Temos certeza de que isso diminuiria o número de marginalizados em nossa sociedade.
Observamos, igualmente, que a dificuldade de entendimento entre as pessoas e o fracasso da escola em seus objetivos essenciais são fatores inter-relacionados. Uma boa escola faz milagres e o estudo pode ajudar, e muito, a melhorar a personalidade de seus alunos, porquanto grande parte de nossa vida se passa justamente ali, na escola.
A família também está falhando, não dando conta de sua missão, principalmente pela falta de preparo dos pais. A violência dos tempos atuais inicia-se no próprio lar. A falta de compreensão, esclarecimentos ou mesmo apoio em casa, na maioria das vezes, leva os jovens à delinquência e às drogas.
Como vê, prezado Professor, estamos unidas ao senhor na preocupação com esta juventude tão despreparada para a vida, tão insegura e desorientada.
Estamos estudando Psicologia e vendo o quanto esta disciplina é importante. Ajuda-nos a conhecer melhor não somente a outros, mas a nós mesmas, também.
No entanto, com raríssimas exceções, no 2º Grau apenas os Cursos de Magistério têm no Currículo um estudo regular de Psicologia. Desta forma, não são muitos os estudantes que se beneficiam com tais ensinamentos. A lacuna é maior em relação ao sexo masculino (pouquíssimos rapazes estudam Magistério), o que explicaria, em parte, o grande número de pais ausentes ou prejudiciais à educação dos filhos.
A inclusão da Psicologia em todos os cursos de 2º Grau teria, em nossa sociedade, influências a curto, médio e longo prazos.
A curto prazo, ajudaria o estudante a superar seus problemas de maneira sadia: a compensar seus complexos; a entender melhor a si e a seus semelhantes; a relacionar-se bem e a enfrentar a vida corajosamente, deixando de ser presa fácil da violência, da droga e de outros males.
A médio prazo, pelos frutos que, dentro de pouco tempo, começariam a surgir em consequência do crescimento interior de nossos jovens, já então transformados em adultos ajustados e preparados para exercer conscientemente sua cidadania.
Finalmente, a longo prazo, porque a escola estaria formando futuros pais, conhecedores da distinção entre educar e reprimir; corrigir e maltratar; amar e condescender; respeitar e negligenciar – sabendo resolver com eficiência conflitos semelhantes aos que hoje perturbam o seu relacionamento com os pais.
Desse modo, processar-se-ia uma REFORMA GRA-DUAL E SÓLIDA NA SOCIEDADE BRASILEIRA.
A nossa proposta poderia ser uma solução prática e saudável no combate aos grandes males da atualidade.
Em nossa modesta posição, mas com todo o empenho e consciência de nossos objetivos, pedimos-lhe estudar o que acima fundamentamos e vamos sintetizar a seguir:
“Inclusão, em todas as séries do 1º Grau, de uma disciplina que significasse EDUCAÇÃO PARA A VIDA RESPONSÁVEL, transmitindo conhecimentos reais e concretos, preparando o aluno para sobreviver com dignidade, ocupando consciente e produtivamente o lugar a que tem direito no contexto sócio-econômico no qual está inserido.
Inclusão da disciplina PSICOLOGIA em todo o 2º Grau, a fim de proporcionar ao educando o conhecimento de si mesmo e dos outros, dando-lhe condições de ajustar-se sadiamente ao meio em que vive e realizar-se plenamente como pessoa.”
Na expectativa da resposta de V. Exa., subscrevemo-nos com amizade e admiração.
(Assinaturas) Ana Luiza Gomes de Freitas
Beatriz Nogueira Magri
Laênia Moreira e Siqueira
Maria das Graças de Andrade Santos
Maria Imaculada S. Tolomelli
Marielce de Carvalho Caetano
Rosanna Nery Dutra
Adelaide Cristina Nascimento de Oliveira
Andresa Cristina de Almeida
Celeste Cristina Araújo e Silva
Cláudia Luciene Santos
Edimara Beatriz de Rezende
Joana Maria de C. Siqueira
Mara Zebral Segundo
Maristela Santos Gomes
Marília de Carvalho Caetano
Vanda de Oliveira Bezerra
Vanda Lúcia de Albuquerque
Ângela Cristina Vasconcelos Borba
Roberta Maria Horta Seabra