Com o objetivo de reconhecer e resgatar a história de Manoelina dos Coqueiros, mais conhecida por “Santa Manoelina dos Coqueiros”, uma caravana constituída por autoridades municipais, parentes da taumaturga e representantes da comunidade entrerriana, visitaram, na manhã do feriado de 1º de maio, as dependências da singela casa onde ela viveu e prestou assistência espiritual a milhares de romeiros nos idos de 1930.
No lugar denominado Retiro Velho, distante cerca de 12 quilômetros de Entre Rios de Minas, o atual proprietário, Maurilio de Oliveira Resende, ao permitir a visita, não descartou a possibilidade de preservar o local como um centro “de bênção e paz, mas sem qualquer tipo de exploração financeira”.
Para o idealizador da iniciativa, médico José Pedro Borges, a história de Manoelina dos Coqueiros faz parte da história e da cultura de Entre Rios de Minas. “É das mais importantes do município e ficou conhecida não só na região, como no Brasil e até no exterior “, ressaltou o médico ao defender, horas depois, nem reunião na sede da Câmara de Vereadores, a criação de um Memorial à “Santa Manoelina”.
Nesta mesma reunião, foram apresentadas outras sugestões, como instituir um dia no calendário festivo municipal em homenagem à ela; dar seu nome à alguma repartição pública, talvez na área da saúde pelos feitos de cura atribuídos à Manoelina; a criação de um local para cultuar sua memória (uma capela?) ou mesmo a recuperação da casa no Retiro Velho, onde ela nasceu em 1911 e viveu até os 19 anos, antes de mudar-se com toda a família – 16 irmãos – para Dom Silvério (distrito de Bonfim) e mais tarde para Crucilândia, onde veio a falecer em 1960, aos 49 anos.
Além de autoridades municipais – prefeito José Walter Resende Aguiar; viceprefeito Paulino Pena Oliveira; Felipe Resende Ribeiro de Oliveira, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Cultural, dos vereadores Ronivon Alves de Souza e Fernando Andrade Maia – e de representantes de vários setores da comunidade entrerriana, o evento contou com a presença de um sobrinho de Manoelina – o vereador em Igarapé, Antonio José Jorge, que pela primeira vez visitava Entre Rios e conheceu parentes a exemplo das primas Teresa Joaquina de Oliveira e Geralda Joaquina de Oliveira.
Antonio Jorge agradeceu o interesse do município em reconhecer e resgatar a verdadeira história de sua tia e afirmou que está pronto para ajudar no projeto, inclusive servindo de ponte junto aos outros familiares, a fim de reunir pertences espalhados e ajudando na reconstrução de toda uma memória material e imaterial.
Por isso, ainda dentre as sugestões apresentadas na reunião do último dia 1º, também constam: que sejam reconhecidos pela Igreja Católica os “milagres” atribuídos à Manoelina, com o pedido de sua beatificação; e o traslado para Entre Rios dos restos mortais, para serem guardados no Memorial em sua homenagem.
A intenção do translado dos ossos pedir o reconhecimento Igreja pela suas boas ações, construir um memorial.
Por isso, ainda dentre as sugestões apresentadas na reunião do último dia 1º, também constam: que sejam reconhecidos pela Igreja Católica os “milagres” atribuídos à Manoelina, com o pedido de sua beatificação; e o traslado para Entre Rios dos restos mortais, para serem guardados no Memorial em sua homenagem.
A história da santa cabocla cujos milagres ganharam o Brasil, arrastando multidões a Entre Rios; excomungada pela Igreja ela morreu abandonada
Manoelina Maria de Jesus (1911-1960), moça simples, pobre, fervorosa, católica, gostava de cantar “benditos” (cantos religiosos com que são acompanhadas as procissões).
Era pelos idos da década 1930, no povoado dos Coqueiros, situado a cerca de 12 km de cidade de Entre Rios de Minas. Analfabeta, moça simples, pobre, honesta e fervorosa, Manoelina alimentava-se apenas de vinho e água e Aos 19 anos, começou a processar “milagres”.
Naquela época Entre Rios ficou conhecida no País inteiro, por causa de reportagens veiculadas na revista “O Cruzeiro” e no Jornal “A Noite”, onde o repórter Davi Nasser narrava os milagres acontecidos em Entre Rios de Minas.
Importantes escritores como Zelia Gattai, Otto Lara de Resende e Ramón Garcia, entre outros, narravam seus feitos. Há um documentário, produzido em 1931, por Ramón Garcia, que inclusive conviveu durante um tempo com Manoelina e sua família.
Consta que a “santinha” nunca recebeu dinheiro pelos milagres e que o lugarejo de Coqueiros estava sempre cheio de doentes e romeiros, já que a notícia dos prodígios que ela operava se espalhou por Minas e diversas regiões do Brasil em busca da cura dos males físicos e “da alma”.
O local tornou-se um centro de fé e curiosidade. Os poucos carros da época não davam conta de transportar os romeiros que vinham de toda parte, via Jeceaba. Chegavam cartas de todo o Brasil e até do exterior, as quais ela benzia e ateava fogo logo em seguida. Algumas pessoas afirmavam que as correspondências continham dinheiro, pois moedas de 1.000 réis e pesos eram vistas entre as cinzas dos papéis das cartas.
A historiadora de Crucilândia, Conceição Parreiras Abritta, registrou no seu livro História de Crucilândia (Belo Horizonte, Página Studio Gráfico, 1988, pp.100 e 102-103): “chegavam caminhões repletos de pessoas em sua casa, gente a pé, a cavalo, pessoas vindas de todos os lados. A família de Manoelina não tinha mais sossêgo nem para trabalhar. Chegavam sacos repletos até às bordas de correspondência, muitas das quais traziam dinheiro”. Vestia-se de uma túnica azul comprida e um véu branco na cabeça. Dormia em um catre de madeira, sem colchão e roupa de cama”.
O prof. Saul Martins (in Folclore em Minas Gerais. 2a.Ed. Belo Horizonte, Ed.UFMG, 1991. p.68), assim opinou: “na área do espiritismo, sobretudo o de Alan Kardec, a primeira grande expressão revelada foi Manoelina ou Santa Manoelina dos Coqueiros, como se tornou conhecida e venerada na década de 30. Seguiram-se Chico Xavier (…), Zé Arigó…”.
Num cômodo de terra batida Manoelina rezava e recebia as pessoas, muitas das quais traziam ex-votos de cera e retratos. Ela benzia água que era distribuía para as pessoas. Rezava e pedia que rezassem… Normalmente não receitava remédios.
Carlos Drummond de Andrade, sob o pseudônimo de “Antônio Crispim”, publicou no “Minas Gerais”, em 25/02/1931, uma bela crônica a respeito de Manoelina. A crônica foi republicada na “Revista do Arquivo Público Mineiro”, ano XXXV, 1984, páginas 80-81. Drummond relatou que “…as pessoas que antigamente, no dia mais ocupado da semana, também chamado dia de descanso, seguiam para Santa Luzia, Morro Velho ou Acaba Mundo, vão hoje a Entre Rios, onde uma santa faz milagres no alto de um morro. (…) A maioria, porém, vai a Coqueiros porque Coqueiros é um lugar de bênçãos onde um diálogo se estabelece ardente e puro, entre os anjos do céu e uma cafusa da terra (…). A cafusa pede ao anjo que ponha ordem nas coisas do mundo, que retifique a perna dos paralíticos, que sare as feridas e conforte os comerciantes falidos. O anjo diz que vai providenciar e recolhe esses apelos da dor humana. Enquanto isso, no morro, distribui-se uma água que jorra da bica, e nessa água, que lava todas as misérias, os homens inquietos e as mulheres torturadas encontram a paz que inutilmente haviam perdido nos santuários, nas ruas e nos cinemas deste mundo. A santa, que é pobre, inspira mais confiança aos pobres que outras santas, e sendo trabalhadora humilde da fazenda, tudo a recomenda ao carinho dos humildes, dos pequeninos, que até agora não tinham uma representante direta na classe das taumaturgas (…). A lição de Manoelina aos aflitos e curiosos que a procuram é uma lição de humildade (…). Na sua casa de barro, entre coqueiros, diante do trenzinho da Central em que todos os doentes e infelizes de Minas e do Rio tomaram passagem, a santa rural fornece água, consolo, palpites de loteria, indicações para ser feliz em amor, e mil outras coisas importantes…
Vítima de uma anemia profunda, aos 49 anos de idade, em 14 de março de 1960, faleceu em Crucilândia (MG), Manoelina Maria de Jesus. A chamada Santa dos Coqueiros foi enterrada no cemitério paroquial de Crucilândia, na sepultura número 284″, onde os romeiros ainda a invocam e recebem muitas graças, deixando ali, como retribuição, muitas flores…
Entre tantas versões algumas apontam que, devido a sua fama, a igreja teria a perseguido, inclusive internada como louca, transferindo-se, juntamente com a família, para Crucilândia onde teria morrido pobre.