Em outubro do ano passado tive a oportunidade de assistir uma palestra do jornalista Ricardo Boechat, em Vitória, no Estado do Espirito Santo. Casualmente fiquei na entrada destinada aos palestrantes e de repente ele sai do recinto para fumar um cigarro. Ainda faltava uma meia hora para o evento. Fiquei de longe olhando e enfim tomei coragem. Me aproximei dele, cumprimentei-o e para não perder tempo, perguntei rápido: “E então Boechat, como será o ano de 2019?”. Ainda não estava definido o 2º turno das eleições. Ele me respondeu: “- Ninguém sabe.” “- Mas e a questão internacional, como ficaremos perante o resto do mundo, com esse processo eleitoral tão caótico?”, provoquei (e ainda estava completamente indefinido o quadro eleitoral, repito). Ele me respondeu: “- Isso não vai se alterar em nada. Eles, lá no primeiro mundo, sabem o que está acontecendo aqui, são bem atualizados”. Conversamos mais um pouco, mas ele talvez impaciente pelo atrevimento daquele reles cidadão, ou até mesmo ansioso pelo próprio clima instalado no final do ano passado e pronto para encarar uma palestra para mais de mil pessoas não quis estender muito a conversa. Eu, simplório como sempre, nem foto com ele quis tirar. Nos despedimos, desejei felicidades e fui me assentar na platéia. Foi uma palestra muito boa. Inteligente, bem articulado e isento de paixões ele levou seus argumentos com firmeza e sem tropeços. Fiquei ali analisando para ver se ele cometia alguma bobagem ou falasse alguma coisa sem pé nem cabeça, mas ele foi coerente até o fim e sem demonstrar preferência eleitoral. Valeu a pena. Bem diferente da palestra de um jornalista da Globo News e de um ministro do supremo, que pude assistir em distintas oportunidades, onde não disseram nada que se aproveitasse. O jornalista da GN quase pediu desculpas por estar ali, tamanho despreparo. Boechat não, foi firme em suas explanações. Enfim, perdemos hoje mais do que um bom jornalista, mas um grande brasileiro. Que hora ruim, heim Boechat?