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Depois da tragédia: em depoimento dramático, mãe de jogador Daniel não dorme em casa para evitar jogos de futebol

A vida de Eliana Correa mudou no dia 27 de outubro de 2018. Após diversas ligações e uma busca desesperada pelo paradeiro do único filho, recebeu a notícia de que Daniel havia sido assassinado. Naquele sábado, Eliana saiu de casa e nunca mais voltou — restringe-se apenas a rápidas e ocasionais visitas para buscar algumas roupas. Ela vive com a irmã Ângela. Quatro meses depois, a ferida está aberta.

Daniel com a mãe Eliana Correa

E será remexida na próxima semana. Eliana e outros familiares estarão em Curitiba, data da audiência de instrução que ouvirá testemunhas e réus do assassinato de Daniel Correa e decidirá se os seis acusados presos – os três membros da família Brittes, Ygor King, David Vollero e Eduardo da Silva – irão a júri popular.

A sétima ré denunciada, Evellyn Perusso, responde em liberdade por falso testemunho.  Em meio ao sofrimento, Eliana luta para que a imagem de Daniel seja preservada. O advogado Nilton Ribeiro foi contratado no Paraná também por isso e é assistente da promotoria do caso. “Tentaram denegrir a imagem dele. Usam o ataque para se defender, mas a verdade vai prevalecer. Daniel sempre foi carinhoso e responsável. Tenho muito orgulho do filho e do homem que o Daniel foi”, contou a mãe .

O luto pela perda do filho é vivido de forma mais calada. Ela se apoia nos amigos e na família, a qual mora em Conselheiro Lafaiete-MG. Eliana fica nervosa quando fala de Daniel e sua morte precoce, aos 24 anos. Não gosta de ficar sozinha, porque as lembranças a perseguem. As festas de fim de ano foram especialmente difíceis para ela. Era o primeiro Natal que passava afastada do filho. O processo para que a conversa com o UOL acontecesse contou com a ajuda de uma das irmãs, Regina Correa.

Eliana não quis falar ao telefone ou mandar áudios. Preferiu escrever tudo à mão, em uma folha de papel, para organizar melhor as ideias e minimizar a dor ao falar do filho. “Ela se solta mais escrevendo”, explicou Regina antes da entrevista.

As folhas foram repassadas à reportagem, e suas respostas também foram narradas em áudio por Regina. Na voz da tia de Daniel, a tristeza é perceptível. O sobrinho era como um filho.

OS MOMENTOS MAIS DIFÍCEIS: “PASSAMOS TODOS OS NATAIS DA VIDA JUNTOS” 

A FILHA DE DANIEL TEM 2 ANOS

“A filha dele estava gripadinha e ele me ligou dizendo que tinha chegado em Curitiba e perguntando se ela estava bem, se não tinha dado febre, se ela tinha tossido. Falou que ia para festa e no outro dia era para eu dar notícias da Alice. A última conversa foi sobre ela e como sempre eu falei: ‘Deus te abençoe, meu filho, se cuide, cuida de você para mim’. Era sempre nossa conversa à noite e sempre rezava e pedia proteção para ele. Assim eu o fiz”.  O nome da filha de Daniel foi omitido por ser menor de idade.

A ÚLTIMA CONVERSA COM O FILHO: “ELE ME LIGOU PERGUNTANDO SE A FILHA ESTAVA BEM”.

“A filha dele estava gripadinha e ele me ligou dizendo que tinha chegado em Curitiba e perguntando se ela estava bem, se não tinha dado febre, se ela tinha tossido. Falou que ia para festa e no outro dia era para eu dar notícias da Alice. A última conversa foi sobre ela e como sempre eu falei: ‘Deus te abençoe, meu filho, se cuide, cuida de você para mim’. Era sempre nossa conversa à noite e sempre rezava e pedia proteção para ele. Assim eu o fiz”.  O nome da filha de Daniel foi omitido por ser menor de idade.

A FILHA DE DANIEL: “UM DIA QUE ELA SENTOU NO MEU COLO E DISSE ‘VOVÓ, QUERO MEU PAPAI'”

“A filha dele pergunta muito por ele, porque ele era muito presente. Desde o parto que ele assistiu, ele acompanhou todos os ultrassons. Ele assistiu ao parto. Acompanhou toda a vida da filha desde o princípio. No celular dele, a gente conseguiu resgatar fotos de um outro celular que ele tinha, tem 7 mil fotos e vídeos da filha. Ele ia na casa dela quase todos os dias. Teve um dia que ela sentou no meu colo e disse ‘vovó, quero meu papai’. Foi muito doído para mim. A semana passada fomos para São Paulo vê-la. A mãe dela foi até o portão para receber umas roupas que foram para lavar e ela saiu cor correndo e falou ‘papai, papai, papai’, porque ele buscava ela para passear sempre, aquilo era um hábito dele”.

A JUSTIÇA: “QUE CADA UM PAGUE POR TUDO AQUILO QUE FIZERAM COM MEU FILHO”

DANIEL NO NASCIMENTO DA FILHA, QUE HOJE TEM 2 ANOS.

“Eu peço a Deus que ilumine as pessoas que vão julgar. Para que cada um pague tudo aquilo que fizeram meu filho passar e vão me fazer passar pelo resto da vida, porque eles me tiraram tudo que eu tinha. Que eles paguem com o maior rigor da lei. Eu acredito e peço muito a Deus muita luz para todos que vão julgar as pessoas que estão envolvidas nesse crime de alguma forma”.

“Estamos indo a Curitiba para falar a verdade. Só temos verdades para falar. O que a gente tem para falar em Curitiba é somente quem era o Daniel que todo mundo que acompanhou a vida dele sabe. Só temos a dizer verdades sobre o Daniel. Eles tentaram, para se defender, denegrir a imagem dele, mas graças a Deus até agora Deus tem iluminado as pessoas que têm avaliado e julgado. Ele não fez nada do que estão dizendo que fez. Estão usando o ataque para se defender, mas eles não vão conseguir porque a verdade vai prevalecer”.  “O porquê disso tudo a gente nunca vai saber, porque eles calaram a voz do meu filho”.

O CONTATO COM OS BRITTES: “ALLANA ME MANDOU UMA FOTO DIZENDO QUE ESTAVA INDO AO IML”

DANIEL COM OS PRIMOS NO ANIVERSÁRIO DE 90 ANOS DA AVÓ, EM 2018

“Eu consegui o contato deles, porque o amigo me deu o telefone de onde o Daniel esteve pela última vez. Eu liguei para a Allana e ela se colocou super solícita. Falou que ela e os pais já tinham procurado lá por perto, me deu telefones e nomes de vários hotéis lá perto que eu poderia procurar, mas que ela também continuaria procurando. Se colocou extremamente solícita”.  “Depois eu disse a ela que tinha encontrado um corpo no IML que eles estavam com uma ideia que pudesse ser ele pelas características. Ela falou comigo o tempo todo, me mandou foto de dentro do carro com os pais dela dizendo que estava indo para o IML, mas que era para eu ficar tranquila que não seria ele. Esse foi o contato. Depois que eu fiquei sabendo, não foi mais eu que falei com ela, foi minha irmã. O pai dela me ligou se colocando extremamente solícito também, falou que ia ajudar. Disse que a família dele toda gostava muito do Daniel e que estava às ordens para qualquer coisa que precisasse em Curitiba”.

A PERSONALIDADE DO DANIEL: “TENHO ORGULHO DO FILHO E DO HOMEM QUE O DANIEL FOI”

Daniel e sua mãe

“Ele sempre foi um filho muito carinhoso. Ele me chamava de Neném. Era muito responsável. Desde muito novinho trabalhava, desde pequeno sempre foi trabalhador, nunca teve problema no trabalho, nunca teve problema na escola. Eu não estou falando isso por ser mãe. A vida dele é pública, só acompanhar isso nas redes sociais, não tem nada que possa reclamar. Eu tenho muito orgulho do filho que o Daniel foi e do homem que o Daniel foi”.

O APOIO: “NÃO CONSEGUI VOLTAR PARA CASA AINDA”

“Em primeiro lugar eu tenho que agradecer muito a minha família, que está o tempo todo comigo. Desde o dia 27 de outubro que eles estão do meu lado o tempo todo. Eu não consegui voltar para casa ainda. Só vou lá buscar roupas. Eu não consigo mais ficar lá”.

“Estou o tempo todo por conta da minha família. Eles cuidam de mim. O time do São Paulo nos apoiou muito. Desde o dia, em tudo que a gente precisou resolver. Em relação a tudo o São Paulo esteve do nosso lado”, escreveu ela. O São Paulo deu suporte jurídico à família de Daniel após o crime, pagou o seguro de vida previsto em contrato e os salários até dezembro, quando o acordo do jogador com o time acabaria.  “Também fico muito satisfeita de ver o carinho que os meus amigos têm comigo e com a minha família toda, está todo mundo sofrendo muito. O carinho dos fãs nas redes sociais, no convívio. É muito bom para mim ver o quanto o Daniel foi querido uma vida inteira, ele é querido”.

O DESEJO: “PEDIRIA A ELE PARA NÃO IR PARA CURITIBA, FICAR COMIGO”.

“Não assisto mais jogo de futebol. Aliás, eu vi tanta coisa que me fez sofrer que eu não ligo nem televisão mais. Se eu pudesse voltar no tempo eu ia pedir para ele não ir para Curitiba, ficar comigo”.  “Eu guardo muita coisa dele. Eu não consigo ainda me desprender. Eu doei muitas coisas para os pobres, era uma coisa que o Daniel gostava de fazer. Os primos que sempre foram criados como irmãos, meus irmãos também. Cada um quis guardar uma lembrança dele. Mas eu guardo muita coisa dele. Quando eu dou as coisas dele para os outros, eu tenho uma sensação que ele está ficando sem nada. Não caiu a ficha ainda”.

  • Textos e fotos: UOL

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