Se a canoa não virar, olê, olê, olá…
Outra chuva forte e mais uma vez, o caos, com novos estragos e velhos problemas. Como sempre, o escoamento da água pluvial pela avenida Telésforo Cândido continua sendo uma grande dor de cabeça e certeza de prejuízos, para os comerciantes locais.
No Cachorrão, o proprietário, um tal “Lenon” disse que tinha estoque para fazer, durante dois dias, uma promoção de pão “molhado”. Ao entrevistá-lo, ele afirmou: Quando cheguei e vi o que tinha acontecido, só consegui dar um grito: “Mother”. Depois pensei, se isso está acontecendo comigo, “Imagine all the people, living for today”, finalizou ele.
Na igreja evangélica vizinha, fiéis entraram em êxtase ao ver o pastor “caminhando sobre as águas”. Numa lanchonete, entrou tanta sujeira, que para funcionar não havia outra alternativa: “Lava a York”.
No rotor, a onda da enxurrada invadiu uma franquia de sanduíches, que um cliente sugeriu a mudança do nome para “Subwayve”, pois a água cobriu quase tudo. Mais abaixo, o dono de outra lanchonete prometia recuperar os prejuízos, aos poucos, “Digão” em grão, disse ele!
Em frente a outra lanchonete, um cidadão ficou de “Bob’s” vendo a enxurrada e teve que se segurar no galho de uma árvore, para não ser arrastado pela força da água. Na loja de peças de veículos, o dono lamentava o acontecido e disse não ter noção dos prejuízos. Em frente à minha loja, parece que se forma um redemoinho e é aqui que a água da enxurrada “Rode Mais”, disse ele.
No varejão, a água invadiu o estabelecimento, batia na parede do fundo e voltava como uma forte onda, arrastando legumes e frutas. O dono disse ter sido a primeira vez que a enxurrada formava as temidas tsu“inhames”. A onda levava tudo e para amenizar o prejuízo vou fazer uma promoção com a pêra d’água, a banana d’água e a abobrinha d’água, que sobraram. Afinal, quem não gosta de uma abobrinha re“afogada”, perguntou ele? Para finalizar, disse estar contabilizando as perdas: o prejuízo foi grande pra “chuchu”, tomei no “jiló” e não sei nem a hora “Quiabo” o varejão, amanhã.
Numa loja de acabamentos para construção, quem comprasse uma banheira, já levava o produto “cheio d’água”. Alguns sacos de cal do estoque foram levados pela enxurrada e foram parar dentro da ótica, mais abaixo. O dono da ótica disse que devido ao fato, todas as lentes em estoque passaram a ser Bifo“cal”. Na lanchonete ao lado, a proprietária garantia que nada invadiu a sua loja, e para provar, mostrava que seu adoçante continuava Zero “Cal” e todos os produtos mantinham a sua baixa “Cal”oria. Ela afirmou que quando chove é o caos, pois são tantas coisas arrastadas na enxurrada, que até está pensando em mudar o nome da lanchonete para “Ava Lanches”. Próximo dali, num consultório médico, um oftalmologista foi obrigado a colocar um aviso na porta do consultório: Devido ao forte temporal e à inundação, hoje só estamos tratando de “cataratas”.
O gerente de uma farmácia lamentava o prejuízo, mas disse que nem tudo estava perdido, pois determinados remédios, poderiam ser tomados “com água”. Do setor de perfumaria, o único que sobrou na prateleira foi o “Kaiak”, que segundo a vendedora é fabricado pelo “Bote”cário. Na loja de roupas, a água que invadiu o local acabou com a “queima” de preços, o que poderia alterar as vendas nos próximos dias. Teve uma Casa de Tintas que iria fazer uma promoção: qualquer tinta à base de “água” comprada, levaria grátis um “Agua”rás.
Cada comerciante tinha uma reação diferente ao fato, pois enquanto uns lamentavam, o dono da pastela“ria”, pois não teve nenhum prejuízo, não sendo necessário pôr a mão na “massa” para contabilizar perdas, somente ganhos. Nas Casas da Bahia, para minimizar o prejuízo e aumentar as vendas, quem comprasse um dormitório, iria ganhar um colchão “d’água”.
A água descia e ia causando problemas, por onde passava. Na rodoviária, teve um ônibus que não conseguiu sair e ficou preso no alagamento. Só depois que água baixou, foi que o motorista seguiu viagem e tinha como destino “Rio Espera”.
Na loja de empadas, quando a água subiu, as empadas de “camarão” aproveitaram para fugir. Ao lado, numa loja de eletrodomésticos, numa promoção relâmpago, só para quem estivesse “molhado”, dava desconto de 30%, à vista, nas “secadoras”.
Do outro lado, com a subida da água, seguranças de um supermercado tentavam evitar a fuga das latas de “sardinha” e de “atum”, enquanto outros funcionários tentavam impedir que a água molhasse o estoque de carne “seca”. Teve um vigia que viu latas de sardinha sendo arrastadas para uma loja próxima, que vendia produtos de higiene pessoal e gritou: Tem peixe na “Redes”…
Também encontrei pela rua, pessoas que afirmavam que dentro do banco, a água subiu além da “conta”, ficou depositada no “fundo”, “Itau”caos lá dentro. Teve cliente que garantiu que a água chegou a molhar a “poupança”, mas não derrubou os “juros”, que sempre estão lá nas alturas. Em nome da instituição, o gerente admitiu o problema e justificou dizendo que era culpa do dólar, que estava “flutuando”. Nos caixas eletrônicos, tinha tanta água, que algumas pessoas ofereciam ajuda, querendo te dar um “bote”, nos mais bobos.
Próximo ao “Viaduto da Ponte da Amizade”, na divisa de Lafaiete com o Paraguai, a enxurrada virou um rio, que eles chamaram de “Rio Paraná”, pois tudo que a força da água levava ia “Para ná” Marechal Floriano. Teve gente que se achou em Veneza, pois a água invadia as lojas e só se via “gôndolas” boiando.
Já na região do Paraguai, os problemas aumentaram. Teve uma rádio que teve a portaria inundada pela força da enxurrada, sendo obrigada a parar de operar em “ondas curtas”, passando a transmitir em “ondas médias”, e se a água subisse mais, seria obrigada a interromper as transmissões.
Quando a água começou a invadir uma sapataria, a preocupação de todos era salvar os calçados mais frágeis, que eram as “rasteirinhas”, enquanto outros foram salvos depois, pois tinham menos riscos, por serem de “salto alto” ou “cano longo”. Mas teve um tênis que naufragou na enxurrada, e alguém disse que parecia aquele filme chamado “TitaNike”.
Da banca de relógios de um camelô, só ficaram alguns “à prova d’água”. De outro camelô, a enxurrada arrastou uma bola e várias camisas de Brasil e Argentina, que foram parar dentro da farmácia, toda alagada. Lá dentro, mais parecia uma disputa de pólo aquático entre os dois países, e não demorou a se formar uma torcida de remédios nas prateleiras, que torcia euforicamente pelas camisas amarelas, aos gritos entusiasmados de: “Plasil, Plasil, Plasil”. O gerente da farmácia disse que a força da água só não arrastou as prateleiras, porque no meio daquele mundão de água, ele conseguiu jogar a Min“Âncora”, segurando e amarrando.
Na padaria, a enxurrada levou pedras para dentro, que para amenizar os prejuízos, o dono vai fazer durante uma semana, uma promoção de Marta “Rocha”. Ao lado, na papelaria, o dono disse que ia tentar vender o seu estoque de papel para a “Casa da Moeda”, pois todo o papel ficou com “Marca D’água”.
O dono de uma loja de tecidos disse que achou que choveria mais “Seda”, pois o tempo estava fechando. Disse querer ver se as autoridades “Algodão” de solução para eles. Uma chuva assim, leva toda a sua “Renda”, chega a “Tafetá” de um modo, que na hora de você “Lã”çar os prejuízos, vê que ficou na “Lona”. Durante a enchente, ele disse que sentou por cima de uma peça de tecido que boiava, e usando os pés, ele conseguia se mover dentro da loja, como se andasse de Peda“Linho”. Até a fiscalização ambiental esteve na loja, para ver se aconteceu alguma coisa com o “Chitão”. O chão de lá ficou tão sujo, que parecia que “Tricô” todo. Ele me disse ainda, que o que eu via naquele momento não era nada: “Cetim”nha que estar aqui na hora da chuva, para ver o horror. Para ele, as autoridades estão “Brim”cando de resolver os problemas, já que até agora, nada resolveu, pois foi só obra fa“Juta”.
Da loja de doces, grande parte da mercadoria foi levada para o leito da linha férrea e uma aglomeração de formou por lá, já que a curiosidade da maioria, era ver o Trem “Bala”, pela primeira vez.
Como em toda chuva forte, uma mistura de água e esgoto descia a escadaria do túnel, formando as famosas Cataratas da “Fossa do Iguasujo”. O fenômeno atraiu tanta gente para o local, que um bicheiro instalou um ponto de jogo, onde os apostadores poderiam fazer uma “fezinha”. Aproveitando a aglomeração de pessoas, uma cartomante também divulgava o seu trabalho, prometendo trazer de volta o amor perdido, e tirar qualquer um da “fossa”.
Diante dos fatos, penso que a solução não é fácil, e da para sair do caos, se a “canoa não virar”. Vamos resolver os problemas, pois é preciso ter “fé”, já que “fezes” não faltam…
Por Ricardo da Rocha Vieira
Obs: Adaptada de outras crônicas já escritas e atualizada a cada dilúvio…