GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA
Avelina Maria Noronha de Almeida
NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 10
O grande conhecedor de Arte, Pe. José Feliciano da Costa Simões,
de Ouro Preto, disse-me uma vez que já ficara horas
observando os altares de nossa igreja.
Continuando a História de nossa amada Conselheiro Lafaiete:
17 de outubro de 1731 – Por provisão do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Antônio de Guadalupe, foi autorizada a construção da nova Matriz, a qual se iniciou em 1733, tendo o seu término somente em 1825. Como o arraial crescesse seguindo a direção do Caminho Velho, estabeleceu-se o local para erguer-se o templo, que é a atual Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
DOM FREI ANTÔNIO DE GUADALUPE ficou, assim ligado à trajetória de nossa terra. Era sacerdote franciscano, nascido em 27 de setembro de 1672 em Amarante, Portugal. Foi nomeado bispo do Rio de Janeiro, em 1722, quando já tinha 50 anos de idade.
Era um homem experiente, quando se tornou bispo. Já fora juiz, deixando a carreira nos tribunais de justiça da Coroa, entrando para a ordem dos frades menores, dedicando-se à pregação e à atividade missionária. Assim sobre ele se expressou Fr. José de São Gualtér Lamatyde:
“… deu as costas ao mundo, quando o podia lisonjear com os adiantamentos bem merecidos do bom zelo, com que servia a Magestade no lugar de Ministro de Juiz de Fóra da Villa de Trancoso, aonde julgou, (e com solido fundamento) que era melhor ser parte no Paraiso da Religião, do que ser Juiz no século, para que no Juizo final se não trocasse a sorte de vir a ser réo sentenciado a final para huma eternidade de penas; podendo na Religião, pela observância do seu Instituto, ser promovido pela Magestade Divina ao Tribunal da sua glória.”
Pregou nos púlpitos mais autorizados de Portugal, senso tido como um dos maiores daquele século. Vindo para o Brasil, apresentou muitos valores em sseu bispado.
Considerei ser importante falar sobre ele porque sua assinatura de aprovação está nos anais da construção de nossa Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Alguns trechos que achei muito interessantes em minha pesquisa sobre sua história no Brasil: após pregar numa missa sobre inimizades, “chamou aos dois e a um cônego que estava sem falar com outros três, e reunindo todos os cônegos e dignidades na sacristia da igreja, os fez abraçar uns aos outros ‘não sem lágrimas de alguns companheiros’”. Achei esta formidável!!!
Outro trecho de que gostei muito: “Foi às igrejas matrizes assistir à doutrina das crianças, tendo, uma vez, ele mesmo assumido a tarefa.
Faleceu em 31 de agosto de 1740.
Antes de falar um pouco das características do templo, quero alertar sobre informações incorretas sobre ele. É um erro histórico (que eu mesma passei para meus alunos de Curso Primário por muitos anos) dizer que foi construído pelos bandeirantes e pelos índios carijós; isso aconteceu com a primitiva igreja ainda no século XVII, em Passagem de Gagé. O atual foi feito com um caprichoso planejamento, feito por carpinteiros e houve ajuda dos escravos do Capitão-Mor Manoel Gonçalves Viana.
Quando o nosso ilustre historiador Antônio Luiz Perdigão chegou de volta à nossa cidade, procurou corrigir este erro, dizendo que não foram os bandeirantes e índios Carijós que construíram a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, situada entre a Praça Tiradentes e a Praça Barão de Queluz. Eles não tinham condições de realizar uma obra assim. Sua construção se deve a competentes carpinteiros, em terreno bem escolhido e segundo plano obediente às regras da época.
O outro erro é considerá-la como a primeira Matriz, ereta em 1709. Em seus escritos, Pe. José Duarte de Souza desmitificou essa informação corrente e apresentou anotações tiradas do Livro da Irmandade do Santíssimo, que se encontra em Mariana. De acordo com essas anotações, como a primeira Matriz, ereta em 1709, estava pequena para conter os fiéis, a Irmandade reuniu-se em 1731 e escolheu um terreno, localizado na região em direção à qual o arraial ia se expandindo, e o cercaram. O trabalho de construção iniciou-se em 1733, portanto 24 anos mais ou menos após a criação da paróquia. O sacerdote historiador deu várias pistas da localização da primeira matriz, apresentadas no relatório de visita de um bispo e na documentação da ordenação de um sacerdote.
Fazendo algumas pesquisas, levantei a tese de que era no local onde hoje se vê a Igreja de São João, um pouco mais para cima.
A Matriz atual, construída na Praça Barão de Queluz, que nos encanta o olhar e o coração, lançando no azul as suas belas torres, foi, assim, construída pela Irmandade do Santíssimo, com a ajuda financeira do povo, em lugar bem escolhido, de acordo com as regras da época, por experientes carpinteiros contratados e, como já citei, e de acordo com o Livro da Irmandade do Santíssimo da época, escravos de Manoel Gonçalves Viana trabalharam também na obra
Tive ocasião de ver, certa vez, o desenho de um engenheiro que quadriculou a parte da frente da Matriz em linhas transversais que passavam em cada ângulo de janelas, portas, torres e outros detalhes da construção. Algo muito perfeito e digno de admiração.
Apliquei ao desenho de sua parte da frente a Regra Áurea, fazendo sobre ele uma estrela de cinco pontas (um dos exemplos dessa regra) e deu certinho, uma das provas da competência de quem a planejou e construiu.
A Regra ou Proporção Áurea foi-nos legada pelos gregos, que padronizaram a arquitetura em termos de largura e altura, sendo a mesma muito utilizada em pintura, no Renascimento, por Leonardo da Vinci.