Moradores do Morro da Mina, Manoel de Paula e outros bairros da região norte de Lafaiete relatam o medo e a insegurança em torno da Mina de Manganês da Vale. As explosões fazem parte do processo de exploração do manganês, sub produto da indústria metalúrgica.
A Vale Manganês suspendeu suas atividades em 2016 e retomou a cerca de um ano e meio. Porém, segundo os moradores, a intensidade das explosões traz preocupação e apreensão. Ao longo da semana, nossa reportagem esteve no bairro Morro da Mina e ouviu dezenas de moradores. A principal reclamação é que as detonações afetariam as estruturas das residências. “Até agora a Vale sequer nos informou a respeito de suas atividades. Percebemos que as explosões afetam nosso cotidiano com um grande barulho”, protestou um morador que não quis se identificar mas mora bem próximo a entrada da Vale. Ele mostrou diversas trincas, segundo ele, provocadas pelas explosões.
A nossa reportagem percebeu que as explosões ocorrem sempre no final das tardes entre 17:00 até 17:30 horas. Segundo moradores, é sempre uma explosão, quando muito duas ao dia. “Sempre houve estas explosões, mas agora piorou. Até os vidros e o prédio balançam. Chegou até cair produtos da prateleira”, comentou Wellington e Natália, sócios de um açaí no final da Duque de Caxias. Eles contam que até acostumaram com o barulho.
A dona de um prédio, Jaqueline da Silva, contou que o barulho incomoda seus filhos e chegam a chorar. “No momento das explosões eles acordam assustados com o barulho”, relatou. Jaqueline diz que o prédio treme e o impacto constante fez com que os ladrilhos de sua cozinha soltassem. “Até a porta fecha sozinha e vidros tremem. Chegou até quebrar o vidro aqui”, apontou.
O enfermeiro Maurício Melo, morador há mais de 50 anos da Duque de Caxias, observou que o volume das explosões subiu. “Temos muitas rachaduras em nossa casa e quando das explosões sentimos a casa balançar e vidros tremerem”, afirmou.
Já a Secretaria Soraia Bastos, que há 30 mora na Duque de Caxias, demonstrou preocupação com as explosões. “Sempre houve as explosões, mas agora são mais intensas. Isso preocupa a gente em relação a estrutura de nossa casa onde há diversas tricas”, observou.
O marceneiro autônimo, Marco Aurélio, é outro morador da Duque de Caxias, que, apesar do costume com o barulho, nota que as pessoas estão mais preocupadas com a situação. “Na verdade a gente não sabe nada e a Vale sequer mostrou laudos para nos tranquilizar sobre a situação. Tenho minha fábrica há 1km da minha casa, na Capela da Paz, e de lá ouço o barulho das explosões. Como não preocupar?”, questionou. Marco lembra que há anos atrás a sirene era aciona para avisar aos moradores das detonações.
Promotoria
Nossa reportagem procurou o Promotor Glauco Peregrino, Curador do Meio Ambiente. “Não há qualquer procedimento aberto sobre esta questão, haja vista que ninguém reclamou ao Ministério Público sobre isso”, informou.
Outros depoimentos
Na rua Nossa Senhora da Conceição, na divisa entre os Bairros Morro da Mina e Manoel de Paula, os moradores também reclamam do barulho das explosões. A enfermeira Cláudia Lúcia, mostrou sua casa com diversas rachaduras. “Aqui os basculantes tremem, as portas e janelas batem. Já troquei vários vidros trincados”, sinalizou. Ela cobrou transparência da Vale, minerada na qual seu pai se aposentou. “A Vale deveria olhar com mais carinho para o bairro. Além do barulho temos problemas com poeira”, observou.
Vinicius Couto é dono de uma padaria há 16 anos. “Estas explosões sempre existiram. A maioria das casas aqui na rua tem rachaduras. A gente precisa da Vale que gera empregos em Lafaiete, mas o problema piorou nos últimos anos”, comentou.
O Presidente da Associação Comunitária do Morro da Mina, Galdino Ferreira Neto, ex funcionário da Gerdau, fez uma solicitação a empresa. “O que gente espera é mais atenção com nós moradores. Que ela explique melhor a situação e esclareça o aumento das explosões que deixam os moradores apreensivos. Ela deveria ser mais transparente e ao menos mostrar a realidade através de um informativo ou uma reunião conosco”, sugeriu. Entre diversas entrevistas colhidas uma moradora, 34 anos residente no Morro da Mina, afirmou que os barulhos não são preocupantes e o aumento da intensidade das detonações está ligada muitas das vezes ao vento. As explosões já existem há várias décadas e faz parte do processo para extração do manganês, explicou.
A história de um bairro operário
O Morro da Mina é um bairro familiar e bucólico. São poucos prédios e as casas mantém grandes quintais que ao fundo são cortado pelo Rio Ventura Luiz. Grande parte dos moradores são ex funcionários da mineradora e muitos filhos ainda são empregados hoje da Vale. “O bairro nasceu em torno do morro da mina . Foi através da mineração que se formou esta região. É um bairro operário e de ex funcionários que ganharam lotes e terrenos para residirem aqui”, recorda o ex funcionário Sebastião Bastos que também é vice presidente da associação de moradores.
Ele conta que mineração existe no local há mais de 120 anos, quando os americanos criaram a Cia Meridional Mineração. Depois veio a Paulista Ferro Ligas, Sociedade Mineira de Mineração e em 1996 a Vale adquiriu a mina. “A história do bairro foi escrita pela mineração”, finalizou Sebastião.
Laudos da Vale apontam que barulho e vibrações provocados pelas explosões estão dentro dos limites
Nossa reportagem entrou em contato com Augusto Júnior Araújo, Coordenador da Defesa Civil da Prefeitura de Lafaiete. Ele contou que em agosto do ano passado, a Defesa Civil foi acionada pelo Ministério Público para fazer vistoria na Capela de Santo Antônio sob alegações do provedor de que vibrações oriundas das atividades de detonação ocorridas no bairro Morro da Mina estariam deteriorando o patrimônio histórico.
No laudo realizado pela empresa especializada com instalação de sismógrafos foi constatado que as vibrações advindas do bairro Morro da Mina não estariam sendo a causadora das avarias encontradas na Capela.
Já em outubro de 2018, a defesa civil foi acionada novamente pela associação dos moradores do bairro Arcádia para vistoriar cerca de 30 residências que estariam com trincas também sob alegações de vibrações oriundas de detonações. As edificações foram vistoriadas e nenhuma apresentou risco de desabamento, no entanto foram verificadas algumas patologias como fissuras e trincas em algumas casas sendo que muitas destas são comuns à qualquer tipo de edificação.
A Vale forneceu um relatório de monitoramento sismográfico, sendo que os sismógrafos que monitoram as vibrações foram instalados nos bairros Morada do Sol, Escola Meridional, Faculdade FASAR, São Judas Tadeu e estrada da Água Preta.
O relatório realizado em junho/2018 traz em sua conclusão o seguinte: “Todos os resultados, tanto de vibrações quanto de pressão acústica ficaram consistentemente abaixo dos limites de segurança contra danos preconizados pela NBR 9653/2018 não ensejando, portanto a possibilidade de terem sido causados danos, ainda que superficiais, às estruturas monitoradas e às que se encontram no entorno de cada ponto de monitoramento”.
Os estudos de monitoramento sismográfico estão disponíveis para consulta na Defesa Civil à disposição de qualquer cidadão.