GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA
Avelina Maria Noronha de Almeida
NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 16
O governador prometeu fazer com que os credores esperassem
até o fim da obra mas que “se as coisas não saíssem como dizia,
era com ele, governador, que teria de haver-se.
Continuo a história do homem empreendedor que vivia, no século XVIII, na localidade de PASSAGEM, próxima a Gagé, e que embrenhou-se na mata para desviar um córrego que descia para o Piranga, trazendo-o para a vertente oposta, a do Rio Paraopeba. Nas anotações de Joaquim Rodrigues de Almeida descobri, num documentos de perfilhação, que esse homem é meu sexto avô. Mas isto é outra história… O motivo de tal empreendimento era a necessidade de águas para explorar o ouro abundante nas minas de Passagem, por ele descobertas. Em sua visão arrojada e espírito aventureiro, lembra – respeitadas as devidas proporções – o grande Barão de Mauá.
Ainda recordando o que escrevi anteriormente, completou suas posses com dinheiro emprestado de amigos e conhecidos. Como o tempo fosse passando (pois a empreitada era difícil e o referido córrego estava a algumas léguas de distância) e o homem não aparecesse, justamente fugindo de assédio dos credores, estes resolveram tomar providências. Mas passo a palavra escrita para Francisco de Paula Ferreira Rezende (em Minhas Recordações) que sabe contar os fatos com seu estilo literário sugestivo e agradável:
“Diante de um tal desaparecimento, os credores trataram de acioná-lo à revelia; prepararam as suas execuções; e quando o misterioso fujão de novo apareceu no campo, nas imediações de Ouro Branco e à frente do rego que vinha agora trazendo, sem mais demora começaram a cair sobre ele as citações para a penhora, e ele, pelo seu lado e com a maior impassibilidade, a pedir vista para embargos”.
Em sua teimosa atividade, foi ajudado pela sorte. O governador e capitão-geral, sabendo do fato ou devido a denúncias, chamou o homem para saber “se era exato que ele havia pedido vista para embargo de todas aquelas execuções e se era possível que em tão grande número de credores e de dívidas não houvesse um só que não fosse um velhaco ou uma só que não fosse filha da fraude”.
O homem foi muito seguro e correto em suas explicações ao governador, dizendo, de seus credores, que eram homens “muito de bem” e que realmente devia tudo o que cobravam; que pedira vista às execuções para ganhar tempo e “não ter o desprazer de naufragar quando já estava quase que entrando no porto”. Logo que chegasse com as águas à mina, pagaria os seus credores e “se julgaria bastante rico para dar disso prova à Sua Majestade e ao seu representante na colônia”.
O governador prometeu fazer com que os credores esperassem até o fim da obra mas que “se as coisas não saíssem como dizia, era com ele, governador, que teria de haver-se”.
Pois o homem conseguiu levar as águas aonde desejava e pagou generosamente todos os seus credores, naturalmente com bons juros. O relato do livro não fala sobre a recompensa à Sua Majestade e ao governador, mas é de se supor que tenha sido também generosa.
Foi quando, com esta transposição do regato, tornou-se um verdadeiro nababo. Voltando ao livro: “.. e a sua riqueza tornou-se tal que, sendo uso naquele tempo pulverizarem as mulheres os seus cabelos com uma espécie de pós brancos, as suas filhas (se não há em tudo isto no meu espírito alguma confusão de fatos e pessoas) quando iam à igreja, pulverizavam os seus com ouro em pó”.
Verdadeiramente é um final de feliz sucesso. Um happy end depois de tanta luta.
FRANCISCO DE PAULA FERREIRA DE REZENDE é patrono de uma cadeira da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette. Merecidamente, porque ele abre, em vários momentos de seu livro, uma janela ampla para o passado de nossa terra, onde viveu alguns anos, tendo sido juiz, na qual se pode debruçar e vislumbrar, como se fossem episódios de um filme, cenário, personagens e fatos da gente de Carijós e de Queluz.
NOTA COMPLEMENTAR:
De acordo com documento feito por Pe. Américo Adolpho Taitson, pároco de Queluz, sobre as terras de Passagem e da Igreja da Passagem, onde ele cita João José, irmão de Pe. José Silvestre Araújo, que construiu a igreja que foi restaurada pela Gerdau e é usada para as cerimônias religiosas, e com estudos sobre este documento de perfilhação transcrito nos Cadernos de Joaquim Rodrigues de Almeida, este João José abaixo é o personagem da história que foi narrada.
1847 – João José Silvestre da Silva Araújo, capitão, morador na Passagem de Ouro Branco (hoje é de Conselheiro Lafaiete) em escritura de perfilhação, passada no sítio Cruz das Almas, residência de Luiz Lobo Leite Pereira, reconheceu como seus filhos, havidos no tempo de solteiro, com Joana Batista, mulher solteira, seguintes filhos: Bárbara, casada com Joaquim José Carlos; Ana, casada com Francisco Ribeiro; João Custódio; e com Joaquina Rosa do Espírito Santo, também mulher solteira, tivera: José Augusto da Silveira, Silvéria Maria de Jesus, Carolina Maria de Jesus; Maria, casada com Joaquim José Lobo, Joaquim José da Silva e Antônio José da Silva.
(Livro de Joaquim Rodrigues de Almeida)
Bárbara e Joaquim José Carlos são meus pentavós, antepassado das pessoas do meu Ramo Gegealógico Batista.