GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA
Avelina Maria Noronha de Almeida
NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 17
Era na verdade capela
Aquela igrejinha
Que no meio da rua ficava
Elza Verdolim Hudson
Continuando as notícias cronológicas de Conselheiro Lafaite, ainda estamos na época do Arraial do Campo Alegre dos Carijós.
Chegamos agora ao ano de 1767. Certo dia, homens abastados de Carijós, que haviam instituído, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a arquiconfraria de Nossa Senhora do Carmo, requereram a provisão para a construção de sua igreja. Concedida a provisão, ela foi levantada. Estava pronta cerca de 20 anos depois.
Esta foi o sétimo templo de nossa cidade. Por que o SÉTIMO?
VOU EXPLICAR:
Os bandeirantes, que sempre traziam imagens nas expedições, ajudados pelos índios, levantaram uma ermida de madeira ou cercada de esteiras e coberta com folhas de colmo, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição, a qual, algum tempo depois, teria sido substituída por uma igrejinha de pau a pique.
Pe. José Duarte de Souza Albuquerque focaliza o assunto no excelente trabalho inédito “SUBSÍDIOS DE PESQUISAS FEITAS NO ARQUIVO PAROQUIAL E NO FÓRUM DE CONSELHEIRO LAFAIETE, NA CÂMARA ECLESIÁSTICA DE MARIANA, NO ARQUIVO MINEIRO E NO MUSEU DE SÃO JOÃO DEL REI, PARA A FUTURA HISTÓRIA DA PARÓQUIA DO MUNICÍPIO DE CONSELHEIRO LAFAIETE.
Em minha opinião, tal igrejinha de pau a pique teria sido erigida onde mais tarde, já em meados do século XVIII, erigiu-se a igreja da Passagem ou nas proximidades do templo. Talvez haja algum documento esclarecedor na Cúria do Rio de Janeiro, pois Carijós, naquela época, fazia parte do bispado do Rio de Janeiro, em Mariana ou Ouro Preto, pois Carijós fez parte de uma divisão regional sediada em Villa Rica. A procurar. Disse o jornalista Quincas de Almeida que havia um documento sobre a primitiva igreja em um baú na Fazenda dos Macacos. Fui lá um dia, há muitos anos, e me disseram que não havia mais nenhum baú lá.
Baseando-me em Padre José Duarte sobre as três primeiras igrejas e complementando com outras pesquisas:
A primeira igreja de nossa terra foi a de madeira feita pelos bandeirantes ajudados pelos índios carijós em Passagem do Gagé, nos últimos tempos do século XVI, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição.
A segunda, a de pau a pique, no mesmo local, com s mesma invocação.
A terceira foi a primeira Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída no local onde hoje se ergue a Matriz de São João, depois que foi criada a freguesia de Nossa Senhora da Conceição pelo Padre Gaspar Ribeiro Fonseca, enviado do bispo do Rio de Janeiro, Dom Francisco de São Jerônimo.
A quarta foi a igreja de São Gonçalo, provisão de 1725, construída por Manoel de Azevedo Pereira Brandão.
A quinta foi a atual Matriz de Nossa Senhora da Conceição, localizada na Praça Barão de Queluz. Em seus escritos, Pe. José Duarte de Souza apresentou anotações tiradas do Livro da Irmandade do Santíssimo, que se encontra em Mariana. De acordo com essas anotações, como a primeira Matriz, ereta em 1709, estava pequena para conter os fiéis, a Irmandade reuniu-se em 1731 e escolheu um terreno, localizado na região em direção à qual o arraial ia se expandindo, e o cercaram. O trabalho de construção, embora seja citado em 1732, iniciou-se mais fortemente em 1733, portanto 24 anos mais ou menos após a criação da paróquia.
A sexta foi a igreja de Santo Antônio. O capitão Manoel de Sá Tinoco requereu e obteve, a 14 de março de 1751, de Dom Frei Manoel da Cruz, primeiro bispo de Mariana, provisão para erigir e construir patrimônio para Santo Antônio. Em 1754 o templo estava pronto.
A SÉTIMA foi a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em 1767.
A oitava foi, a de Passagem de Gagé, que foi construída pelo Padre Silvestre da Silva Araujo em 1774 e, anos atrás, foi restaurada pela Gerdau.
Outros templos foram construídos, mas já nos séculos seguintes.
VOLTANDO À IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO:
No próximo artigo, darei mais algumas informações deste templo construído em 1767, pois é importante aproveitar para tornara mais conhecido este religioso patrimônio que já existiu há muito tempo, contribuindo para que não se perca nas brumas do passado!
Hoje vou terminar com um poema da ilustre poetisa lafaietense Elza Verdolim Hudson, que deu vida ao templo, que tão bem conheceu, num lírico documento.
Este poema está na Orelha da Contracapa da ANTOLOGIA EM PROSA E VERSO XXIII. QUE FOI LANÇADA ESTE ANO E QUE TEM NA CAPA A FOTO DA IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO, QUE ESTA FOCALIZADA NA ANTOLOGIA.
A IGREJINHA DE NOSSA SENHORA DO CARMO
Elza Verdolim Hudson
Era na verdade capela
Aquela igrejinha
Que no meio da rua ficava
Construída pelos escravos
Velha, pequena, maltratada
Guardando com galhardia
Toda uma tradição.
Sempre fechada
Quando se abria a porta
Pelo vento, por
Mendigos ou passantes
Ou curiosos estudantes
Mais medo tínhamos nós
E mais amada se tornava.
Nela ninguém entrava
De superstições era cheia
E os anos assim se passavam
Até que um dia espantada
De tanta irreverência pela história
Vi a igrejinha demolida
Para viver só na lembrança.
Aquela igrejinha
Inexistente mas tão querida
Sinto com emoção
Que bem naquele lugar
Ainda parece estar
Nossa Senhora do Carmo
A toda a cidade abençoar.
COMO PEDE A POETISA ELZA:
QUE NOSSA SENHORA DO CARMO DERRAME MUITAS BÊNÇÃOS SOBRE NOSSA CIDADE!