GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA
Avelina Maria Noronha de Almeida
NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 30
Seria essa alegria da Real Villa de Queluz uma herança vinda dos tempos do Arraial do Campo Alegre dos Carijós?
Sobre os primeiros tempos da Real Villa de Queluz, em fins do século XVIII e primeira metade do século XIX, e princípio da segunda metade, tem sido nosso informante FRANCISCO DE PAULA FERREIRA REZENDE, em seu excelente livro MINHAS RECORDAÇÕES, sendo que o autor foi juiz municipal de órfãos do termo de Queluz, para onde veio em 1857, sendo, portanto, uma testemunha ocular daqueles tempos em nossa terra.
Vou trazer mais um pouco das memórias do ilustre escritor e, assim, conhecer melhor a nossa história.
De acordo com Ferreira Rezende, quando ele chegou aqui, encontrou um lugar com considerável criação de animais, principalmente muares, boa cultura de cana e de posição excelente quanto a mantimentos, constituindo-se num dos melhores celeiros de Ouro Preto. Quanto à cidade, porém, achou-a pobre, devido, naturalmente à decadência do ouro na região.
Interessante é a sua declaração de que a vila parecia constituir uma só família, eram quase todos os habitantes aparentados. Mas passemos a palavra para o senhor juiz:
“Apesar da riqueza que lhe faltava, era Queluz uma povoação que nada tinha de desagradável ou de enfadonha; mas era, pelo contrário, uma povoação alegre, onde as festas eram freqüentes, variadas, bonitas e todas elas muito baratas; porque todos concorriam para elas com as suas pessoas ou com aquilo que podiam dar e muito pouco era o dinheiro que realmente se gastava.”
Seria essa alegria da Real Villa de Queluz uma herança vinda dos tempos do Arraial do Campo Alegre dos Carijós?
Vejamos uma importante atividade artística, naquele tempo, que havia nas terras de São Gonçalo do Brandão, povoado da Real Villa de Queluz.
AS COLCHAS DE SÃO GONÇALO… NA EUROPA!
Entre vários relatos interessantes, que encontramos, em sua obra, o seguintetrecho sobre nossa terra:
“Composto de campo e mato, a indústria do município em 1857 consistia: primeiro na criação de animais, sobretudo muares, cujo preço era de 50$000 mais ou menos na idade de um a dois anos; segundo, na cultura da cana em ponto maior ou menor; e terceiro, finalmente, na de mantimentos, para a qual a mata era boa e oscapões ainda melhores.
(…) Além dos tecidos de algodão para uso doméstico e que se encontravam por toda parte, havia na freguezia da vila uma fazenda ou um lugar chamado São Gonçalo onde se faziam umas colchas ou antes cobertores de lã, alguns dos quais tinham no centro as armas imperiais, obra tão bonita e tão perfeita que apesar de ser o seu custo de 50$000, não era fácil de obtê-los; visto que, além de serem muito procurados, sobretudo para presentes, na Corte e na província, até para a Europa, segundo depois vim a saber, alguns foram, por intermédio de minha sogra, para as nossas princesas que ali residiam ou para encomendas destas.”
Há dessas colchas, com o bordado das armas imperiais, expostas na parede, no Museu Inconfidência de Ouro Preto. Achei linda a que estava exposta, quando fui lá.
A foto abaixo faz parte de uma colcha, que um historiador viu estendida em uma cama, em uma fazenda antiga, e a fotografou, passando-me uma cópia. Vejam os desenhos que lindos, semelhantes aos das famosas colchas da freguesia de Castelo Branco, em Portugal.
A referida colcha tem duas letras bordadas, B.P., as iniciais de seu dono, o Barão de Piratininga.
Viram como São Gonçalo do Brandão é importante na História do Século XIX