Com juros menores, o rendimento dos investimentos mais conservadores caiu e ficou mais difícil ganhar dinheiro. Até aí, sem novidades. Mas o que acontece quando essa lógica é aplicada ao longo prazo? Significa que, pelos próximos 35 anos, você terá que investir todo mês mais que o dobro do que aplicava há quatro anos para chegar à mesma renda na aposentadoria.
Se, no passado, alguém com 30 anos tinha que guardar R$ 598 por mês para ter uma renda mensal de R$ 10 mil entre os 65 e 90 anos, com o atual cenário de taxa Selic na mínima histórica, é preciso guardar R$ 1.438 por mês para chegar ao mesmo valor na aposentadoria.
Caso o investimento de R$ 598 seja mantido, a renda após os 65 anos cai para R$ 5.106 com os juros atuais.
Esses são os resultados de algumas simulações feitas na nova calculadora de aposentadoria do InfoMoney. A ferramenta foi elaborado por Lauro Araújo, mestre em finanças internacionais, assessor de investimentos e autor de livros como Guia de Investimentos e Saúde Financeira e Fique Rico e Viva Feliz.
Existem algumas regrinhas de uso, como não mudar o nome do arquivo e ter uma versão de Excel habilitada para macros e função solver.
Um dos campos que deve ser preenchido na planilha é o rendimento real (acima da inflação) e líquido (sem Imposto de Renda) dos investimentos feitos para a aposentadoria.
No exemplo do início do texto, para comparar o rendimento de quatro anos atrás com o atual, Araújo considerou que em 2016, quando a taxa Selic estava acima de 14% ao ano, o investidor ganhava tranquilamente algo em torno de 6% acima da inflação, já descontado o IR.
Agora, com a Selic em 2%, o rendimento médio fica próximo a 3%, considerando investimentos mais conservadores.
A Selic impacta os investimentos porque ela é o juro básico da economia e a referência usada para a remuneração dos investimentos de renda fixa (entenda mais), classe que concentra muitas das aplicações para a aposentadoria, como os títulos públicos atrelados à inflação, Tesouro IPCA, e boa parte dos fundos de previdência.
Quando a Selic sobe, essas aplicações rendem mais e, quando cai, como é o caso agora, rendem menos.
Outro ponto importante quando o assunto é aposentadoria é que, ao calcular o rendimento no longo prazo, não se deve observar só a fotografia do momento, mas o filme todo. Ou seja, é preciso considerar não apenas o rendimento médio e a inflação atuais, mas a projeção dessas taxas durante todo o período do investimento.
É por isso que Araújo diz que hoje o mais razoável é considerar uma rentabilidade líquida de 3% e não de 2% (atual patamar da Selic) ou menor.
“A inflação vai subir e a Selic também. Da mesma forma que, quando a Selic estava em 14% não se usava um retorno de 10%, mas de 6%, porque existia expectativa de queda, hoje temos uma expectativa de que o retorno vai subir. É preciso pensar nas premissas com visão de longo prazo”, diz.
Uma frase muito repetida no mundo das finanças, de autoria do físico irlandês William Thompson, diz que “não é possível melhorar aquilo que não se pode medir”. Em outras palavras, quanto antes o investidor encarar essa nova realidade, mais fácil será corrigir a estratégia rumo à tão sonhada aposentadoria.
Onde investir?
Ainda que o investidor tenha que se acostumar com rendimentos de renda fixa menores agora, isso não significa que as únicas soluções para alcançar uma aposentadoria tranquila sejam aumentar o valor investido ou tentar a sorte na Loteria.
Os resultados dos investimentos são uma combinação entre: prazo, valor investido e rentabilidade. Se o prazo até a sua aposentadoria não pode ser ampliado e aumentar os aportes mensais não é uma opção com a renda que você possui hoje, uma terceira via é partir para investimentos mais arriscados para tentar maximizar os retornos.
Enquanto em 2016 títulos públicos como o Tesouro IPCA chegavam a pagar até 7,5% acima da inflação, hoje as taxas não passam de 4%.
Para ter um retorno superior agora, vai ser preciso sair da zona de conforto. Para Araújo, isso significa se aventurar por novos mares, como planos de previdência que investem em ações, debêntures, que são títulos de dívidas de empresa e ainda títulos de crédito privado, como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).
Mas é importante ressaltar que a decisão sobre onde investir, ainda mais para um objetivo tão importante como a aposentadoria, deve ser tomada com muito cuidado. Arriscar sem critério pode ser perigoso, por isso sempre leve em consideração seu perfil, se é mais conservador, moderado ou arrojado (descubra seu perfil e veja os primeiros passos para investir).
Esses são alguns dos pontos de partida sobre o tema aposentadoria, mas a nossa recomendação é: mexa bastante na planilha e divirta-se. Guardar dinheiro, quando existe um futuro pela frente, pode ser muito mais divertido do que deixar para a última hora. E bons investimentos! (Info Money)