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Brasil caminha para ultrapassar os EUA em número diário de mortos pela covid-19

O que mais falta acontecer? Não é por falta de aviso e nem por carência de indicadores. Nos próximos dias o Brasil vai ultrapassar os Estados Unidos e assumir o lamentável posto de líder mundial no número diário de mortes pela covid-19. A distância entre os dois países vem diminuindo desde o início de janeiro, graças à aceleração da vacinação entre os americanos e à letargia do governo brasileiro. Ainda este mês, o Brasil também deverá superar a Índia no volume total de casos da doença, assumindo o segundo posto no ranking mundial, ficando atrás apenas dos EUA. Enquanto isso, o governo do presidente Jair Bolsonaro patina na compra de novas vacinas, critica a eficácia do uso de máscaras e mente ao dizer que a responsabilidade pelo caos sanitário é, exclusivamente, dos governadores. Nesta quarta-feira, dia 3 de março, o país registrou 1.910 mortes em 24 horas, batendo um novo recorde na pandemia e chegando a um total de 259,2 mil vidas perdidas.

Nos últimos dias, especialistas e autoridades intensificaram os alertas sobre a gravidade da situação e pediram que o governo faça a sua parte e coordene a adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais. Foi o que fizeram, por exemplo, os pesquisadores do Observatório Fiocruz Covid-19. Para eles, uma combinação de fatores mostra que a pandemia no país está fora de controle:

“Pela primeira vez desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos e óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a alta positividade de testes e a sobrecarga dos hospitais”, ressalta o boletim do Observatório Fiocruz Covid-19.

Entre as medidas sugeridas pelos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, estão o reconhecimento legal do estado de emergência sanitária, a implementação de planos e campanhas de comunicação, viabilização de recursos extraordinários para o SUS e aceleração da vacinação para toda a população via Plano Nacional de Imunização (PNI).

O médico neurologista Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados cientistas do país, foi ainda mais enfático na sua página no Twitter: “Ou o Brasil se tranca por pelo menos três semanas e amplia o número de vacinados de forma radical, ou nos transformaremos na maior catástrofe sanitária mundial do século XXI em poucos meses”.

Na última segunda-feira, dia 1 de março, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) já havia recomendado a adoção de um torque de recolher no país das 20h até as 6h, todos os dias da semana, com o objetivo de conter o avanço do contágio e o colapso do sistema de saúde. Em documento enviado ao Ministério da Saúde, a entidade destacou o risco iminente de que brasileiros venham a morrer sem atendimento médico, caso  medidas drásticas não venham a ser adotadas.

Em entrevista à BBC Brasil, o biólogo e divulgador científico Átila Iamarino lembrou os riscos que representam as novas variantes do vírus que estão se proliferando no país e criticou a falta de estratégia do governo: “Temos dois inimigos: a nova variante (do vírus) e a falta de estratégia do governo federal. O Brasil criou a própria derrota. A mutação é fruto direto da estratégia genocida de contar com as pessoas circulando livremente. Não por acaso surgiu aqui uma das variantes mais perigosas. Adotamos uma estratégia que cultivou um monstro e que, tudo indica, está causando um surto de casos”.

Já a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo vê o aumento do contágio da doença como consequência da desobediência nacional, em todos os níveis, às recomendações da ciência: “Isso é reflexo do Carnaval, das festas que tem acontecido clandestinamente. Teremos UTIs lotadas pelo país, cada vez mais contaminados jovens, ou seja, pessoas abaixo de 50 anos. Isso, sem contar a média alta de mortes. Teremos o mês de março mais triste dos últimos anos”.

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