O número de mortos pela Covid-19 pode chegar a 4 mil por dia até o fim de abril. A previsão é da Rede Análise Covid – que reúne especialistas de diferentes áreas para interpretar os dados oficiais sobre a pandemia.
Nesta quarta-feira, 17, a média de óbitos pela doença ultrapassou pela primeira vez a marca de dois mil.
A análise coincide com avaliação da Fiocruz. Em mais um boletim extraordinário, divulgado na noite de terça-feira, 16, a instituição afirmou que o Brasil vive “o maior colapso sanitário e hospitalar da história”. Para reduzir o impacto da tragédia, defendem os especialistas, medidas severas de restrição de circulação precisam ser adotadas imediatamente.
Pela primeira vez desde o início da epidemia no país, os números de novos casos e mortes pela Covid crescem exponencialmente em todos os Estados. Esse é um indicador importante de que a doença está fora de controle, segundo o coordenador da Rede Análise Covid, o cientista de dados Isaac Scharstzhaup.
“Como a doença veio de fora, ela chegou de avião, inicialmente às principais capitais e começou a se espalhar de cidade em cidade. Na metade do ano passado, muitas capitais estavam sofrendo, mas havia muitas cidades do interior em que não havia sequer um caso da doença; a distribuição dos casos era muito díspare”, explicou Scharstzhaup. “Agora, desde a virada do ano, a tendência de aumento é geral; o que muda de um Estado para o outro é apenas a velocidade de transmissão.”
Segundo o especialista, apenas a adoção de medidas severas de restrição de mobilidade por todo o País, de forma coordenada, pode deter a pandemia. Segundo ele, ações pontuais são inócuas.
“Não adianta fazer lockdown de fim de semana, de sete dias”, explicou. “O ciclo de contágio do vírus é de 14 dias. Os países que adotaram o lockdown mais rigoroso só começaram a ver resultados a partir do décimo-quarto, décimo-quinto dia.”
O relaxamento das restrições de circulação logo que as taxas de ocupação dos hospitais começam a cair (como ocorreu no Brasil) não é o ideal, segundo o cientista de dados.
“Por isso nunca chegamos a zerar o número de casos, como a Europa conseguiu, depois da primeira onda”, afirmou. “Quando as restrições não são feitas corretamente, acabamos fazendo um platô, uma estabilização em patamar alto. O Brasil teria que fazer uma restrição forte e não ceder no momento em que os números se estabilizam, esperar a real desaceleração.” (o tempo)