O fenômeno é recorrente nos meses de inverno, mas nunca foi visto com tanta intensidade e duração, segundo os moradores; MP foi acionado
O céu da cidade histórica de Congonhas está sendo tomado por uma nuvem de poeira. O fenômeno causado pelo pó de minério das atividades mineradoras nunca teve tamanha intensidade, durando até 4h, segundo moradores. O Ministério Público foi acionado nesta semana para punir os responsáveis pela poluição.
“Parece que a cada ano isso vem com mais frequência. As nuvens que antes duravam 20 minutos, agora duram três, quatro horas. Fica muito ruim abrir os olhos quando o vento bate”, relata o morador Hugo Cordeiro, de 28 anos, ao reforçar que a nuvem de poeira ocorre durante o inverno na cidade há mais de uma década. Mesmo com o incômodo e a sujeira, a principal preocupação é com a saúde dos moradores. “É uma coisa invisível, você vai tendo problemas com a respiração e percebe ao longo da vida. A população está respirando isso. É um problema maior até que a própria barragem. Se ela estourar, ela mata ‘à vista’, a poeira vai matando ‘a prazo’”, afirma o residente. Os congonhenses desconfiam que a intensidade jamais vista da nuvem seja resultado do trabalho das mineradoras. “Tem uma novidade que é o empilhamento de rejeitos a seco. O que era barragem, a partir desse ano, passou a empilhar a seco”, afirma Sandoval Souza, diretor de meio ambiente e saúde da União de associações comunitárias de Congonhas.
“É um pátio bem grande (onde fica o rejeito de minério). Então está tudo se somando, o preço do minério também está muito alto, eles estão com a produção alta”, explica.
O Estado de Minas questionou as mineradoras Vale e CSN, além da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Congonhas, sobre a nuvem de poeira. No entanto, nenhum retorno foi obtido. Tão logo as procuradas respondam as questões, esta reportagem será atualizada.
Pedido de punição
Na quarta-feira (28/7), o tamanho e a duração – entre o fim da manhã e o meio da tarde – de uma nuvem assustou os moradores. O diretor das associações, então, fez uma representação ao Ministério Público para pedir punição às secretarias de meio ambiente municipal e estadual. Antes, na semana passada, já tinha acionado o órgão. “Com base no que aconteceu ano passado, quando eles falaram que iam fazer uma força-tarefa para melhorar a situação, fizemos uma representação preventiva. O objetivo é que o MP apure o que eles têm feito para evitar o problema”, explica Sandoval Souza. O líder também fundou o Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas e acredita que essa entidade pode ajudar em causas como esta. “Agora vamos partir para a filiação estadual. O objetivo é a preservação da cidade como um todo, da cultura, meio ambiente, turismo, história e resguardo de documentos”. Enquanto isso, os moradores sofrem – e ficam preocupados – com a sujeira lançada nas residências. “Você limpa e no dia seguinte já está tudo cheio de poeira”, afirma Hugo Cordeiro.
FONTE ESTADO DE MINAS
FOTOS HUGO CORDEIRO