24 de abril de 2024 15:48

Diário da Covid-19: Média de mortes no Brasil fica abaixo da média mundial pela primeira vez

No último dia 10 de dezembro, o Brasil apresentou 40 casos por milhão de habitantes, metade do mundo que registrou 80 casos por milhão

Pela primeira vez, desde abril de 2020, o Brasil apresentou média de infectados abaixo de 8 mil casos e média de mortes abaixo de 200 óbitos diários na semana que passou. Desta maneira, o Brasil apresentou média de casos abaixo da média global desde novembro e média de mortes abaixo da média internacional em dezembro de 2021, uma novidade em quase dois anos de pandemia.

Os coeficientes brasileiros de incidência (casos por milhão de habitantes) e de mortalidade (óbitos por milhão) ultrapassaram os coeficientes globais em abril de 2020 e permaneceram acima da média mundial, praticamente todo o período da pandemia. Mas esta realidade começou a mudar.

O gráfico abaixo mostra que o mundo está passando pela 4ª onda pandêmica, mas o pico destas ondas ficou, no máximo, em torno de 100 óbitos por milhão de habitantes. Já a primeira onda brasileira atingiu mais de 200 casos por milhão em julho de 2020. Em novembro, a média brasileira ficou próxima da média global. Mas entre março e junho de 2021, as médias nacionais ultrapassaram 350 casos por milhão de habitantes, bem acima das medias mundiais. Em setembro de 2021, a média de casos ficou temporariamente abaixo da média mundial, mas voltou a ficar acima no mês de outubro. Felizmente, a partir de novembro de 2021 o coeficiente de incidência brasileiro ficou constantemente abaixo do coeficiente global. No dia 10 de dezembro, o Brasil apresentou 40 casos por milhão, a metade do mundo que registrou 80 casos por milhão de habitantes.

O gráfico abaixo mostra que o coeficiente de mortalidade do Brasil tem ficado acima do coeficiente mundial desde abril de 2020. Entre maio e agosto de 2020 o Brasil registrou mais de 4 óbitos por milhão, enquanto a média mundial ficou abaixo de 1 óbito por milhão de habitantes. Em novembro de 2020 os dois valores se aproximaram. Mas em março e abril de 2021 o coeficiente brasileiro chegou a mais de 14 óbitos por milhão de habitantes, enquanto a média mundial ficou em torno de 1,4 óbitos por milhão (o Brasil teve média de óbitos 10 vezes superior). Mas desde abril, os números brasileiros estão caindo e, finalmente, o coeficiente de mortalidade brasileiro ficou abaixo do coeficiente global na semana passada. No dia 10 de dezembro, o Brasil apresentou 0,7 óbito por milhão e o mundo cerca de 1 óbito por milhão de habitantes.

A variante Ômicron é um “presente de Natal”?

O ministro da saúde da Alemanha, o epidemiologista Karl Lauterbach, comentando o quadro brando provocado pela difusão da variante Ômicron na África do Sul, disse: “seria um verdadeiro presente de Natal antecipado se a Ômicron pegasse leve”. A ideia é que o surgimento da variante Ômicron do SARS-CoV-2, uma cepa, até aqui, mais infecciosa e menos virulenta, possa ser positiva para a saúde pública.

Embora seja cedo para tirar conclusões definitivas, alguns especialistas em doenças infecciosas expressam alguma esperança e há até aqueles que dizem que a variante Ômicron pode ser uma forma “benigna”, tendo o potencial de se transformar em uma luz no fim do túnel. Isto porque, o vírus poderia se tornar uma forma predominante mais branda que continuaria se espalhando, mas mataria menos pessoas e provocaria menos internações hospitalares.

O epidemiologista americano Anthony Fauci, mesmo com cautela, também disse algo neste mesmo sentido: “Parece que com os casos que temos visto, não há um perfil muito grave da doença. Na verdade, pode ser – e sublinho ‘pode ser’ – menos grave”.

O gráfico abaixo mostra que a África do Sul está na 4ª onda da covid-19, sendo que nos quatro surtos a média de casos sul-africanos ficou bem acima da média global. Contudo, atualmente, com o predomínio da variante Ômicron, a média de mortes sul-africanas está bem abaixo da média global, ao contrário do que aconteceu nas 3 ondas anteriores.

De fato, quando uma mutação é muito virulenta ela mata o hospedeiro rapidamente, mas, ao mesmo tempo, tem menor probabilidade de se propagar. Porém, quando a linhagem do vírus é menos agressiva, o patógeno passa a conviver com seu hospedeiro, o que favorece a sobrevivência de ambos. Nesse cenário, haveria uma espécie de “acordo tácito” gerando uma trégua entre o coronavírus e a humanidade.

Em vista disto, se a Ômicron for realmente menos letal e provocar menos hospitalizações pode significar o começo do fim da pandemia. Não o fim da doença, mas uma etapa para a transição da pandemia para a epidemicidade. Ou seja, numa visão otimista, a covid-19 não desapareceria, mas se tornaria endêmica e, de fato, poderia se tornar uma espécie de “gripezinha”.

Mas ainda há muitas incertezas no ar. O artigo “Beyond Omicron: what’s next for COVID’s viral Evolution”, publicado na revista Nature (Callaway, 07/12/2021), mostra que existe a possibilidade do SARS-CoV-2 evoluir eventualmente de forma mais previsível, tornando-se semelhante a outros vírus respiratórios. Mas alerta: “não está claro quando essa mudança ocorrerá e com qual infecção ela pode se parecer”.

“Passaporte vacinal” e o monitoramento da covid-19

Os manuais de epidemiologia recomendam que os países e regiões devem adotar uma barreira sanitária para se proteger de uma pandemia que tenha origem no exterior. Isto quer dizer que os controles de fronteira devem fiscalizar, testar e monitorar todas as pessoas que entram no território nacional. Isto vale para o vírus original ou para suas variantes.

Com o avanço do processo de vacinação e a retomada das viagens internacionais, a barreira sanitária se transforma em controle sanitário, especialmente em relação aos locais de maior risco. Efetivamente, as autoridades alfandegárias e sanitárias devem exigir o teste negativo para o coronavírus e o comprovante de vacinação. Estas medidas visam cuidar da saúde pública e preservar o bem-comum, evitando a difusão da doença e garantindo um ambiente saudável para todas as pessoas, independentemente da nacionalidade.

Por exemplo, é normal os países exigirem vacina de febre amarela para as pessoas com viagens para locais onde ainda há a possibilidade de contaminação pela doença. Por isso, o Certificado Internacional de Vacinação deve ser apresentado no aeroporto do destino. Esta é uma medida rotineira que está relacionada com a manutenção da saúde das pessoas. Isto faz parte da institucionalidade democrática.

Neste sentido, não dá para entender a fala do presidente da República e do ministro da Saúde contra o chamado “passaporte vacinal” (isto é, comprovante de vacinação para os viajantes e turistas). O presidente Bolsonaro, que sempre coloca em dúvida as recomendações da ciência, disse, no dia 07/12, que a Anvisa pretendia fechar o espaço aéreo brasileiro e minimizou os riscos das novas variantes do novo coronavírus. O ministro Queiroga, repetindo o seu Chefe, disse que: “às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade”. Uma postura muito estranha, pois não é usual que defensores de regimes autoritários e do conservadorismo moral se arvorem defensores da liberdade.

Evidentemente, o presidente Bolsonaro deturpou as recomendações das autoridades sanitárias, pois a Anvisa não propôs o fechamento do espaço aéreo brasileiro e a solicitação de um comprovante de vacina é uma medida corriqueira e que visa a proteção das pessoas e da população. Quem não deseja tomar vacina tem a opção de ficar quieto no seu canto. Mas quem quer ter o direito de viajar tem o dever de se imunizar para não se transformar em um vetor de transmissão de doenças que vai colocar a vida de outras pessoas em risco. Acima de tudo, a liberdade de cada um é limitada pelo direito do outro. Não é justo que uma ou muitas pessoas morram por conta de alguém que se recusa a apresentar comprovante de imunização. Em todas as sociedades existem regras de convivência coletiva que restringem as ações particulares em nome do interesse geral. Acima de tudo, a vida tem um status prioritário, pois não existe liberdade para os mortos.

Não obstante, a despeito da polarização e de toda a retórica do confronto, o governo publicou no Diário Oficial da União, no dia 09/12, novas regras para a entrada de viajantes no Brasil, determinando que quem quiser entrar no Brasil precisará apresentar um comprovante de vacinação contra a covid-19 e um teste negativo da covid-19. As pessoas sem comprovante de imunização precisarão fazer quarentena de 5 dias ao chegar no território nacional. Ou seja, em grande medida as recomendações da Anvisa foram atendidas e as normas sanitárias foram totalmente ou parcialmente contempladas. As regras estavam previstas para entrar em vigor no sábado, dia 11 de dezembro.

Todavia, os sites do Ministério da Saúde e do Conect SUS ficaram fora do ar desde a madrugada da sexta-feira (10/12), em função de um estranho ataque hacker, conforme explicado pelas autoridades federais. Também ficaram indisponíveis as plataformas do Painel Coronavírus e DataSUS. Além dos prejuízos causados pela ausência de dados, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, afirmou que o governo adiou por 7 dias a portaria que exige o comprovante de vacinação para viajantes entrarem no Brasil. Um quadro muito triste. Mas no sábado (11/12), o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, determinou a obrigatoriedade de comprovante de vacinação para viajantes estrangeiros que chegarem ao país. A ordem foi dada em uma ação da Rede Sustentabilidade que tenta obrigar o governo a adotar medidas sanitárias recomendadas pela Anvisa.

É claro que o SARS-CoV-2 não está nem aí para toda esta confusão e continua circulando com grande grau de liberdade.  A prefeitura do Rio de Janeiro que havia cancelado a festa pública na virada do ano, voltou atrás e anunciou no dia 09/12, que a capital fluminense não terá shows, mas 25 torres tocando músicas ao longo da Praia de Copacabana. A ansiedade é grande pela normalidade da vida produtiva e social. Assim, a despeito da epidemia de gripe, haverá queima de fogos em 10 pontos da cidade para espantar os fantasmas de 2021.

Quando chega a virada do ano é comum as pessoas irem até a beira do mar e pular sete ondas. Para cada uma das ondas costuma-se fazer um pedido com os desejos e sonhos do ano novo. Sendo o Brasil um dos países mais afetados pela pandemia e com maior dificuldade de implementar políticas públicas de saúde, uma boa medida para o réveillon 2022 é pedir aos céus para que as novas mutações do coronavírus sejam menos agressivas e menos letais.

O jeito é avançar com a vacinação completa e torcer para que haja mutações virais mais brandas, possibilitando um armistício entre o SARS-CoV-2 e os seres humanos. Assim, talvez, a pandemia seja rebaixada para o status de endemia ainda no primeiro semestre de 2022.

FONTE PROJETO COLABORA

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