19 de abril de 2024 07:54

Catas Altas da Noruega e Piranga: da santa que caiu do céu ao Cristo teimoso

Depois de visitar os olivais de Catas Altas da Noruega, distrito de Bacalhau revela uma joia rara ao visitante

De Conselheiro Lafaiete a Catas Altas da Noruega, pela MG-482, são cerca de 45 km. No trevo, a surpresa é uma estátua em tamanho real de Nossa Senhora das Graças e um avião, que, entrelaçados, revelam um episódio surreal. “A cidade é um poço de histórias”, conta Giovanne Neiva, que se autodefine “agente cultural”. Em 1949, a santa — que disputa com São Gonçado do Amarante a devoção dos moradores — desceu literalmente do céu.

Em 30 de julho daquele ano, um avião que fazia o trajeto Rio de Janeiro-Belém entrou em pane e, para aliviar o excesso de peso, os pilotos se desvencilharam da carga. Na chuva de objetos jogados para fora da aeronave, entre geladeiras, calçados, tapetes, móveis etc, estavam três imagens de Nossa Senhora das Graças, objeto de devoção do pároco local, o padre Luiz Gonzada Pinheiro, das quais duas quebraram e uma permaneceu intacta.

Desde então, Nossa Senhora — cuja imagem está guardada no santuário — é referência e devoção. Hoje, estima-se que 30% das mulheres que nasceram na cidade nos últimos 50 anos foram batizadas com o nome da santa. Já a origem do sobrenome Noruega mais aceita explica-se por meio dos primeiros bandeirantes que descobriram o ouro aflorando na terra, as catas, em morros frios e úmidos, que, como no país nórdico, “escondiam a face do sol”.

Em Catas Altas da Noruega, visite a igreja Matriz de São Gonçalo do Amarante, belíssimo exemplar setencentista que, ao ser restaurada recentemente, revelou, por trás de suas pinturas em tons pastéis, cores vibrantes em seu teto e painéis. Erguida na primeira fase do barroco, por volta de 1727, chamam a atenção o arco cruzeiro, a portada em pedra-sabão, os púlpitos e o talhamento do altar-mor e dos quatro altares laterais, tudo harmonioso.

Azeite artesanal

Em Catas Altas da Noruega, o engenheiro florestal Moacir Batista Nascimento cultiva em 30 hectares o azeite artesanal. Na Estância do Pinheiro, 3.100 oliveiras de diversas idades resultam na produção de 1.200 litros de azeite por ano. Nos finais de semana, ele e a mulher Maria de Lourdes recebem os turistas para um passeio de três horas nos olivais, com palestra sobre o processo de produção e degustação harmonizada com produtos locais.

Nascimento, que também é presidente da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), produz três espécies de oliveiras: arbequina, koroneiki e arbosana. O fruto é moído em máquinas, e o líquido sai fresco, pronto para ser consumido. Na fazenda, ele também cria ovelhas. A degustação de azeites com produtos locais, como pães e queijos, abre o apeite e é seguida da comidinha preparada no fogão à lenha.

Piranga

De volta à estrada, serpenteando as montanhas, margeando o rio Pirapetinga e cortando fazendas, vamos em direção ao município de Piranga. Uma comitiva espera nosso grupo no distrito de Santo Antônio do Pirapetinga, popularmente conhecido como Bacalhau. O nome do lugar é atribuído a José Bacalhau, o primeiro morador. O vilarejo guarda um tesouro, capaz de deixar o visitante boaquiaberto pelo cenário que se descortina à sua frente.

Nossa anfitriã é a jovem moradora do vilarejo, Elisa Cecília Dias, responsável por receber os visitantes e contar as histórias que rondam o local. A região foi palco de uma das batalhas da guerra dos Emboabas, o embate entre os bandeirantes e os portugueses, em 1708, em Cotia, pela exploração das minas de ouro. No colina, foi erguida uma belíssima igreja cercada de mistérios e circundada por casas para abrigar os romeiros na época de festa.

Reza a lenda que, no alto do morro, apareceu a imagem do Senhor Bom Jesus em tamanho real e talhada em madeira. Os moradores a colocaram na igreja do povoado, mas na manhã seguinte ela voltava para a colina. Como isso se repetia diversas vezes, eles decidiram erguer uma igreja no local para depositar a imagem. Hoje, o Cristo com um olho vesgo está na capela dos milagres, atrás do altar, voltada para o lugar onde morreram os bandeirantes.

Piquenique

No santuário, o artista Francisco Xavier Carneiro, um dos grandes nomes do rococó na ornamentação de igrejas deixou uma obra-prima, a Paixão de Cristo no forro da nave principal, que passa pela primeira vez por uma restauração. O custo é de R$ 1 milhão e tem previsão de três meses para conclusão. Uma boa época para visitar a região é no Jubileu de Bom Jesus, na primeira quinzena de agosto. A festa é comemorada há 235 anos.

Uma das experiências oferecidas em Bacalhau é um piquenique para degustar produtos locais ao lado da igreja. Experimente o angu tropeiro, um angu suavemente temperado e acompanhado de queijo frescal ralado e defumado no fogão à lenha, com duas camadas de angu alternadas com outra de queijo e com as bordas decoradas com linguiça caipira defumada e salpicada de alho frito e cheiro verde.

O distrito ainda mantém muitas tradições. O pai de Juninho era comerciante e muladeiro. Antigamente, o acesso a de Santo Antônio do Pirapetinga só era feito em mula ou burro de cangalha, uma espécie de cesto para colocar mantimentos. Hoje, Juninho mamtém a tradição do pai e monta o boi. No dia 9 de julho, muladeiros de todas as regiões do Estado preparam um desfile em prol da Apae de Brás Pires em Porto Firme, a 30 km de Bacalhau.

Serviço

Estância do Pinheiro: O preço da garrafa de azeite de 250 mL varia de R$ 50 a R$ 90. Visitas podem agendadas pelo Instagram / @oliveaiscatasaltasdanoruega ou na agência de receptivo Andarilhos da Luz, ao preço de R$ 50 por pessoa.

Catas Altas da Noruega: Mais informações, acesse o site da Prefeitura de Catas Altas da Noruega

Piranga: Mais informações, acesse o site da Prefeitura de Piranga

FONTE O TEMPO

Mais Notícias

Receba notícias em seu celular

Publicidade