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Tombamento de fazenda visa preservar história em Minas

Pesquisa foi feita para traçar uma linha que liga a Fazenda dos Caldeirões, datada de 1694, à Fazenda das Laranjeiras; decreto quer preservar história

A história de Minas Gerais se mistura com a história das antigas famílias mineiras, de muitos filhos, de mesa farta, de festas religiosas nos povoados, do leite tirado da vaca e doado pelo dono da fazenda aos vizinhos e filhos dos trabalhadores. Para preservar essa memória afetiva de cerca de 4 mil moradores da cidade de Diogo de Vasconcelos, a prefeitura publicou, nesta segunda-feira (18/7), o decreto de tombamento da “Fazenda das Laranjeiras”. 

Duas frentes trabalharam para que o processo de tombamento fosse realizado. Na primeira, a prefeitura de Diogo de Vasconcelos, por meio da Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, contratou uma equipe técnica de arquitetos e restauradores que elaborou uma relevante pesquisa que apresentou dados históricos de Diogo de Vasconcelos e sua relação com a emblemática “Fazenda das Laranjeiras”. 

A outra frente, coordenada pelo Núcleo de Pesquisa em Direito do Patrimônio Cultural (NEPAC), vinculado ao Departamento de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto, assessorou as diferentes etapas e orientou todo o Processo Administrativo de Tombamento da Fazenda. 

“As duas frentes fizeram um trabalho muito próximo e intenso. Nós do NEPAC, entre outros aspectos, orientamos a realização de uma consulta pública que resultou em mais de 200 manifestações a favor da relevância cultural da fazenda. Também demos suporte para a audiência pública realizada em abril de 2022, em que a população disse ser a favor do tombamento”, lembra o coordenador do NEPAC, professor Carlos Magno de Souza Paiva. 

Para tecer a colcha de retalhos históricos da “Fazenda das Laranjeiras”, a equipe técnica coordenada pela arquiteta e urbanista Adriana Paiva de Assis, elaborou um dossiê e um plano de salvaguarda contendo, inclusive, a documentação exigida pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG – com intuito de adquirir a pontuação necessária, e assim participar, da distribuição do ICMS Patrimônio Cultural de Minas Gerais. 

História da região

 A região onde atualmente é o município de Diogo de Vasconcelos foi descoberta por Bandeirantes vindos de Taubaté, por volta de 1696, e o povoamento surgiu a partir da necessidade de encontrar novas terras para o plantio de alimentos para os bandeirantes. 

As primeiras informações sobre a região dão conta de que lá havia uma igreja, um cemitério e as fazendas do Engenho, Retiro dos Crioulos e fazenda dos Caldeirões. 

Para traçar a linha do tempo que liga a “Fazenda dos Caldeirões”, datada de 1694, até a “Fazenda das Laranjeiras”, as pesquisadoras recorreram a documentos de cartórios, cartas geográficas e topográficas e artigos e notas em jornais da época. 

Proprietários da fazenda

 Foi assim identificada como a primeira proprietária das terras a família Carvalho e Sampaio, que exercia forte referência política e econômica no vilarejo. As pesquisadoras encontraram diversas referências feita à família em documentos e jornais do século 19. 

“Particularmente sobre as terras em estudo, o arquivo histórico da Casa Setecentista de Mariana guarda a documentação de 1855 de uma sesmaria e a demarcação dessa sesmaria foi firmada na fazenda dos Caldeirões” explica a coordenadora e arquiteta, Adriana Paiva de Assis. 

No dossiê, é relatado o grande prestígio do proprietário da Fazenda dos Caldeirões, Major Manoel Ignacio de Carvalho Sampaio, quando sua morte, em 1887, foi assunto publicado em uma nota no jornal do Partido Conservador. 

O Major deixou 11 filhos e as terras foram divididas. Um de seus filhos, Nicolau de Carvalho Sambaio, deu a continuidade ao trabalho do pai nas terras herdadas e assim criou a Fazenda das Laranjeiras. 

Seu bisneto, ainda vivo, Dante Motta Sampaio, passou a administrar a fazenda em 1983 e, após a morte do pai, em 1990, assumiu a propriedade mantendo ainda forte relação com os moradores da região. 

Em 2006, a Fazendas das Laranjeiras foi inventariada como bem de interesse de preservação no município de Diogo de Vasconcelos.   

Arquitetura rural com arquitetura eclética

A casa tem dois pavimentos e apresenta elementos ecléticos como o entablamento frisado(foto: Divulgação/ Prefeitura de Diogo de Vasconcelos)

 A Fazenda Laranjeiras está localizada na porção norte de Diogo de Vasconcelos, suas terras alcançam o rio Gualaxo do Sul, suas matas ciliares estão bem preservadas e a presença de corredeiras, praias e uma queda d’água denominada cachoeira das laranjeiras. 

De acordo com estudos do dossiê de tombamento, a casa apresenta precário estado de conservação, está parcialmente interditada e com parte do seu telhado desabado. 

A arquitetura da casa sede apresenta características comuns à arquitetura rural tradicional mineira misturadas a elementos do ecletismo datados de 1921, adquiridos após uma reforma nesse período.  

A casa tem dois pavimentos apresenta elementos ecléticos como o entablamento frisado e pilastras ornamentadas com motivos geométricos. As telhas francesas também aparecem na edificação e as janelas e portas ainda mantém os enquadramentos em arco conopial, os demais enquadramentos estão ausentes, tendo sido possivelmente furtadas.    

De acordo com a coordenadora da pesquisa, a Fazenda das Laranjeiras é um bem cultural de origem profundamente enraizada na cultura de Diogo de Vasconcelos, se constituindo como referência histórica e arquitetônica no contexto local. Suas características permitem enquadrá-la como Bem Cultural de Natureza Material estabelecida nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal.  

“Espera-se que a partir desta proteção, a Fazenda das Laranjeiras receba todo o apoio institucional e governamental que propicie a sua preservação e conservação para usufruto das futuras gerações”.  

FONTE ESTADO DE MINAS

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