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Cozinheiras confirmam que alimentos contaminados com bichos e carnes vencidas foram servidos às crianças da Casa Lar

Em depoimentos na CPI dos Alimentos Vencidos, funcionárias afirmaram que cozinharam arroz e feijão com bicho e que coxa de frango era dividida em vários pedaços para alimentar crianças. A Secretária de Assistência Social teve mandado de Condução Coercitiva decretado, mas não foi encontrada pela Polícia Militar

Na tarde desta sexta-feira (26), a Câmara Municipal de São João del-Rei, realizou a quarta sessão de depoimentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Alimentos Vencidos encontrados na Casa Lar e na Secretaria de Assistência Social de São João del-Rei, em abril de 2021. A sessão foi conduzida pelos vereadores Lívia Guimarães (PT) , Igor Sandim (Podemos) e Fabiano Pinto (DEM).

Dentre as testemunhas ouvidas estavam dois motoristas da Secretaria da Assistência Social e duas cozinheiras da Casa Lar de São João del-Rei. A responsável pela pasta e primeira-dama, Aline Gonçalves, foi intimada para prestar depoimento, mas não compareceu. Com isso, a comissão solicitou um mandado de Condução Coercitiva pela Polícia Militar. A testemunha, Aline Gonçalves, não foi encontrada. A presidente da CPI, Lívia Guimarães, afirmou que medidas judiciais serão tomadas. Fontes próximas a secretária, Aline Gonçalves, e ao prefeito, Nivaldo de Andrade (PSL), informaram que o casal está viajando.

Aline Gonçalves, secretária de Assistência Social e Salete Fialho, gestora da Casa Lar. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Carne fracionada e escassez de comida

Em seus depoimentos, as monitoras da Casa Lar, que também atuavam como cozinheiras, identificadas apenas como Cleusa e Marlene, afirmaram que, por falta de alimentos suficientes, uma única coxa de frango era dividida ao meio, às vezes em três partes, para alimentar de duas a três crianças. A funcionária completou dizendo que ocorria o mesmo com um único gomo de linguiça, que também era fracionado entre duas crianças. 

Cleusa afirmou à CPI que, durante seu período trabalhando na Casa Lar, a instituição abrigava entre 24 e 27 crianças e adolescentes, de 0 a 17 anos.

Ainda segundo ela, as crianças da Casa Lar jantavam as sobras do almoço, muitas vezes sem carne e que também não era muito. “Era feito mexido, sopa ou macarrão”, afirmou Cleusa, que informou também que, no almoço, as crianças podiam comer apenas arroz e feijão, caso quisessem repetir.

As funcionárias também contaram em depoimento que o Almoxarifado, onde os alimentos ficavam armazenados, ficava trancado e que apenas a gestora, Salete Fialho, tinha acesso a eles. Segundo as monitoras, a cozinha enfrentou, por diversas vezes, escassez de alimentos e que os funcionários bancavam do próprio bolso as festas de aniversário dos abrigados. 

De acordo com ela, em eventos como o “dia do cachorro-quente”, citado por ela, Salete Fialho disponibilizava apenas de 6 a 10 salsichas e um sachê de molho para as quase 30 crianças. Outra situação exposta pelas funcionárias era sobre a prática de montar e fotografar a mesa de refeições apenas para as fotos. Após as fotos, alguns alimentos, como frutas, eram recolhidos e as crianças não comiam.

Crianças comiam alimentos com bicho e carne podre

A monitora Cleusa, no período em trabalhava na cozinha, afirmou para a CPI, que viu alimentos com bicho para serem preparados. Segundo ela, foram encontrados bichos no feijão, que era lavado várias vezes para ser preparado para o dia seguinte. Cleusa afirma que repassou, várias vezes, o problema para a coordenação da Casa Lar, Salete Fialho, que não tomou providências.

Marlene afirmou que as frutas e legumes que chegavam como doação na Casa Lar não eram frescos e estavam para vencer. Ainda segundo ela, foram encontrados bichos também no arroz e no macarrão. Segundo Marlene, em um caso específico, pediu que o pacote de macarrão fosse descartado, pois haviam ovos de larvas dentro.

Marlene conta que uma vez que chegou uma carne vencida para a Casa Lar. Segundo seu depoimento, a carne fedia no momento do preparo e que ela chegou a avisar para Salete Fialho, que ordenou que a carne fosse preparada e servida, mesmo nestas condições. A funcionária disse que a coordenadora, às vezes, comia na instituição, mas que no dia da carne vencida, ela não comeu.

Segundo elas, alguns funcionários comiam na instituição e muitos não sabiam dos alimentos vencidos e se alimentavam mesmo assim. Segundo as cozinheiras, não havia nutricionista na Casa Lar e que, quando tinha cardápio, não tinha material para o preparo.

Descaso da secretária de Assistência Social

Em outro trecho, Cleusa denunciou que, durante a Semana Santa, as funcionárias chegaram a solicitar peixe para as crianças, mas que a resposta da secretária de Assistência Social, Aline Gonçalves, era de que as crianças não comiam peixe e que foi enviado duas latas de sardinha para todas as crianças. A funcionária também disse que as quase 30 crianças dividiam um único pacote de biscoito e que quase não havia leite suficiente para achocolatado.

Alimentos não enviados

Lívia Guimarães chegou a usar a lista de uma licitação com itens supostamente comprados para a Casa Lar, de 22 de dezembro de 2020, com alimentos como azeite, leite condensado e granulado, além de grande quantidade de carne, que as funcionárias, que trabalhavam na cozinha, afirmaram nunca ter visto na instituição. 

O Mais Vertentes tentou falar com Salete Fialho, mas sem sucesso até o fechamento desta edição. A Secretária de Assistência Social, Aline Gonçalves, também não foi encontrada pela Polícia Militar em seu sítio, em Tiradentes, e nem na Secretaria de Assistência Social. Ao ligarmos para a Secretaria de Assistência Social, nesta tarde, fomos avisados que a mesma não estava e que “não retornaria hoje”.

Sobre o caso

Uma série de denúncias com alimentos e remédios vencidos, produtos de higiene pessoal também vencidos, mau armazenamento de alimentos e diversas outras irregularidades foi feita na Casa Lar, um abrigo provisório que cuida dos direitos da criança/adolescentes de 0 à 17 anos, e que se encontram em situação de risco, no bairro do Tijuco, no município de São João Del Rei, e administrada pela Secretaria Municipal de Assistência Social, em 12 de abril de 2021.

Os vereadores Igor Sandim (Podemos), Lívia Guimarães (PT) e Rogério Bosco (PT) estiveram na Casa Lar, com o promotor de justiça Dr. Adalberto de Paula Christo Leite, além da Secretária Municipal de Assistência Social, Aline Gonçalves, e uma das administradoras da Casa Lar, Bernadete Silva cujo codinome é Beth Silva, e comprovaram as denúncias, de alimentos e produtos vencidos e armazenados de forma irregular na Casa Lar e no depósito da Assistência Social do município. A coordenadora do local, Salete Fialho, não participou.

FONTE MAIS VERTENTES

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