8 de maio de 2024 17:34

Instituto Histórico e Geográfico (IHGC) e Academia de Letras promovem passeio cultural na histórica Ouro Branco

Os membros do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC) e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas (ACLAC) se uniram em mais um passeio cultural pela região neste sábado, 08 de outubro de 2022.O destino foi o município vizinho de Ouro Branco, possuidor de um rico passado histórico, uma exuberante geografia e berço cultural regional.

A primeira parada do grupo foi no Distrito de Lobo Leite, nas divisas entre Congonhas e Ouro Branco. No local mais alto do Distrito podemos observar, com visão de 360º, diversos pontos históricos de nossa região: a leste avistamos onde se localizava a sede da “Fazenda do Guido” – onde nasceu o Cônego Luís Vieira da Silva em 1735, um dos mentores da Conjuração Mineira. Luís Vieira da Silva foi batizado na Capela de Soledade em Lobo Leite, à época pertencente a então Freguesia de Ouro Branco. A noroeste visualizamos a imponente Serra de Ouro Branco e à sua esquerda vemos a “entrada” do Rodeadouro do Itatiaia, local emblemático de um dos conflitos da Guerra dos Emboabas, ocorrido em julho de 1708, quando Manoel Nunes Viana “barrou” a viagem do então governador da Capitania do Rio de Janeiro (à qual pertenciam São Paulo e as Minas do Ouro, futura Minas Gerais) Fernando Martins Mascarenhas Lencastre. A oeste visualizamos todo o conjunto de serras que circundam Congonhas e o Distrito de Miguel Burnier (Ouro Preto) e as terras da antiga fazenda do Sande, que pertenceu a membros da família Lobo Leite Pereira.

E ao sul visualizamos parte das terras que pertenceram à família Monteiro de Barros, o bairro de Joaquim Murtinho e a cidade de Conselheiro Lafaiete.Após essa identificação visual da região, seguimos para o antigo escritório central da “Açominas” onde atualmente funciona a UFSJ – Campus Alto Paraopeba. Lá fomos recebidos pela Luiza Almeida, Turismóloga e Servidora da Prefeitura de Ouro Branco, que nos acompanhou durante todo no passeio cultural. Nesse local podemos observar a usina siderúrgica Arthur Bernardes, em toda a extensão, hoje controlada pelo Grupo Gerdau. A siderúrgica era um antigo sonho dos Inconfidentes, e alguns deles viveram na região como Álvares Maciel, Francisco de Paula Freira de Andrade e o próprio Luís Vieira da Silva, cujo local de nascimento sedia parte da usina.

E bem em frente ao antigo escritório estão gravadas em um memorial, as mãos de diversos políticos que se empenharam em concretizar o sonho da construção da usina. O destaque fica por conta da “mão” do então Príncipe de Gales, o hoje Rei da Inglaterra Charles III, que ali esteve em 12 de março de 1978 visitando as obras de construção da usina siderúrgica.Do antigo escritório central da usina, seguimos para o ateliê do ceramista Leonardo Ricart dos Santos, considerado o único Mestre em Ouro Branco que mantém o ofício da Cerâmica Saramenha tradicional. Leo, como é conhecido, é discípulo do Mestre Bitinho, de quem herdou toda a técnica da fabricação da Cerâmica Saramenha, que começou a ser produzida oficialmente no século XIX, na chácara Saramenha, próximo a Ouro Preto. Leo detalhou os principais passos para a fabricação das peças, desde a coleta da argila até o produto final. E ainda nos brindou com uma bela demonstração da fabricação de uma peça.

Seguindo nosso itinerário, visitamos a Casa de Cultura de Ouro Branco, que se localiza defronte a Igreja Matriz de Santo Antônio, região central da cidade. Lá fomos recepcionados pelo historiador Pedro Chaves que nos relatou que o casarão, construído em 1759, tem pintura no teto da sala atribuída a Mestre Ataíde, ainda em seus primeiros passos nessa arte. O imóvel passou por um processo de restauração que mantém suas características originais, servindo como um importante equipamento cultural, permitindo a todos que o visitam compreender como era a vivência no século XVIII em nossa região. Em seguida nos foi servido um delicioso café colonial. Energias repostas, foi a vez do gerente de Cultura e Patrimônio Histórico, Edilson Nascimento nos explicar algumas ações culturais que o município pretende realizar nos próximos anos, como o restauro da Fazenda Carreiras (que também visitamos).

Edilson nos explicou ainda como andam as obras de restauração da Igreja Matriz de Santo Antônio, construída no início do século XVIII (de acordo com um registro no Livro nº 1 da Irmandade, a Matriz é anterior a 1717, ano de emissão de uma certidão do primeiro casamento que teria ocorrido na Igreja) e que tem obras de artistas como Antônio de Caldas, Domingos Coelho, Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho) e Manoel da Costa Ataíde (Mestre Ataíde).Deixando a região central de Ouro Branco seguimos em direção ao Distrito de Itatiaia.

No caminho fizemos uma pequena pausa nas cercanias da Fazenda Pé do Morro, construída na segunda metade do século XVIII e que servia de ponto de apoio aos viajantes do Caminho Novo da Estrada Real. Chegando ao Distrito de Itatiaia (topônimo tupi que pode significar “pedra pontuda”, “penhasco cheio de pontas” ou “pedra úmida”) fomos direto para a Igreja Matriz de Santo Antônio (Ouro Branco tem duas igrejas devotas a Santo Antônio) sendo recebidos pelo Diácono que nos explicou que a igreja matriz, dedicada a Santo Antônio, foi construída por iniciativa das Irmandades do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito. Segundo documento do IPHAN, a igreja data do começo do século XVIII, sendo das primeiras igrejas construídas na região.

Do Livro Primeiro da Irmandade, atualmente na Cúria de Mariana, consta o primeiro assentamento de batismo em 20 de agosto de 1714. Segundo a tradição, essa matriz serviu nos primeiros tempos de abadia, por ter tido como dos principais fundadores um abade, cujo nome se desconhece. Talvez tenha por isso, esculpido no frontispício as armas da congregação.O templo, que chegou a ficar em ruínas, foi restaurado e em seus corredores laterais foi criado um pequeno museu onde estão expostos objetos encontrados durante as obras de reforma. Vale a pena visitar. Em Itatiaia a gastronomia é diversificada. Vários restaurantes servem os típicos pratos da culinária mineira e outras iguarias. Após o almoço retornamos para o Distrito Sede de Ouro Branco para nosso último compromisso do dia: visitar a lendária Fazenda Carreiras.

Chegando na Fazenda Carreiras, de imediato observamos sua imponência e seu estilo característico do Brasil colonial. Foi construída, provavelmente, na segunda metade do século XVIII – está localizada no mapa da Comarca de Vila Rica datado 1775, de autoria de José Joaquim da Rocha –, às margens do Caminho Novo da Estrada Real, trecho de grande circulação de pessoas e bens durante o período conhecido como Ciclo do Ouro em Minas Gerais. Destinada à criação de gado e à agricultura, integrava o povoado de mesmo nome, descrito por viajantes do século XIX. Há duas versões sobre a história da casa sede, construída sobre embasamento de pedras, com estrutura de madeira e pedra e vedações de pedra, adobe e pau-a-pique. Na primeira delas, a fazenda teria sido ponto de pouso e local de abastecimento. Diz-se que Tiradentes se hospedou ali antes de sua prisão, daí uma de suas alcunhas ser “casa de Tiradentes”.

Outra versão afirma que o local era, na verdade, posto de arrecadação de impostos. Em 1981 e 1999, houve intervenções dos arquitetos Éolo Maia e Jô Vasconcellos, com adaptações para novos usos, recuperação de algumas paredes de pau-a-pique, reconstituição de parte do piso em tabuado, identificação de parede externa construída em adobe com 80 cm de espessura, dentre outras ações. A fazenda abrigou também outros ilustres viajantes como o naturalista francês August Saint Hilaire e o inglês Richard Burton que passaram por Ouro Branco no início do século XIX além do Imperador do Brasil Dom Pedro II, quando ali esteve em 1881.O IHGC faz um agradecimento especial ao Confrade Celso Vaz (vice-prefeito de Ouro Branco) pelo empenho, carinho e dedicação durante nossa visita a Ouro Branco. Ao final do passeio os membros do IHGC e ACLAC receberam um mimo das mãos do Confrade Celso Vaz: uma linda caneca personalizada além de informativos culturais do Município.

Agradecemos a AG Turismo (31 99794-0924) pelo traslado, sempre com pontualidade, conforto e segurança. Fotos: Hugo Cordeiro, Marco Antônio, Andrea Vieira e Guilherme Fontainha.

Texto: IHGC

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