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A cada hora, 11 idosos são vítimas de crimes em MG; veja como se precaver

Até julho de 2022, o Estado registrou um aumento de 12% em comparação ao mesmo período do ano passado; especialistas acreditam que pandemia pode ter contribuído

“Me senti invadida, traída. Como alguém consegue se aproveitar de um sentimento tão bom, de uma mãe querendo ajudar o filho?”. Assim uma idosa de 63 anos, alvo em junho deste ano de estelionatários, em Belo Horizonte, descreveu a sensação após transferir quase R$ 7 mil para uma pessoa que se passou por um de seus familiares mais próximos. Em Minas Gerais, a cada hora 11 pessoas com mais de 60 anos são alvo de criminosos. Especialistas acreditam que o aumento no uso de novas tecnologias e redes sociais durante a pandemia de Covid-19, somada à carência emocional e à solidão das pessoas dessa faixa etária, podem ser os principais motivos para que os idosos sejam, cada vez mais, vítimas de crimes. 

De janeiro a julho de 2022, o número de infrações cometidas contra idosos cresceu quase 12% no Estado, saltando de 50.404, no mesmo período do ano anterior, para 56.409 registros. Os números são do Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), sendo que as principais infrações são: furto, estelionato, ameaça, dano, vias de fato, agressão, roubo e lesão corporal. 

O especialista em gerontologia e consultor de políticas públicas para o envelhecimento,  Rodrigo Caetano Arantes, explica que existem vários motivos para o aumento nestes crimes, entre eles a pandemia. “Eles precisaram ficar isolados e se adaptaram para contactar amigos, familiares e vizinhos. Mas não tiveram tempo suficiente para se aprimorarem no uso dessas tecnologias. Muitos não têm a malícia de usar aplicativos e acabam clicando em links que não deveriam, fornecem dados pessoais através de mensagens”, detalha. 

Outro ponto destacado pelo especialista é que muitas pessoas idosas possuem depressão, consequência do preconceito que existe na sociedade e até entre membros das famílias. “Existe uma carência emocional, e elas se sentem sozinhas, à margem da sociedade, o que faz com que sejam, digamos assim, pratos cheios para os criminosos. Eles se aproveitam dessa condição de vulnerabilidade emocional para fazerem essas vítimas”, pontua Arantes. 

Crimes familiares e ‘estelionatos emocionais’

 A delegada Marcelle Bacellar, da Delegacia Especializada em Atendimento à Pessoa com Deficiência e ao Idoso, explica que a unidade policial não atende crimes como furto, roubo e estelionato, que devem ser encaminhados para a delegacia da região onde o crime foi sofrido para investigação. Contudo, cerca de 98% dos crimes atendidos na unidade especializada são relacionados a crimes ocorridos dentro do ambiente doméstico, tendo integrantes da família como autores.

“O idoso perde um pouco a lucidez e o parente usa o cartão do benefício, ou os agridem por conta do uso de drogas ou coisa parecida”, destaca a policial. A unidade também atende casos de maus tratos que acontecem, por exemplo, em asilos ou por cuidadoras de idosos. 

Por outro lado, a delegacia vem recebendo cada vez mais casos dos chamados “estelionatos emocionais”, que, em sua maioria, são vitimadas mulheres idosas. “Elas começam a trocar mensagens nas redes sociais, vão se aproximando e acreditam que mantêm um relacionamento. Com o tempo, ao adquirir a confiança,  a pessoa começa a pedir dinheiro e as vítimas fazem transferências, muitas vezes de valores muito altos. Apesar de não serem a maioria dos nossos registros, temos notado que é um crime que tem aumentado bastante”, pondera Marcelle.

Apesar de não ser considerado um estelionato emocional, o crime sofrido pela aposentada de 63 anos, que preferiu não ser identificada, contou com o fator sentimental para ser cometido, sendo que isso foi o principal incômodo após o golpe ser descoberto por ela. O crime ocorreu após ela receber  uma mensagem de uma pessoa que se passava pelo filho dela, utilizando a foto do rapaz, mas com outro número de telefone. O bandido alegou que sua internet estava muito ruim e perguntou se a mulher não poderia fazer um pagamento para uma pessoa. 

“Meu filho mora em um condomínio na região metropolitana de BH e, por isso, considerei que era possível ser um problema de internet. Vendo ali a foto dele, não pensei duas vezes. Enviei R$ 2.900 por Pix. Aí ele perguntou se não poderia ajudar com mais um valor e disse: ‘depois passo o valor para a senhora’. Como falou senhora, em momento nenhum eu suspeitei que pudesse estar sendo vítima de golpe. Toda mãe quer ajudar os filhos, então você fica envolvida emocionalmente e acaba caindo. Enviei mais R$ 4 mil e ainda brincamos sobre ele vir no dia seguinte e trazer os filhos para o sítio”, detalha a vítima. 

Ela só foi descobrir que tinha sido alvo de criminosos no dia seguinte pela manhã, quando seu outro filho chegou em casa e ela relatou o “empréstimo” que tinha feito para o irmão. “Como alguém consegue brincar com os sentimentos das pessoas? Eu tinha até preparado um café, arrumado a casa para receber ele e os meus netos. Fiquei muito chateada”, lamentou a idosa. 

Após registrar boletins de ocorrência e  acionar os dois bancos usados, a vítima conseguiu reaver a maior parte da quantia transferida aos golpistas. “Acho importante divulgar para as pessoas ficarem atentas, falar sobre isso é uma forma de ajudar. A dica que eu dou para todo mundo é, se recebeu mensagem de alguém, se falar que o celular estragou ou coisa parecida, pega o telefone e liga para a pessoa ou para alguém que pode estar perto dela. Temos que nos proteger sempre”, finaliza. 

Vítima da própria cautela

Aos 70 anos, o pai da publicitária Ana Paula Ferreira, de 55, é uma pessoa lúcida e cuidadosa, mas, apesar disso, acabou sendo alvo de golpistas em julho deste ano. O idoso conta com bina em casa e sempre anota os números que ligam para verificar se são verídicos, porém, acabou sendo vítima da própria cautela após pesquisar e ver que o número que ligava era, de fato, do banco em que tinha conta. 

Alvo do chamado “golpe da falsa central telefônica”, o idoso conversou por telefone com uma “atendente” muito educada, que avisava sobre uma suposta compra com o cartão de crédito do idoso, realizada no Sul do Brasil. Ele disse imediatamente não reconhecer e, nervoso com a situação, passou a ser instruído pela falsa atendente. “Eles vão ganhando a confiança da vítima e falam que estão na outra linha com a polícia, instruindo, inclusive, que ele não conversasse com mais ninguém pois poderia atrapalhar a investigação, já que os telefones dele estavam grampeados”, lembra a publicitária. 

Com o tempo, o idoso foi orientado a entregar os seus cartões e senhas para um funcionário do banco, que se deslocaria até sua residência. A saga dos estelionatários começou por volta das 16h e, cerca de 1h30 depois, o suspeito bem vestido em uma moto já estava na casa da vítima para recolher os cartões. Em pouco tempo foram realizados diversos saques em agências bancárias de Belo Horizonte, além de algumas compras no cartão de crédito. 

“Infelizmente o valor sacado a gente não conseguiu reaver, mas as compras de valor considerável no crédito conseguimos reverter após o bloqueio dos cartões. Depois disso, reduzimos o limite de saque na conta corrente e o limite do crédito, além de separar os cartões de débito e crédito. Contamos que, com o susto, ele não seja vitimado novamente”, disse Ana Paula. 

A delegada Marcelle Bacellar pede ainda que as famílias tentem sempre acompanhar os parentes idosos. “A família tem que ficar de olho, ver o que está fazendo, orientar, conversar sobre os crimes que estão acontecendo. A gente faz isso com o adolescente, mas é importante fazer também com idosos”, completa a policial. 

Confira as dicas de especialistas para ajudar idosos e familiares a fugirem dos golpes

  • Nunca forneça dados pessoais ou bancários por telefone, e-mail ou mensagens de celular
  • Não clique em links de origem desconhecida, mesmo se enviados por alguém conhecido
  • Sempre desconfie das pessoas que conhecer no mundo virtual, especialmente se ela pedir transferências de valores 
  • Em caso de dúvidas, procure alguém mais jovem e familiarizado com a tecnologia, um neto ou sobrinho, para ajudar
  • Não envie por mensagem qualquer código recebido via SMS em seu telefone; estes códigos normalmente devem ser inseridos no próprio aplicativo, nunca encaminhados
  • Sempre ligue para os parentes caso receba mensagem com a foto dela mas um número diferente 
  • Caso receba ligação de alguém dizendo que um familiar foi sequestrado, desligue o telefone e ligue imediatamente para a pessoa 
  • Denuncie pelo Disque-Denúncia (181) caso desconfie que algum idoso está sendo vítima de algum familiar ou de qualquer pessoa que deveria estar cuidando dele

FONTE O TEMPO

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