O Pires, em Congonhas (MG), existe há mais de 200 anos e cada dia mais corre risco de desaparecer por causa da mineração. Sem uma limitação da área que pode ser explorada, as águas e ares do Pires vão se tornar cada vez mais poluídos, até chegar ao ponto do bairro ser inabitável. Isso também vai atingir grande parte da área urbana de Congonhas, que vai sofrer ainda mais com a poeira.
“Medidas paliativas não vão resolver o problema, por isso pedimos a Câmara Municipal de Congonhas que crie o Monumento Natural Municipal da Serra do Pires, para proteger nossas águas e ares”, diz o manifesto na internet. A Serra do Pires, junto da Serra de Casa de Pedra, é o ambiente mais importante de Congonhas, ambos estão ameaçados.
Água poluída
Nas últimas semana, a situação no Pires ficou insustentável com o rompimento de adutoras da CSN e Ferro+ colocando em risco a saúde pública. Moradores foram obrigados a passar pelo constrangimento de uma água barrenta e poluída. A poluição coloca em risco a sustentabilidade e qualidade de vida dos moradores. O Ministério Público abriu procedimentos para apurar possíveis crimes ambientais das mineradoras. O Pires sofre com o problema de segurança hídrica há mais de uma década.
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Uma serra a ser preservada: riqueza natural e arqueológica
Serra possui um grande patrimônio arqueológico, é fonte da água que abastece o bairro e abriga campos ferruginosos de imensa qualidade. É urgente que o município crie uma unidade de conservação sobre a área, ou perderemos nosso maior patrimônio ambiental e a qualidade de vida dos moradores será severamente comprometida. A ameaça da mineração sobre a área é constante.
Congonhas começou 2020 com a notícia de mais um patrimônio sendo gravemente ameaçado. A Serra do Pires começou a ser minerada, legalmente, em sua porção oeste pela Ferro+ e com isso começa a destruição de um dos locais com o maior número de espécies endêmicas do mundo. A serra abriga diversos sítios arqueológicos que contam a história de Minas Gerais e é fonte da água de uma das regiões que já mais sofrem com problemas de poluição de recursos hídricos na cidade. Isso sem falar que ela também é parte do conjunto paisagístico tombado como patrimônio da humanidade, junto da Basílica do Senhor Bom Jesus.
A Serra do Pires acabou se tornando o último reduto onde a mineração ainda não eliminou diversas espécies de plantas associadas aos solos ricos em ferro (entre bromélias, cactos e orquídeas) exclusivas da região central de Minas Gerais e criticamente ameaçadas de extinção. Estas espécies quase extintas, cujo os usos e potenciais ainda estão muito pouco estudados, colocam Congonhas numa área de grande interesse biológico.
Há que se falar também dos vários sítios arqueológicos que a serra abriga, que contam a história dos primórdios da mineração no Brasil e do ciclo do Ouro. Há uma caverna escavada na serra, provavelmente do século XVIII, além de diversas sondagens escavadas à mão em suas partes mais elevadas.
Mais um aspecto que faz a serra do Pires ser muito valiosa é o fato de ela ser extremamente importante para a água do bairro e dos moradores que lá vivem. Quem estuda hidrogeologia sabe que as cangas ferruginosas, por serem cheias de poros, funcionam como esponjas para absorção da água. É a serra do Pires o grande repositório de água daquela região, minerá-la trará grandes riscos para o abastecimento do bairro.
O Pires já sofre com a constante poluição da água usada no abastecimento, minerando a serra, com a pouca água que restar, a poluição se tornará regra.
Alterações na serra também impactam o conjunto paisagístico tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Vale a pena ameaçar tudo isso?
É um dever de Congonhas (da prefeitura e da câmara dos vereadores), criar mecanismos para proteger esse grande patrimônio ameaçado, que tem tantos potenciais em vários aspectos. Há inclusive um grande potencial de ecoturismo para esta serra que é repleta de belezas naturais, turismo que ajudaria economicamente um dos bairros mais dependentes da mineração na cidade. À exemplo de Ouro Preto e Belo Horizonte, é a hora de Congonhas ter uma serra como parque municipal, protegida e valorizada como merece. Fotos: João Lobo, Sandoval Souza e Hugo Castelani P G Cordeiro