A obra, que será montada em agosto na cidade histórica de Itabirito, mistura a modernidade e o tradicional para enaltecer a religiosidade mineira
O desafio, a precisão, a técnica e o encanto de transformar chapas de aço em figuras humanas. Esse é o trabalho do escultor Guilherme Marques no projeto Nossa Senhora da Piedade.
Responsável por dar vida à Pietá das Gerais, de aproximadamente dois mil quilos, instalada na Catedral Cristo Rei, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ele agora se debruça sobre duas novas obras dentro da mesma temática, para as cidades de Itabirito e Congonhas.
Durante o mês de agosto, quem passar pela BR-356, no segundo trevo de Itabirito, poderá acompanhar a montagem da primeira escultura. Para comemorar o aniversário de 120 anos da Gerdau, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), o projeto de Guilherme foi escolhido após edital.
Com materiais e técnicas contemporâneas, movidas pela tradição e fé dos mineiros, a matéria prima escolhida pelo escultor para representar a padroeira de Minas Gerais são chapas de aço GG.
Além disso, Guilherme lança mão de tecnologias mais recentes a serviço do trabalho na escultura. Nesse caso, o processo de escaneamento 3D está sendo usado. Além de capturar formas e modelos que instigam o escultor, o escaneamento traz possibilidades como retrabalhos no mundo digital.
Nessa versão, as chapas de aço usadas para formar os corpos de Jesus e Maria serão montadas com um espaçamento entre elas. Assim, será possível enxergar no centro da obra um coração que é comum aos dois.
De família de artesãos, Guilherme Marques formou-se em Artes Plásticas em 2009 e desde então trabalha com esculturas em diversos materiais, modernos e tradicionais, inclusive o aço.
“Com as comemorações dos 300 anos de Minas e 120 anos da Gerdau, a temática é relevante por se tratar da padroeira do Estado. Nossa Senhora da Piedade é padroeira de todos os mineiros, nosso Estado foi dado a ela. Para demonstrar nosso amor foi que modelamos um manto com a beleza natural mais típica de Minas: nossas montanhas e seus relevos”, afirma o escultor.
Para este edital, Guilherme ressalta o desafio de trabalhar com novas proporções, tamanhos e pesos. “Eu já conhecia os materiais fabricados pela Gerdau, já havia feito pequenas esculturas. Esse projeto é uma oportunidade de usar numa escala maior materiais e formas com as quais eu já trabalhava”, destaca.
Itabirito
A partir de 8 de agosto tem início a montagem do primeiro exemplar dessa versão da Pietá, que ficará localizada no segundo acesso para a cidade de Itabirito. A escultura evidencia o caráter histórico e religioso do município, cuja origem se confunde com a descoberta e exploração do ouro em Minas Gerais.
“A ideia da Pietá tem relação direta com as tradições da cidade, de formação religiosa. A imagem de Nossa Senhora da Piedade faz parte dessa tradição e, sem dúvida, foi uma felicidade ter escolhido esse tema para o projeto”, explica Guilherme Marques.
Registros históricos apontam que uma imagem de Nossa Senhora trazida na nau do Capitão-Mor Francisco Homem Del Rey inspirou o nome Arraial de Nossa Senhora da Boa Viagem de Itaubyra do Rio de Janeiro.
A influência da religiosidade nas origens de Itabirito fica ainda mais evidente com a construção da Ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem que, posteriormente, tornou-se uma capela curada.
Com o aumento da população, o local passou de arraial para freguesia em 1745 e começou a ser chamado de Itabira do Campo, e a capela transformada em matriz.
As instalações da Estrada de Ferro Dom Pedro II e a abertura de empresas nos ramos da siderurgia, tecidos e couro provocaram um novo crescimento da população e a antiga paisagem colonial foi substituída aos poucos pelas indústrias.
O desenvolvimento despertou o desejo de emancipação municipal e em 7 de setembro de 1923, nascia a cidade de Itabirito que, em tupi guarani, significa “pedra que risca vermelho”.
Pietá
Obra do Renascimento, a Pietá de Michelângelo é um marco na história da arte e é uma referência para o trabalho de Guilherme Marques. As representações da Nossa Senhora da Piedade começaram na região europeia onde hoje é a Alemanha. Por muito tempo a representação, que se tornou a tradicional, foi a de Maria com o corpo do Cristo apoiado por inteiro no seu colo.
No avançar da modernidade, até nossos dias, é que a maneira de representar essa venerável cena foi modelada em outras composições das figuras.
Cada nova representação apontava novos entendimentos, iluminava novos ângulos para a apreciação da fé.
Sendo assim, para formar a versão da padroeira de Minas, todas as representações foram levadas em conta por Guilherme Marques, entre elas estão as representações da Vesperbild, Michelangelo, Brecheret, Ceschiatti e do diretor Mel Gibson.
Próximo destino
As comemorações dos 120 anos da Gerdau preveem ainda a produção de uma Pietá nos mesmos moldes para a cidade de Congonhas. A montagem da escultura do artista Guilherme Marques na cidade histórica está prevista para o final do ano.