Trajeto inicial tem 37 quilômetros, entre Três Rios (RJ), Chiador e Sapucaia (MG). Projeto pretende dinamizar região, atrair visitantes do país e do exterior
Após oito anos de expectativa e trabalho, com negociações nas esferas pública e privada, recuperação de trecho ferroviário, reforma de vagões, além das dificuldades trazidas pela pandemia, o Rio-Minas, primeiro trem turístico interestadual do Sudeste do país, deverá finalmente apitar, sair da estação e entrar nos trilhos.
“Estamos confiantes que, em dezembro, faremos a primeira viagem”, disse, ontem, a presidente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Amigos do Trem, Cyntia Nascimento, que está à frente do projeto iniciado em 2015.
A motivação maior para o início do serviço veio da concessão do Certificado Operacional Específico (COE), documento fundamental para que o Rio-Minas entre em funcionamento. “Estávamos esperando a certificação desde 2017, daí nosso entusiasmo. São muitos anos batalhando sem recursos públicos”, informou Cyntia.
Ela esclarece que a Amigos do Trem aguarda o sinal verde da Ferrovia Centro-Atlântica, concessionária da ferrovia, e da Agência Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), “que se prontificou a validar o COE em tempo célere para que o projeto seja iniciado”. Tranquila, assegura que “temos todos os documentos solicitados para a certificação”.
Roteiro histórico
Previsto inicialmente para percorrer 168 quilômetros entre Três Rios (RJ) e Cataguases, na Zona da Mata mineira, passando por oito municípios onde vivem cerca de 900 mil pessoas, o transporte ferroviário terá trajeto mais curto: 37 quilômetros, devido às condições da linha férrea.
De acordo com Cyntia Nascimento, o trecho de Três Rios a Sapucaia (MG), passando por Chiador (MG), onde fica a mais antiga estação ferroviária mineira, será compartilhado, por enquanto, com a VLI/Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), concessionária do ramal ferroviário que também se encarregou da recuperação de trilhos, dormentes e outros aspectos da via.
Sobre a estação de Chiador, inaugurada em 1869 pelo imperador dom Pedro II (1825–1891), vale destacar que os recursos para a restauração do espaço estão garantidos pela Eletrobras Furnas, no valor de R$ 9,5 milhões. Antes pertencente à extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e atualmente de propriedade da União, o imóvel histórico se encontra sob a guarda do município.
“Nossos recursos e de voluntários”
Num vídeo postado no sábado (9/9) nas redes sociais, a presidente da Amigos do Trem conclamou as prefeituras para que ajudem o projeto idealizado para dinamizar o turismo na região, atrair visitantes do país e do exterior e fomentar a economia. “É importante o apoio institucional, mas precisamos de recursos financeiros. Não temos dinheiro federal, estadual ou municipal, muito menos emendas parlamentares. Contamos com nossos recursos e de voluntários. Precisamos que todos se sensibilizem e colaborem, pois é um projeto que merece e vai mudar a região.”
Em Recreio, na Zona da Mata, a 360 quilômetros de BH, a equipe da Amigos do Trem cuida da reforma do material rolante, que são as locomotivas, carros de passageiros e o auto de linha ferroviário, usado para inspeção e manutenção. A reforma contou com recursos da MRS Logística.
Teste feito com sucesso
Em 19 de maio de 2018, a pacata cidade de Recreio, na Zona da Mata, viveu um momento histórico. Bem cedo, veio gente de todo lado para ver a partida do trem Rio-Minas, que, naquele dia, fazia uma viagem-teste em direção a Cataguases, num trajeto de 60 quilômetros. A equipe do Estado de Minas acompanhou o teste do trem Rio-Minas em 2018.
Tendo à frente Paulo Henrique do Nascimento, idealizador do projeto e falecido em novembro daquele ano, a viagem envolveu 15 pessoas, sendo sete a bordo e oito de carro, munidos de rádios de comunicação para fazer acompanhamento. Naquela viagem-teste, os passageiros ficaram de fora, apenas acenando de longe para o trem que trafegava em velocidade baixa (3 a 5km/h) com duas locomotivas e três vagões.
FONTE ESTADO DE MINAS