Situada em uma reserva particular, ao lado Parque Estadual do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha, Raiz Parque une natureza, arte e gastronomia em hospedagem com o máximo de personalização e conforto
Um lugar para se sentir abraçado pela natureza. Cercada por paredões de pedra que formam a imponente Serra do Espinhaço, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, está a pousada Raiz Parque. Fica a 56 quilômetros de Diamantina, entre os municípios de São Gonçalo do Rio Preto e Couto de Magalhães de Minas. Integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona experiências que também envolvem gastronomia e arte.
“Hoje é cada vez mais raro o contato de quem mora nas grandes cidades com a natureza. Aqui é um lugar de descobertas e você tem que vir aberto para viver uma experiência imersiva”, avisa a empresária Cláudia Narciso, que cuida, pessoalmente, de todos os detalhes da pousada.
Ela mesma faz as reservas e conversa com as pessoas para conhecer seus gostos e preferências. No fim, quer oferecer uma hospedagem personalizada de verdade. Para você ter uma ideia do nível de detalhes, as toalhas de banho são bordadas com as iniciais dos nomes dos hóspedes. Quando está por lá, Cláudia faz questão de receber os visitantes e mostrar cada pedacinho do seu paraíso.
A Raiz Parque fica em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 1.000 hectares, na divisa com o Parque Estadual do Rio Preto. Nasceu do sonho do falecido marido de Cláudia, Paulo Ribeiro, que era sociólogo e ambientalista. Ele ficou conhecido como “menino do dedo verde” tamanho o amor pela natureza e o empenho em preservá-la. Foi Paulo quem descobriu essa área e lutou para que se tornasse um “parque particular”, que ficou como um legado.
Igualmente apaixonada pela natureza, Cláudia assumiu a missão de preservar o imenso pedaço do cerrado, bioma que, nas suas palavras, é “um dos mais ricos do planeta”. Nascida em Montes Claros, ela fez carreira na moda. Trabalhou por 22 anos no Grupo Arezzo – começou como estilista e chegou à cadeira de CEO da marca Arezzo. Desligou-se da empresa há dois anos e meio, no meio da pandemia, mas segue na área como consultora de fábricas de calçados. Em paralelo, administra duas pousadas (além da Raiz Parque, é dona da Estância Lomba Grande, no Rio Grande do Sul).
Estrada de terra
Partindo de Belo Horizonte, são mais ou menos cinco horas de viagem. Ao chegar à cidade de São Gonçalo do Rio Preto, você vira em uma rua estreita de calçamento, passa por algumas casas e de repente está em uma estrada de terra (em ótimas condições, por sinal, o que minimiza o sacolejo) no meio do cerrado.
A paisagem vai se descortinando ao longo do caminho, que atravessa um pequeno vilarejo, o Povoado do Alecrim, onde mora boa parte dos funcionários da pousada. Parece preparar o viajante para o que está por vir. Mesmo assim, a chegada causa muito impacto. O encontro com a Serra do Espinhaço é de tirar o fôlego.
Os hóspedes são recebidos na casa principal, que não tem balcão de check-in nem nada de hotel. A sensação é de entrar na casa de Cláudia, e é isso mesmo o que ela quer. “A casa é pintada com a terra daqui. Pensamos em uma arquitetura para contar a história do lugar, que tem a ver com o garimpo”, aponta.
Não é só a arquitetura que conta histórias. A pousada reúne peças garimpadas pela dona mundo afora – de artesanato a design com assinatura, passando por antiguidades, o que forma uma interessante composição de épocas, cores e texturas. Um patchwork de histórias. Nessa hora, seu lado ligado à moda fala mais alto. “Como gosto de viajar, vou a lugares que me permitem conhecer os artesãos”, revela.
Em uma volta pela pousada, Cláudia vai contando as histórias dos objetos. A grande sala, com quatro ambientes integrados, concentra a maior parte do seu garimpo. Lá tem um sofá vermelho que veio da Inglaterra e um tapete persa de um castelo antigo. O design brasileiro está representado, por exemplo, pelo sofá de Percival Lafer e pelo banco que o escritor montes-clarense Darcy Ribeiro, tio de Paulo, desenhou com Oscar Niemeyer. Nas almofadas, bordados com frases de Guimarães Rosa (veja essa: “Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo”) e flores do cerrado.
Mesa coletiva
Ao fundo da casa, ficam a cozinha e a sala de jantar, com uma mesa coletiva projetada para quebrar o gelo e aproximar os poucos hóspedes que se cruzam na pousada. Tudo tem o olhar e o dedo de Cláudia. Ela passa horas planejando a decoração da mesa, que muda a cada refeição. Mesmo não estando por lá, direciona os funcionários pelo telefone. Diz que faz cenografia. “Não repito nenhuma peça. É como se estivesse fazendo uma coleção ou montando um showroom”, comenta.
Ali é servido o café da manhã com produtos das redondezas, respeitando o conceito de “quilômetro zero”. O pão de sal é assado na hora na cozinha da pousada, assim como o pão de queijo e a broa de milho com calda de goiabada. Aproveite para experimentar uma fatia de requeijão moreno derretido na chapa com açúcar cristal ou mel, mistura comum no Norte de Minas. Também dá para adoçar o paladar, logo de manhã, com arroz-doce. A mesa coletiva também é palco de experiências gastronômicas com chefs convidados. Mais um motivo para reunir as pessoas ao redor da comida (não hóspedes também podem participar).
“Gastronomia é uma das paixões da minha vida. A moda me deu a oportunidade de viajar para fora do Brasil e conhecer chefs e restaurantes em Paris, Nova York, Milão e Londres. Sou muito curiosa e como de tudo”, destaca Cláudia, que está sempre em busca de novos talentos. Os almoços são em um clima mais descontraído e o jantar tem a pompa do menu degustação à luz de velas.
No fim de semana da nossa visita, ela convidou o chef Fred Trindade, que também é de Montes Claros, para assumir as panelas. Desde que fechou o restaurante Trindade, há cinco anos, em Belo Horizonte, o chef passou a viver em São Paulo e se dedica a projetos pelo Brasil. “Sigo a mesma história, de fazer uma cozinha brasileira contemporânea, de vanguarda, com técnica, usando o máximo de produtos locais.”
Os hóspedes puderam se deliciar com cupim serenado de Montes Claros servido com angu de milho verde. O surubim defumado virou recheio de tortelli acompanhado de lagostim do mar, caviar e bisque de lagostim com toque de cachaça. Já a banana, que existe aos montes na região, foi usada para fazer um purê tostado, que compôs o prato com camarão, molho à base de vôngole e folha de capuchinha.
Em um dos almoços, que se desenrolou no espaço gourmet, com música ao vivo, Fred serviu no fogão a lenha leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arroz.
Suítes, bangalôs e chalé
A Raiz Parque oferece três opções de hospedagem. Há suítes dentro da casa principal, com diária para duas pessoas a partir de R$ 300, incluindo café da manhã. Quatro bangalôs ficam espalhados pela área da pousada, cercados pela vegetação, o que garante total privacidade aos hóspedes. Todos contam com hidromassagem na varanda e ducha ao ar livre nos fundos.
O maior deles, com 90 metros quadrados, batizado de Bangalô Pequizeiro, tem cozinha equipada, adega e lareira. A diária para duas pessoas com todas as refeições (café da manhã, almoço, chá da tarde e jantar) pode chegar a R$ 1.500.
Para quem busca mais espaço, a pousada tem um chalé com três quartos, que acomoda até seis pessoas. O valor para duas pessoas, com todas as refeições, é de R$ 1.900. Ainda existe a possibilidade de day use e de locação da propriedade inteira para casamentos, aniversários e outros eventos, com grupos de até 30 pessoas.
Relax ou aventura?
Se você busca momentos de relaxamento, ótimo. A pousada tem o silêncio e o aconchego ideias para ler um livro, tomar vinho ou simplesmente contemplar a natureza, diante de uma exuberante paisagem de praticamente 360 graus.
As áreas de convivência são interligadas por jardins e árvores como pequizeiros e cajueiros (Paulo Ribeiro plantou em torno de 200, era “o rei das mudas”). Uma tem cozinha com fogão a lenha, a outra com bar e salão de jogos.
A piscina se enche com a água escura do Rio Preto (tem uma nascente dentro dela, inclusive). A poucos passos dos quartos, os hóspedes ainda encontram uma quadra de beach tênis e uma espécie de museu, que tem como protagonista um enorme engenho de madeira, projetado para contar a história da antiga fazenda. Cláudia brinca que ficou conhecida na região por gostar de “coisa velha”, por isso sempre alguém aparece oferecendo alguma peça.
No fim da tarde, o convite é para ida (de carro) até o mirante do Morro Redondo para fazer um piquenique e ver o pôr do sol. A noite vai caindo e, lá longe, dá para ver as luzes da cidade de Diamantina se acendendo. Leve um agasalho porque, por incrível que pareça, tem frio em pleno Vale do Jequitinhonha.
De volta à pousada, todas as noites, antes do jantar, tem fogueira com música ao vivo. Cláudia sempre convida artistas da região, entre eles Jacó do Vale. Até o fim do ano que vem, o plano é inaugurar o novo restaurante, que terá 300 metros quadrados, e a piscina aquecida. A área onde hoje fica a sala de jantar se transformará em bar, café e sala de jogos.
Para os aventureiros, a pousada oferece atividades que permitem uma conexão ainda mais intensa com a natureza. Entre elas, a descida de bote pelo Rio Preto, onde dá para praticar stand up paddle.
Há trilhas para conhecer três cachoeiras: Moinho (a 800m), Ceci (a 1,5km) e Arco-íris (a 2,8km). Apesar de ser mais distante (são cerca de 45 minutos de caminhada), a Arco-Íris é “apoteótica”, avisa Cláudia. “Lá tem arco-íris o ano inteiro”, diz, explicando o nome. Também dá para percorrer trilhas para visitar atrativos do Parque Estadual do Rio Preto, como a Cachoeira do Crioulo e o Poço dos Veados.
Todos os passeios, seja a pé ou de bicicleta, são agendados com guia. E não é um guia qualquer. Necreto nasceu na antiga fazenda, onde hoje fica a pousada, e vive lá há 50 anos.
Serviço
Pousada Raiz Parque
(31) 98470-3785
FONTE ESTADO DE MINAS