Serão selecionados 50 poemas de turistas que vão compor a coletânea “Ouro Preto: patrimônio e percepções poéticas” que reunirá também poesias de estudantes e de poetas locais. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas até 12 de maio
Com objetivo de rememorar a visita dos poetas e intelectuais modernistas a Ouro Preto, a Transvê Poesias e a Prefeitura de Ouro Preto, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo, lançam a campanha de sensibilização “Uai turista, escreve um poema sobre Ouro Preto!”. A iniciativa faz parte do projeto “Patrimônio trans(bordado) em poesia” que visa relembrar o centenário da viagem dos modernistas a Ouro Preto, ocorrida na Semana Santa de 1924, além de celebrar os dez anos da Transvê Poesias. A visita dos modernistas foi determinante para lançar as bases para a implementação de políticas públicas preservacionistas no Brasil.
De acordo com o secretário de cultura e turismo Flávio Malta, o projeto é uma brilhante inciativa do coletivo Transvê Poesias. “Trata-se de um trabalho muito importante, uma vez que incentiva a literatura em nossa cidade. Ouro Preto é fruto da inspiração do início da literatura nacional com o arcadismo. A cidade sempre inspirou artistas, poetas, escritores. Agora inspira os turistas a declararem suas impressões sobre a cidade”, argumenta Flávio.
Serão selecionados 50 poemas de turistas que vão compor a coletânea “Ouro Preto: patrimônio e percepções poéticas” que reunirá também poesias de estudantes e de poetas locais. A coletânea contará com a publicação digital e impressa e será distribuída gratuitamente para todas as escolas da cidade. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo vai disponibilizar o link com o formulário de inscrição digital e físico para hotéis, pousadas, restaurantes e locais de visitação turística no município.
Poesia e patrimônio: a importância da visita dos modernistas
Ouro Preto é um verdadeiro museu a céu aberto com obras de artistas como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manuel da Costa Ataíde. Por muito tempo essas obras foram relegadas ao abandono até que uma viagem de um grupo de intelectuais modernistas a Ouro Preto foi determinante para lançar as bases do Serviço Nacional de Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, o (SPHAN). O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é a designação atual da instituição brasileira de preservação do patrimônio cultural criada em 1937 como Serviço Nacional de Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. A criação do (SPHAN) não pode ser considerada um fato isolado, mas uma conjectura de ações políticas implementadas pelo projeto ideológico de construção simbólica da nação.
Para o especialista em gestão do patrimônio cultural Éverlan Stutz, o projeto é um marco simbólico que evidencia a relevância de Ouro Preto no cenário artístico brasileiro. “Sou muito grato a essa cidade. Aqui me formei como artista e aprendo todos os dias com as pessoas de Ouro Preto. Preservar a identidade cultural é um ato de amor e de respeito a todas as pessoas que lutaram e lutam pela conservação de nossos bens culturais”, relata Stutz.
A viagem dos modernistas ocorreu na Semana Santa de 1924 e dela fizeram parte os poetas Mário de Andrade e Oswald de Andrade, a pintora Tarsila do Amaral, a fazendeira Olívia Guedes Penteado, o escritor e mecenas Paulo Prado e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars. O grupo pretendia buscar as raízes da arte brasileira naquela que chamaram de “a viagem da redescoberta do Brasil”. Em 1980, Ouro Preto foi tombada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, sendo a primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Mundial.
A obra que mais sensibilizou os modernistas foi a Igreja de São Francisco de Assis, uma das mais celebradas de Aleijadinho. Na época da visita, o monumento se encontrava em estado de abandono, como atesta um poema escrito por Oswald de Andrade, intitulado “Ouro Preto” que faz parte de seu primeiro livro “Pau Brasil”, lançado em 1925.
Vamos visitar São Francisco de Assis
Igreja feita pela gente de Minas
O sacristão que é vizinho da Maria Cana-verde
Abre e mostra o abandono
Os púlpitos do Aleijadinho
O teto de Ataíde
Segundo Anderson Valfré, coordenador da Transvê Poesias, a instituição tem muito a celebrar em uma década de existência. “Foi embalado no visual estético de Ouro Preto que o coletivo traçou seus primeiros passos, levando poemas em garrafas para o povo. Foi com muita doação e senso de coletividade que completamos dez com presença em todo território nacional”, enfatiza Anderson.
Link para inscrição disponível em: https://forms.gle/EwdBNb1Azsjpskwm7