A febre oropouche, já confirmada em 72 pessoas neste ano em Minas Gerais, com uma alta de 1.700% em quatro dias, pode não ser uma novidade no Estado. A Secretaria de Estado de Saúde acredita que o vírus circula pelo menos desde o ano passado em Minas, mas que alguns casos foram confundidos com dengue ou chikungunya, devido à semelhança dos sintomas. Há, portanto, a possibilidade de que uma fração das 795.820 infecções por dengue em Minas em 2024 — a maior epidemia da doença no estado — seja fruto de um equívoco nos diagnósticos.
Na região Leste de Minas e no Vale do Aço, onde achávamos que a chikungunya estava vindo muito forte, vimos que boa parte disso é febre oropouche. Isso significa que esse vírus, provavelmente, já estava circulando pelo menos desde o ano passado. É uma doença que tem sintomas muito parecidos com a dengue e, especialmente, a chikungunya, como febre, dor de cabeça e dor nas articulações. Acabava que o diagnóstico, até então, era dado como dengue ou chikungunya”, afirma o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti.
Os exames que confirmaram os casos atuais em Minas começaram a ser feitos após estados vizinhos, como Bahia e Espírito Santo, registrarem a doença. A partir de agora, segundo o Baccheretti, os testes passarão a fazer parte da rotina da secretaria, como os de dengue e chikungunya, o que tende a reduzir o erro de diagnóstico.
Apesar do aumento no número de casos, o secretário tenta tranquilizar a população e afirma que não será necessário um reforço na rede hospitalar para atender pacientes com a doença. “Não há qualquer caso de morte ou paciente em estado grave vinculado a essa doença. Provavelmente, não teremos uma grande expansão da febre oropouche, porque, por enquanto, não há relato de transmissão pelo Aedes aegypti. Ela é transmitida por um mosquito muito comum em áreas de rios, matas e mangues.”
A doença
Diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, o infectologista Estevão Urbano explica que a semelhança da febre oropouche com outras doenças transmitidas por mosquitos está não apenas nos sintomas, mas também no tratamento. “Os sintomas podem durar, em média, de cinco a sete dias. Alguns deles são febre, dor nas articulações e na musculatura, inapetência (falta de apetite) e manchas no corpo. Na grande maioria das vezes, se tratada adequadamente, a doença tem evolução favorável”, explica.
“Entretanto, de forma mais rara, alguns casos podem evoluir para hemorragias eventualmente severas e, inclusive, para infecções de alguns órgãos-alvo, como o cérebro, e com chance de evolução fatal, embora seja incomum. Em algumas pessoas, alguns sintomas, como fadiga, dores articulares e inapetência, persistirão por mais tempo, às vezes semanas, até a recuperação completa”, relata o especialista.
De acordo com Estevão Urbano, alguns públicos precisam ter mais atenção quando diagnosticados com a doença. “Assim como em todas as arboviroses, os idosos, os bebês, as grávidas e os imunossuprimidos podem ter formas mais graves da doença. Então, a preocupação é um pouco maior com esses subgrupos de pacientes.”
Assim como em casos de dengue, o tratamento para a febre oropouche não conta com um medicamento específico para a doença. “Temos que dar tempo ao tempo para a nossa própria imunidade criar anticorpos e eliminar o vírus. Até que esse tempo aconteça, temos que manter a pessoa com ótima hidratação, remédio para dor e febre, além de repouso, se necessário. É preciso evitar medicamentos que aumentem o risco de hemorragia. Ainda não existem vacinas contra a febre oropouche e, se há estudos, estão em fases iniciais.”
De onde vêm os diagnósticos
Em quatro dias, os casos saltaram de quatro para 72 em Minas, um aumento de 1.700%, sendo a maioria no Vale do Aço:
1 caso em Congonhas (região Central)
1 caso em Gonzaga (Vela do Rio Doce)
1 caso em Mariléia (Vale do Aço)
2 casos em Ipatinga (Vale do Aço)
11 casos em Timóteo (Vale do Aço)
26 casos em Coronel Fabriciano (Vale do Aço)
30 casos em Joanésia (Vale do Aço)