16 de julho de 2024 03:38

Vazamento do Google terá impacto imenso na web

De cara, a primeira conclusão parece inevitável: parece que a empresa vem mentindo

O maior vazamento interno de dados do Google ocorreu na semana passada. A empresa demorou alguns dias para reconhecer a autenticidade dos 2.500 arquivos, mas acabou reconhecendo. Em meio a tudo estão detalhes do tipo de informação que ela coleciona sobre páginas e sites da web para definir sua relevância. Não foi o algoritmo de busca do Google que vazou. Mas a lista dos dados que o Google coleta para alimentar seu algoritmo. De cara, a primeira conclusão parece inevitável: parece que o Google vem mentindo. O impacto na World Wide Web será imenso.

Perdemos o hábito de chamá-la assim, pelo nome completo: World Wide Web. O conjunto de páginas com hiperlinks clicáveis que, antes de haver smartphones e redes sociais fechadas, muitos confundiam com a própria internet. É só um pedaço da rede. Mas foi nela, na web, que a maioria primeiro conheceu a internet. Muitos dividem a rede entre a parte aberta e a fechada. A web é aberta, qualquer um com conexão e um navegador pode navegar. As redes, os streamings, aí não. São fechados. É preciso um aplicativo proprietário, login e senha.

Na última década a web se transformou completamente. Cada página que existe foi desenhada como está para ganhar pontos no algoritmo do Google. Assim como é preciso dar a um vídeo do TikTok certa estrutura para ele pontuar melhor no algoritmo da plataforma, também na web é assim. É preciso pontuar melhor no algoritmo da busca. E, nesse jogo das buscas, só existe uma que realmente conta.

Existe um tipo de profissional importante, nos ambientes digitais: o responsável por SEO, sigla em inglês para otimização para sistemas de busca. SEO de qualidade é feito na base da tentativa e erro — ajeita-se uma página com títulos de certo tamanho, certa quantidade de imagens, entretítulos dividindo mais ou menos um texto, e vai-se testando. Qual traz mais visitas pelo Google, qual traz menos? Essas informações são frequentemente compartilhadas, certos detalhes custam caro, cursos são vendidos, consultorias abertas e fechadas. Para um site, estar bem no Google é tão importante que o profissional de SEO tem valor grande.

Há uma relação de amor e ódio de quem publica sites com o Google. Os executivos do Google odeiam técnicas de SEO. Dizem que servem para manipular o algoritmo de forma que ele tenda a considerar boa uma página com conteúdo ruim. Os responsáveis por sites se queixam do Google por mudanças frequentes no algoritmo que, de um dia para o outro, podem afundar veículos inteiros. Muita gente já relatou, mesmo em grandes portais, ver o número de acessos diários despencar a ponto da quase inviabilidade. Sem nenhum aviso. Fato é que a maior parte das visitas a sites da web ocorre a partir de um clique na página de resultados de busca. E o dinheiro que um site aberto faz, quase sempre, é pela publicidade que carrega junto. O Google tem poder de vida e morte sobre qualquer site.

Ao longo dos anos, funcionários do Google deram inúmeras pistas sobre que critérios levam em conta na fórmula secreta. Negaram que a quantidade de tempo que usuários ficam num site seja importante, negaram que o número de cliques que um site recebe seja relevante, disseram que não usam dados do Chrome para informar o algoritmo. Só que o vazamento mostra que o Google coleta, sim, tanto número de cliques quanto tempo de permanência num site. Assim como usa os dados de seu navegador, o Chrome. É o mais popular da internet, com 65% do mercado global de acordo com o Statcounter. O Safari, da Apple, é um distante segundo, com 18%. Quando navegamos por sites usando o Chrome, cada movimento nosso é cuidadosamente detectado, arquivado e processado para informar o algoritmo que determina os sites que aparecerão em primeiro, em segundo ou mesmo lá na décima sétima página de respostas.

A comunicação da empresa Google confirma que o vazamento é de documentos reais, mas pede que ninguém tire conclusões apressadas a seu respeito. O Google talvez colete as informações sem usá-las. Se não interessa, por que coleta? Pelo prazer de saber como se comporta quando está on-line cada um de seus clientes — 65% dos que estão na internet?

Nilay Patel, editor-chefe do Verge, talvez o melhor site de cobertura de tecnologia americano, vem falando que nos aproximamos do Google Zero. Está próximo. O momento em que o Google passará a dar como resposta de uma busca um resumo bom da informação que estará nos melhores sites. Nesse dia, os cliques vindos do Google vão a zero. Aí, talvez, a web morra de inanição, com toda a sua informação sugada até a última gota sem que aqueles que trabalharam para colocar conteúdo lá tenham sido pagos. O que alimentará o Google então?

FONTE O GLOGO

Mais Notícias

Receba notícias em seu celular

Publicidade