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Palácio de Mariana vira centro cultural triplo

Edificação que serviu de residência episcopal entre 1987 e 2023 exibe, a partir de sábado, acervo de música, mobiliário e objetos religiosos dos bispos

Cultura, fé e arte em ambientes plenos de memórias de Minas Gerais. Primeira diocese do estado e sexta criada no país, Mariana, na Região Central, guarda tesouros que retratam mais de 300 anos de história da cidade. Muitos dos objetos que contam essa trajetória estarão diante dos olhos de moradores e visitantes, a partir de sábado (27/7), com a abertura do Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz, composto por três espaços no ex-Palácio Arquiepiscopal, na Praça Gomes Freire, no Centro. São eles, o Museu da Música, o Memorial dos Bispos e o Museu do Mobiliário. A cerimônia de inauguração será na sexta-feira, às 20h30.

De acordo com a Arquidiocese de Mariana, à frente da iniciativa, parte do acervo histórico e artístico da instituição, o qual não se classifica como especificamente sacro, poderá servir também a pesquisas, como ocorreu com o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, criado em 1962. “Todo o acervo exposto é de propriedade da Arquidiocese de Mariana. Está preservado desde a criação da diocese, em 1745, e da chegada do seu primeiro bispo, dom Frei Manoel da Cruz, em 1748, que veio do Maranhão, a cavalo, numa viagem de um ano e quatro meses”, conta o padre Anderson Eduardo de Paiva, diretor dos museus da Arquidiocese de Mariana.

Segundo padre Anderson, o Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz reúne partituras musicais – mais de mil manuscritos, reconhecidos com o Registro de Memória do Mundo para a América Latina e Caribe, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mostras do mobiliário, objetos religiosos dos bispos e outros atrativos, além de ter área reservada para, em breve, receber exposições temporárias.

Agora de casa nova, o Museu da Música, primeiro do gênero no país, aberto em 1972, preserva partituras manuscritas de renomados compositores mineiros, desde a época colonial. Nesse grande acervo de música sacra, há obra autografada pelo organista e compositor José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1895), mineiro do Serro (Vale do Jequitinhonha), e aclamadas dos padres João de Deus Castro Lobo (1794-1832) e José Mauricio Nunes Garcia (1767-1830), além de inúmeras peças não religiosas e para bandas de música.

Encontro dos tempos

Com as novas tecnologias, é possível fazer uma viagem, sem escalas, do século 18 ao 21: algumas composições podem ser ouvidas por meio de QR Code. Assim, enquanto a visita é feita em todo o espaço, pessoas de todas as gerações têm a oportunidade de apreciar instrumentos antigos e raros.

O Memorial dos Bispos conta com um acervo que relembra a história dos prelados de Mariana, desde a chegada do primeiro, o português dom Frei Manoel da Cruz (1690-1764), em 1748. Cruzes peitorais, báculos (bastão ou cajado), mitras, anéis, medalhas comemorativas, objetos pessoais, comendas, quadros e pinturas revelam um pouco dos costumes e do modo de viver dos bispos de Mariana até os dias atuais.
Compondo o acervo do novo museu, o mobiliário expõe móveis e objetos que faziam parte das residências episcopais dos bispos de Mariana. São mesas, cadeiras, canapés, cômodas, objetos de decoração em prata e porcelana, castiçais e peças entalhadas em madeiras incrustadas, entre outras. “O acervo estará de modo integrado neste espaço cultural. A música se comunica com o mobiliário,que dialoga com as obras e adornos e com os costumes dos bispos marianenses”, afirma.

Palácio

A edificação que abriga os equipamentos culturais constitui outro atrativo para os visitantes. Considerado um dos três principais exemplares da arquitetura pós-moderna no Brasil e um dos 20 mais expressivos no mundo, conforme divulgado pela Arquidiocese de Mariana, o local serviu como Palácio Arquiepiscopal (residência) entre os anos de 1987 e 2023. Nele residiram dom Oscar de Oliveira, dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, dom Geraldo Lyrio Rocha e o atual arcebispo, dom Airton José dos Santos. O ex-Palácio Arquiepiscopal, destaca padre Anderson, valoriza todo o acervo nele preservado e exposto, sendo também objeto de visitação dentro de todo o contexto do conjunto histórico.

No evento de abertura do novo espaço, na sexta-feira, às 20h30, haverá também uma homenagem à memória de dom Geraldo Lyrio Rocha (1942-2023), quinto arcebispo de Mariana. A data de inauguração dos espaços ocorre exatamente no dia do primeiro ano de falecimento do eclesiástico. Na oportunidade, será lançado o livro “A Vida se faz história – Dom Geraldo Lyrio Rocha: memória e testemunho”.

“Com este novo espaço cultural, a cidade de Mariana, no mês em que completa 328 anos, poderá comemorar mais esse atrativo de qualidade e expressiva importância histórica. Ele comunga arte e fé e demonstra especial cuidado com a preservação do patrimônio da arquidiocese, a qual tem aqui sua sede primacial”, ressalta padre Anderson. Além de primeira diocese, Mariana foi também a primeira vila (1711) e a primeira cidade (1745) de Minas.

História

Para entender mais sobre os espaços agora abertos ao público, é preciso conhecer os primórdios da história de Mariana, que comemora 328 anos. A localidade, antigo Ribeirão do Carmo, foi descoberta em 16 de Julho de 1696, pelos bandeirantes paulistas Miguel Garcia e Salvador Furtado de Mendonça, juntamente com o capelão da Bandeira, Padre Gonçalves Lopes. Vindos de Taubaté, São Paulo, à procura de ouro e pedras preciosas, eles encontraram as primeiras pepitas de ouro no curso d’água, que batizaram Ribeirão do Carmo, pois era o dia da Nossa Senhora do Carmo.

Após 16 de julho de 1696, o território se transformou em Arraial de Nossa Senhora do Carmo, sendo elevado, em 1711, à categoria de vila, então a primeira de Minas. Já em 1745, o rei de Portugal, dom João V, a transformou em cidade com o nome de Mariana, em homenagem a sua esposa, dona Maria Ana D’Austria.

Em 6 de dezembro de 1745, foi criada a Diocese de Mariana, pela Bula “Candor Lucis Aeternae”, do papa Bento XIV. A instalação ocorreu três anos depois, com a posse canônica de seu primeiro bispo, dom Frei Manoel da Cruz. No contexto brasileiro, Mariana se tornou a sexta diocese (criada juntamente com São Paulo), depois dos bispados da Bahia (1555), do Rio de Janeiro (1676), de Olinda, Pernambuco, (1676), do Maranhão (1677) e do Pará (1719).

A elevação à categoria de Arquidiocese (composta hoje por 79 municípios), juntamente com o bispado de Belém (PA), por um mesmo documento pontifício “Sempiternam Humani Generis”, de São Pio X, ocorreu em 1º de maio de 1906 

CULTURA, ARTE E FÉ

Conheça os atrativos do Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz, aberto ao público em Mariana, na Região Central de Minas

1) Museu da Música


l Acervo de manuscritos (foto) reconhecido com o Diploma do Registro Regional para a América Latina e o Caribe, em razão da importância. O título, concedido pelo Programa Memória do Mundo, da Unesco, é uma certificação internacional.

2) Memorial dos Bispos


l Estão expostos cruzes peitorais, báculos (bastão ou cajado), mitras, anéis, medalhas comemorativas, objetos pessoais, comendas, quadros e pinturas. Os objetos revelam um pouco dos costumes e do modo de viver dos bispos de Mariana, desde o século 18.

3)Museu do Mobiliário


l Mesas, cadeiras, canapés, cômodas, objetos de decoração em prata e porcelana, castiçais, peças entalhadas e madeiras incrustadas se encontram em exposição.

SERVIÇO

  • Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz (Museu da Música, Memorial dos Bispos e Museu do Mobiliário), da Arquidiocese de Mariana
  • Praça Gomes Freire, no Centro da cidade.
  • Horário de funcionamento: de terça-feira a domingo, de 8h30 às 12h e de 13h30 às 17h.
  • Ingresso: R$ 15, para visita a dois espaços: Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz e Museu Arquidiocesano de Arte Sacra.

FONTE ESTADO DE MINAS

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