Paciente infectado com Candida auris foi internado no Hospital João XXIII, em BH, e recebeu alta no dia 26 de setembro
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) está investigando e monitorando o caso de Candida auris, popularmente conhecido como “superfungo”, registrado em Belo Horizonte em setembro, assim como outros possíveis de contágio. O paciente estava internado no Hospital João XXIII, na Região Leste de Belo Horizonte, e teve alta no último dia 26.
Por meio de nota, a SES-MG informou que o hospital está seguindo os protocolos de segurança sanitária em ambiente hospitalar e tomou as medidas de controle e manejo necessárias para proteção dos demais pacientes e profissionais da unidade. As ações incluem higienização das mãos, uso de luvas e avental para evitar contato direto com os casos suspeitos e realização de testes.
Segundo a pasta, o caso confirmado está assintomático, bem como aqueles que tiveram contato com o paciente. O fungo se manifesta na pele das pessoas infectadas, sendo fundamental a prevenção de contato com casos suspeitos.
A secretaria ainda alerta que o fungo tem alta transmissibilidade e capacidade de colonizar rapidamente a pele do paciente e o ambiente próximo a ele. “Dessa forma, é de fundamental importância a implementação de medidas de prevenção e controle do Candida auris pelos hospitais”, declarou a SES-MG.
Todos os casos suspeitos de infecção pelo fungo Candida auris são monitorados pela secretaria desde 2021, quando houve o primeiro caso confirmado no país. Desde então, foram registrados em Minas Gerais 129 casos suspeitos e um confirmado.
O que é o ‘superfungo’?
Conhecido como “superfungo”, o Candida Auris tem causado preocupação em escala global devido à sua disseminação e resistência aos medicamentos antifúngicos. Ele é transmitido de pessoa a pessoa ou por contato em superfícies contaminadas ou com os fluídos biológicos de pacientes infectados ou colonizados.
Um dos pontos de alerta sobre o fungo é que ele pode permanecer no ambiente por longos períodos, podendo chegar a meses, e é resistente a diversos tipos de desinfetantes e mesmo a temperaturas elevadas.
Segundo a Anvisa, o superfungo pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas, podendo ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com comorbidades. Entre os sintomas estão febre, calafrios, dores e até a morte.
Entretanto, muitos dos infectados são assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico. Segundo o infectologista Carlos Starling, por não apresentar sintomas evidentes, a detecção acontece de forma ocasional, quando o paciente está dentro do contexto hospitalar, internado, seja qual for o motivo. Ele explica que o diagnóstico pode acontecer quando o paciente é submetido a um exame com coleta de material por uma infecção qualquer.
“Por exemplo: está com dor ao urinar e faz um exame de urina, ou tirou um cateter, ou está com febre. Dentro de um procedimento normal para investigar a infecção, o fungo aparece”, esclarece Carlos Starling, lembrando que o paciente pode já carregar o fungo mesmo antes de dar entrada na unidade de saúde. “Pode ficar ali, quieto, sem que ninguém saiba”, complementa.
O fungo pode sobreviver na pele ou nas mucosas de um indivíduo sadio sem causar problemas à saúde e, por isso, pode ser levado de um lugar diferente para o hospital. Pessoas hospitalizadas por razões distintas podem ter contato com o microrganismo e serem infectadas, já que estão com o sistema imunológico fragilizado e expostas a antibióticos e procedimentos médicos invasivos.
A utilização de dispositivos médicos permanentes que perfuram a pele, como cateteres venosos centrais, podem ser porta de entrada para o fungo na corrente sanguínea. Uma vez no sangue, é comum que se dissemine para outros órgãos e cause candidíase invasiva, ou seja, uma infecção generalizada. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a taxa de mortalidade da candidíase invasiva varia de 29% a 53%.
Histórico de casos
Starling explica que o superfungo vem sendo investigado há algum tempo pela medicina, mas sua origem ainda não é sabida. “Se a causa tem a ver com mudanças climáticas, por exemplo, não se sabe quais fenômenos estão contribuindo para o aparecimento desse fungo”, diz.
O primeiro caso foi registrado em uma japonesa que foi identificada com uma doença causada por um fungo em 2009. Somente em 2019 foi descoberto ser o Candida auris.
Segundo a agência de notícias britânica BBC, a Anvisa afirma que tem analisado casos suspeitos do fungo no Brasil desde 2017, mas os primeiros só foram confirmados durante a pandemia de COVID-19. O primeiro caso confirmado em solo brasileiro foi identificado em 2020, na ponta de um cateter de um paciente internado em uma UTI de Salvador.
A capital baiana registrou pelo menos mais outro local dos dois surtos: um em dezembro de 2020, com 15 casos e dois mortos em um hospital da rede privada, e outro em dezembro de 2021, com um caso em um hospital da rede pública.
Casos do fungo também foram registrados em outros 47 países, dentre eles Estados Unidos, Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Israel, Chile, Canadá, Itália, Holanda, Venezuela, Paquistão, Quênia, Kuwait, México, Reino Unido e Espanha.
FONTE ESTADO DE MINAS