Investigação do MP detalhou que instituições emitiam certificados falsos e que cursos eram cumpridos com 13 minutos; quatro pessoas foram presas na cidade de São Lourenço, no Sul de Minas
Quatro pessoas foram presas em São Lourenço, no Sul de Minas Gerais, por suspeita de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, após uma investigação do Ministério Público descobrir a produção de 50 mil diplomas falsos e milhares de carteirinhas de estudante.
Ao todo, duas instituições de ensino ofereciam cursos online que emitiam os certificados. Conforme a investigação, tudo começou, após 67 dos 117 funcionários da prefeitura de uma cidade do interior de Goiás, apresentarem certificados de cursos online. As informações foram divulgadas nesse domingo (2), pelo Fantástico. Durante a ação, foram apreendidos aparelhos celulares, joias, relógios, documentos, aparelhos celulares, computadores, uma impressora de carteira de estudante, além de diplomas em branco.
No município de Perolândia, com três mil habitantes, quem conquista um diploma de ao menos 180 horas de duração de cursos online, pode chegar a 30% em cursos de mil horas. Caso esse que gerou desconfiança de duas servidoras, que falaram sobre o assunto. As escolas investigadas, se chamam Escon e Fajon.
“O que nos chamou atenção foi a quantidade de diplomas protocolados, mais ainda por ser da mesma instituição de ensino”, começou contando a mulher que não será identificada. “Falei: ‘Tem alguma coisa errada aí’.”
“Um ou outro me pediu tipo: ‘Quantas horas eu preciso fazer para ganhar 30%?’, que é o máximo que a gente paga. [Eu respondi:] ‘1080 horas’. Aí me pedia hoje, amanhã chegava com os certificados”, conta a outra.
Após a denúncia, o MP chamou alguns dos servidores para depor. Os diplomas custavam R$ 25.
“A maioria, dos funcionários tinham feito. Aí eu falei: ‘Eu vou fazer também. Todo mundo fez.’”, afirmou um deles. “Eu pensei: ‘Para mim, é uma chance de ter um aumentinho’, mas não foi de má-fé”, afirmou uma das servidoras em depoimento.
Outro servidor disse que nem sabia mexer no computador, mas fez quatro cursos online. (Veja a conversa abaixo);
Promotor: O senhor não chegou nem a ler a apostila?
Servidor: Não, nem sei mexer em computador.
Promotor: O senhor não chegou a fazer aula, né?
Servidor: Não, só a prova mesmo. Fiz quatro cursos.
Um dos sites que ofereciam cursos online e emitiam certificados de centenas de horas de aulas, mas que podiam ser cumpridos em poucos minutos. – Reprodução | TV Globo
Cursos eram concluídos em 13 minutos
Ainda durante as investigações, o MP se passou por um funcionário e sob um nome falso, ele se matriculou e concluiu dois cursos online em uma das escolas investigadas.
“O primeiro curso que eu fiz foi de 13 minutos, equivalente a 272 horas, e o outro curso foi de 260 horas. Entre a escolha do curso, a inscrição no curso e a finalização do curso com a prova, eu demorei 18 minutos”, conta.
Além dos cursos online, um esquema de confecção de certificados e carteirinhas de estudante falsos também foi descoberto.
Segundo o MP, de 2020 a 2023, os investigados ganharam mais de R$ 17 milhões com os cursos online. A suspeita é que, desse valor, cerca de R$ 4 milhões obtidos com venda de carteirinhas e certificados tenham sido lavados em uma fábrica de papéis, que pertence ao grupo.
O caso segue sendo investigado e todos os certificados e carteirinhas apreendidos serão encaminhados para o Ministério Público de cada estado. A defesa dos presos diz que as escolas não cometeram nenhum crime e responsabilizou os estudantes e as entidades que valorizam esses cursos para além do que representam.
“Quem deveria prestar explicações são os agentes públicos municipais que optaram por dar a estes cursos a validade que entenderam adequada e de ter consequências na remuneração dos seus servidores por causa disso”, disse o advogado Sérgio Leonardo.
O Ministério da Educação disse, em nota que “as pessoas interessadas em obter diplomas em cursos específicos devem consultar os canais oficiais para verificar se o curso é devidamente credenciado, para que o diploma expedido tenha validade”. O MEC afirma ainda que “a mesma orientação vale para prefeituras ou outros órgãos que utilizam os diplomas de seus funcionários para fins de progressão ou processo seletivo”.
A Secretaria de Educação de Minas Gerais também se manifestou em nota dizendo que “a educação não formal, de livre oferta, não requer credenciamento ou autorização para funcionamento, mas não pode emitir diplomas conferindo grau de escolaridade, nem dão direito ao prosseguimento de estudos ou habilitação profissional”.
A prefeita de Perolândia, Grete Balz, disse que vai suspender o pagamento das gratificações.
FONTE: ITATIAIA