Durante a 16ª Reunião Ordinária da Câmara Municipal de Mariana, realizada na segunda-feira (19), os pais da bebê B.E.S.C., de quatro meses, que faleceu após atendimentos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São Pedro, relataram publicamente as circunstâncias que antecederam a morte da filha. O caso levou à abertura de sindicâncias tanto pela Prefeitura quanto pela Câmara Municipal para apurar a conduta dos profissionais da saúde envolvidos no atendimento.
De acordo com a mãe, Beatriz Moreira, a bebê começou a apresentar sintomas após tomar a vacina de rotina no dia 6 de maio. Ela afirma que procurou várias vezes atendimento médico, mas que a gravidade do quadro não foi reconhecida. “Eu fui com ela uma vez na triagem da Cabana. Depois, eu fui com ela de novo mais uma vez na UPA”, contou. Em uma das consultas, segundo ela, a médica orientou apenas a lavar o nariz da criança com soro fisiológico, mas a unidade não forneceu seringa para o procedimento. “Falei: ‘Preciso de uma seringa para lavar o nariz da bebê’. Ela respondeu: ‘Mas eu não sei se você vai conseguir a seringa’.”
Sem conseguir o insumo na farmácia da unidade ou em farmácias próximas, a família retornou para casa. No sábado (10), a mãe afirma que voltou à policlínica e ouviu da médica que a criança não mamava por causa da obstrução nasal. Mesmo assim, a bebê foi novamente liberada para casa. O quadro clínico piorou, e a família levou a bebê para atendimento em Ouro Preto, onde ela recebeu atendimento, mas já em estado grave. A criança faleceu no domingo, dia 11 de maio.

A Prefeitura de Mariana instaurou, no dia 14 de maio, uma sindicância administrativa por meio da Portaria nº 05/2025 para conduzir a investigação da morte da bebê. O processo tem prazo inicial de 30 dias para conclusão, com possibilidade de prorrogação mediante justificativa. A Secretaria Municipal de Saúde também acionou o Comitê de Prevenção de Óbito Infantil, Fetal e Materno e informou estar em contato com o município de Ouro Preto, onde o óbito foi registrado, para obter a documentação necessária à continuidade da apuração técnica e administrativa.
No Legislativo, foi aprovado o Requerimento nº 80/2025, de autoria do vereador Marcelo Macedo (PSDB), que solicitou a inclusão da Comissão de Educação, Saúde, Assistência Social, Esportes, Lazer e Turismo da Câmara no processo investigativo. “Uma UPA, numa cidade rica como Mariana, não ter uma seringa? Não tem lógica. Se não tem seringa, está faltando muita coisa”, afirmou o vereador. Ele também mencionou outros relatos anteriores sobre falhas estruturais em unidades de saúde do município.

O presidente da Comissão, vereador Ítalo de Majelinha (PSB), afirmou que a investigação será feita com cautela. “Iremos ouvir todos os envolvidos e punir todos os responsáveis. Isso é muito sério. Após a conclusão da sindicância, aqueles que forem responsáveis têm que ser punidos”, declarou.
O vereador Maurício da Saúde (PSDB) destacou a importância de ouvir todos os lados e demonstrou preocupação com a falha no diagnóstico. “Nosso papel agora é ser mediador: ouvir os pais, ouvir os profissionais. Mas me preocupa que, mesmo após tantas idas ao atendimento, ninguém tenha conseguido visualizar a gravidade do quadro.”
A Comissão da Câmara deve realizar visita técnica à UPA São Pedro nos próximos dias. A Prefeitura, em nota oficial, manifestou pesar pela morte da criança e informou que está prestando apoio à família e acompanhando o processo investigativo.
- Galilé