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Duas facadas, uma escola, e a urgência de não apagarmos conquistas com um só golpe

Duas facadas. Uma discussão entre adolescentes. Uma escola pública. Uma comunidade inteira em silêncio, assistindo, uns chocados, outros prontos para o julgamento. O que aconteceu na noite de segunda-feira (2), nas imediações da Escola Estadual Geraldo Bittencourt, em Lafaiete, não é apenas um caso de violência juvenil. É um alerta. Um ponto de interrogação sobre a saúde emocional de nossos jovens, sobre os espaços de escuta que oferecemos, sobre o peso de um único episódio na reputação de uma instituição inteira.

Um estudante de 16 anos foi atacado por uma colega, da mesma idade, com golpes de faca após um desentendimento envolvendo um boicote coletivo às aulas, prática conhecida entre os alunos como “parede”. O rapaz, que decidiu seguir para a escola mesmo diante da pressão para se ausentar, foi surpreendido do lado de fora da instituição. Ferido, correu para o interior do prédio em busca de ajuda. Socorrido pela equipe do SAMU e levado ao Hospital e Maternidade São José, ele sobreviveu. A agressora fugiu e permanece foragida.

Mas o que esse episódio nos diz?

Não há resposta única. Violência entre adolescentes. Discussões virtuais que transbordam para o mundo real. Ofensas sobre aparência, sobre inteligência, sobre escolhas. O velho bullying com roupagens novas e consequências cada vez mais devastadoras. Falta de diálogo? Um mundo emocionalmente abalado no pós-pandemia? A ausência da educação no lar? Ou tudo isso junto?

A verdade é que há perguntas demais e acolhimento de menos. E no centro desse turbilhão está uma escola que, ironicamente, vinha sendo exemplo. A Escola Estadual Geraldo Bittencourt, ou simplesmente “GB” para os alunos, não é palco rotineiro de conflitos. Pelo contrário.

Nos últimos dez anos, a escola trilhou um caminho de reconstrução silenciosa, porém firme. Reformulou sua proposta pedagógica, formou professores, investiu em projetos de extensão, levou alunos a experiências acadêmicas fora do Brasil, promoveu ciência e cidadania.

É hoje é a instituição pública com o melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em Lafaiete. Tem destaque na Redação do Enem. Não à toa, estudantes da GB pisaram em Roma, Nova York, na Campus Party e em congressos nacionais de ciências.

Mas nenhum desses feitos apareceu nas manchetes. Engraçado, né?

Na segunda-feira, bastaram dois golpes, físicos, sim, mas também simbólicos, para colocar tudo isso em risco. A escola virou palco de escândalo. As redes sociais se incendiaram. Comentários apressados surgiram como se toda uma trajetória pudesse ser reduzida a um único episódio.

Quantas vezes já fizemos isso em Lafaiete? Quantas escolas, clubes, boates, bares, instituições e pessoas enterramos no ostracismo por eventos isolados? Qual é o limite entre a crítica justa e a demolição irresponsável da reputação de uma história?

A Geraldo Bittencourt não é uma escola perfeita. Nenhuma é. Mas é uma escola viva. De portas abertas. Que erra, acerta e tenta. E que, hoje, abriga centenas de estudantes que precisam mais do que nunca de estabilidade, confiança e apoio para continuar seus próprios caminhos.

O que ocorreu nesta semana deve ser investigado com seriedade. Os responsáveis devem ser ouvidos. As famílias, acolhidas. Mas seria um erro grave permitir que um ato isolado anule a força de um projeto que já transformou vidas. Que ainda transforma.

Portanto, antes de compartilhar um comentário maldoso, pense. E se, em vez disso, você ajudasse a equilibrar a balança? A escola tem um Instagram. Tem fotos, vídeos, registros de conquistas reais. Visite. Conheça. Comprove.

Talvez assim, em vez de apagarmos o nome da escola com tinta vermelha, possamos ampliá-lo com reconhecimento. Talvez assim, finalmente, sejamos capazes de separar o erro de uma jovem do legado de uma instituição inteira. E, quem sabe, evitar que a próxima facada corte não apenas a carne, mas também as raízes de um futuro que está sendo, dia a dia, construído ali dentro.

Por: Alexsandra Barbosa Gabriel- Jornalista.

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